Dólar tem alívio no dia, mas sobe quase 5% no mês
O dólar teve apenas queda moderada nesta sexta-feira, mas suficiente para ser a mais intensa em quase dez dias, uma vez que a moeda americana praticamente só subiu nos últimos pregões. O mercado passará por novo teste na semana que vem, quando haverá decisão de juros nos EUA, dados de inflação americana e "payroll".
O alívio de hoje (-0,39%) e de ontem (-0,22%) nem de longe lembra a turbulência de segunda, terça e quarta-feira, quando a cotação chegou a acumular alta semanal de 10 centavos de real (+3,08%) ao bater R$ 3,5156, máxima em quase dois anos.
A pressão cambial foi tamanha que levou o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, a reiterar "aviso" de que a autoridade monetária pode atuar para conter desvalorização excessiva. Em entrevista exclusiva ao Valor, Ilan afirmou que não permitiria dinâmica "perversa" no câmbio e que o estoque de swaps cambiais segue em patamar "confortável".
Nesta sexta, a autoridade monetária concluiu a rolagem dos US$ 2,6 bilhões nesses contratos que expirariam em maio. Foi o sétimo mês consecutivo de rolagem integral e o 11º em que o BC não faz oferta líquida ao mercado.
Para analistas, apesar da forte e rápida alta do dólar, o movimento tem sido condizente com uma mudança de perspectiva para algumas variáveis que compõem os fundamentos do câmbio. O grande destaque entre as menções é a queda dos diferenciais de juros a mínimas recordes. Incerteza política doméstica, "yields" mais altos nos EUA e dúvidas sobre o crescimento global também entram na conta.
Por outro lado, a demanda por "hedge" no mercado de derivativos - também apontada como um dos alimentadores da desvalorização cambial - tem sido atendida mesmo sem o BC fazer novas ofertas de swaps. E as taxas de cupom cambial - medida do custo do dólar no mercado "onshore" - até se elevaram, mas continuam em patamares historicamente baixos, o que indica um mercado fluido e sem disfuncionalidades.
Grandes casas, como BofA, Morgan Stanley, Bradesco e Itaú Unibanco, ainda veem dólar mais próximo de R$ 3,30 do que de R$ 3,50. E, a despeito da visível "underperformance" do real nas últimas semanas, uma boa parte dos analistas cita a boa situação das contas externas e a expectativa de crescimento das economias global e doméstica como contraponto à queda dos diferenciais de juros a mínimas históricas.
"Estamos neutros em real, mas achamos que a moeda está excessivamente fraca em relação a seus pares emergentes", dizem estrategistas do BofA em nota. O banco considera que os fundos de investimento em bônus emergentes mantinham até março posições em real acima do "benchmark". E que o desmonte de parte dessas posições pode ter intensificado a desvalorização cambial de abril.
Alta global do dólar
Ao longo desta semana, o real perdeu 1,50%. Mas, diferentemente das semanas anteriores, a moeda brasileira conseguiu se manter distante da lista de maiores quedas.
O câmbio doméstico foi engolfado por um movimento global de ganhos do dólar, em meio ao salto dos "yields" dos Treasuries de dez anos acima dos 3%, o que não acontecia desde janeiro de 2014. Coroa sueca (-2,45%), rand sul-africano (-2,22%), zloty polonês (-2,12%) e florim húngaro (-1,98%) lideram a lista de baixas.
No fechamento desta sexta-feira, a cotação cedeu 0,39%, a R$ 3,4626. Mesmo na máxima (R$ 3,4807), conseguiu se manter abaixo da marca de R$ 3,50. Na mínima, foi a R$ 3,4561.
Ontem, a moeda já havia cedido 0,22%. Nada, porém, que tenha impedido forte alta na semana (+1,52%), que elevou os ganhos em abril para 4,82%.
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