Tom negativo do exterior afeta Ibovespa; dólar ronda R$ 3,30
O tom negativo que se vê nos mercados internacionais limita a reação da bolsa brasileira à perspectiva de juros mais baixos. A preocupação com a postura protecionista do governo americano mantém investidores sob cautela e limita o apetite por risco no mundo, o que afeta também a bolsa local.
Embora o Brasil tenha sido excluído da lista dos países sujeitos à taxação da importação do aço pelos Estados Unidos, o que pesa sobre o mercado é o receio de que uma potencial guerra comercial entre EUA e China possa descarrilar a economia global. E, assim, interromper o crescimento sincronizado que explicou o forte rali que se viu nas bolsas no começo deste ano.
Essa questão acabou prevalecendo hoje sobre a decisão do Copom de ontem. A autoridade monetária deixou um claro sinal de que poderá cortar a Selic adicionalmente no encontro de maio, o que não estava no preço dos ativos. Essa indicação faz os juros futuros caírem com força e tem efeito positivo sobre o mercado de ações.
Às 13h22, o Ibovespa caía 0,26% para 84.760 pontos.
Também contribui para a cautela do mercado a expectativa pelo julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula, que acontecerá a partir das 14h.
Entre os destaques do dia, as blue chips operam em campo negativo: Petrobras PN (-1,22%), Vale ON (-0,89%) e Itaú Unibanco PN (-0,48%).
As siderúrgicas, que operavam em queda seguindo o exterior, mudaram de direção após a confirmação de que o aço do Brasil não será sobretaxado pelos Estados Unidos. CSN ON subia 2,82% e Usiminas PNA ganhava 3,21%. Gerdau PN ? a menos afetada pela medida dos Estados Unidos por ter produção no país - caía 1,63%.
Dólar
A quinta-feira dá novas provas de que a volatilidade retornou aos mercados de câmbio, inclusive ao brasileiro. Depois de subir quase 1% na terça-feira e cair 1,2% ontem, a moeda americana avança mais de 1% nesta quinta-feira, numa sessão em que a fuga de risco dá o tom no mundo.
O real é a segunda moeda que mais cai ante o dólar hoje, atrás apenas do won sul-coreano. A desvalorização de 1,4% da divisa coreana - incomum dado o seu padrão de menor volatilidade - reflete os crescentes temores de que uma potencial guerra comercial entre EUA e China possa descarrilar a economia global, cujo crescimento sincronizado tem sido nos últimos meses argumento para fluxos a mercados emergentes.
A moeda da Austrália - uma "proxy" da demanda por risco no mundo - cai quase 0,9%, enquanto o iene - ativo buscado em tempos de incerteza - salta às máximas desde o fim de 2016 ante o dólar.
Aqui, a moeda americana subia 0,82% às 13h40, para R$ 3,2951, voltando à faixa de R$ 3,30 depois de fechar ontem a R$ 3,2684.
No mercado futuro, o dólar para abril tinha alta de 0,72%, para R$ 3,2990.
Mas não apenas fatores externos pesam sobre o câmbio hoje. As atenções se voltam para o STF, que hoje julga se o ex-presidente Lula pode ou não ser preso estando já condenado em segunda instância pela Justiça Federal. O mercado observa com atenção porque recentemente houve forte embate entre ministros e resistência da presidente da Corte, Cármen Lúcia, para colocar o assunto em pauta.
Também é comentada a surpresa com o Banco Central, que ontem sinalizou a possibilidade de corte adicional dos juros, que ontem foram reduzidos a uma nova mínima recorde de 6,50% ao ano.
O efeito do juro baixo sobre a taxa de câmbio tem sido tema entre analistas. Embora sem consenso claro, profissionais concordam a Selic menor reduz o chamado custo do "hedge" - diferença entre o juro básico e a taxa do cupom cambial (medida do juro em dólar).
Com o "hedge" mais barato, há menos empecilho para investidores tomarem posições a favor do dólar como forma de proteção a seus portfólios ou mesmo como aposta direcional.
"Com a Selic agora tão baixa, o 'carry' do real é menos atrativo em relação a outras moedas emergentes. Então isso pode estar sendo um peso para a performance do real", diz o estrategista de câmbio de um banco em Nova York.
No entanto, analistas também avaliam que a dinâmica do câmbio tem estado bastante ligada às expectativas para as eleições domésticas e, principalmente, às mudanças na política monetária americana e agora ao risco de guerra comercial entre potências. Morgan Stanley, Goldman Sachs e BofA, por exemplo, ainda veem o real em boa posição, especialmente ante alguns pares latino-americanos.
Ontem, o Fed indicou menos altas de juros neste ano do que o esperado, o que levou o dólar à maior queda diária ante o real em duas semanas.
Juros
A forte queda das taxas de DI e a onda de revisões nos cenários analíticos deixam claro que o mercado não esperava os novos sinais do Copom para a Selic. Mais que uma brecha, o colegiado abriu a porta para um corte adicional da taxa em maio, revertendo a aposta de que o ciclo seria encerrado nesta semana.
A taxa projetada pelo DI para julho de 2018 - que agrupa apostas para as decisões do Copom no primeiro semestre (maio e junho) - cai 9 pontos-base, para 6,300%. O ativo concentra mais de 20% de toda a liquidez do mercado de DI nesta quinta-feira.
ODI janeiro de 2019 recuou até 6,240% na mínima do dia. A baixa era de 21,5 pontos-base e marcava a queda mais intensa para uma única sessão desde que cedeu 2,90 pontos em 27 de julho de 2017. A comparação leva em conta os valores de fechamentos. A taxa estava em 6,255%
O DI janeiro de 2020, com movimento também intenso, cedia 23 pontos-base, para 7,160%.
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