Dólar supera R$ 3,30 e bate máxima do ano na véspera do Fed
A terça-feira de dólar forte em todo o mundo contaminou as operações no Brasil, onde a moeda americana não só superou a marca de R$ 3,30 como fechou no maior patamar do ano.
Ao término do pregão no interbancário, o dólar subiu 0,73%, a R$ 3,3079. É a mais alta cotação desde 28 de dezembro do ano passado (R$ 3,3135).
Com isso, a divisa reduziu a queda no ano para apenas 0,17%, enquanto ampliou a alta em março para 2,02%. No acumulado de segunda-feira e hoje, o real é a moeda que mais perde numa lista de 33 pares do dólar.
Analistas citam especialmente dois eventos para explicar a esticada do dólar aqui e no mundo. Amanhã o Federal Reserve (Fed, BC americano) poderá sinalizar quatro elevações de juros neste ano.
A probabilidade para esse cenário, embutida em contratos derivativos nos EUA, já subiu de 25% um mês atrás para 40% hoje. Ainda assim, sequer é uma aposta majoritária, o que dá ampla margem de ajuste caso o Fed deixe clara a intenção de subir os juros em quatro momentos ao longo do ano. E o fechamento desse "gap" é visto como um fator de alta para o dólar no período.
"A maior parte do espectro das moedas emergentes deve continuar sob pressão de venda", dizem em nota Hans Redeker e Gek Teng Khoo, estrategistas do Morgan Stanley.
Outro ponto que, segundo o operador de tesouraria de um grande banco nacional, pesou sobre o real hoje foi o acirramento do tom protecionista americano - desta vez em relação à China. De acordo com o "The Washington Post", o governo de Donald Trump planeja impor tarifas anuais de US$ 60 bilhões sobre produtos chineses.
Caso essa medida se confirme, é dada como certa uma retaliação chinesa. Além do efeito negativo decorrente de um estremecimento comercial entre as duas maiores potências econômicas do mundo, a preocupação é que reações de Pequim possam afetar as exportações de mercados emergentes ao gigante asiático. E isso ameaçaria um dos pilares do recente bom desempenho econômico de vários países em desenvolvimento.
"Acho que ainda podemos ver mais algum ajuste de posições em direção mais cautelosa [dólar mais forte] devido a essa questão", diz o profissional.
Tampouco ajudou a taxa de câmbio o "desencontro" entre magistrados do STF a respeito de reunião informal que ocorreria hoje para discussão da possibilidade de prisão de condenados em segunda instância. O tema ganha relevância porque influencia o cenário para o ex-presidente Lula - já condenado em segunda instância e que recorre para evitar ser preso.
Real mais forte até fim do ano?
Apesar de o dólar operar hoje acima de R$ 3,30, a maioria (57%) dos gestores consultados pelo BofA em pesquisa ainda espera que a moeda americana chegue ao fim deste ano no intervalo entre R$ 3,00 e R$ 3,20. Ou seja, os profissionais projetam que a taxa de câmbio se valorizará ante os patamares atuais (R$ 3,3079).
Uma porcentagem de 29% calcula que o dólar fechará o ano entre R$ 3,21 e R$ 3,40.
E um número praticamente igual acredita que a moeda americana ficará ou abaixo de R$ 3,00 ou entre R$ 3,41 e R$ 3,60 ao término de 2018.
Na pesquisa, pouquíssimos gestores (menos de 10% do total consultado) veem o real como o ativo de melhor desempenho no caso de um resultado eleitoral "positivo". A grande aposta nesse sentido é a bolsa de valores.
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