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Japonês "Shoplifters" recebe a Palma de Ouro em Cannes

19/05/2018 17h48

Desde que Cate Blanchett foi vista com uma lágrima escorrendo pelo rosto, ao final da sessão de "Capharnaüm", o drama libanês sobre crianças de rua em Beirute disparou como o favorito à Palma de Ouro. A sensibilidade de Cate, a presidente do júri desta 71a edição do Festival de Cinema de Cannes, deu a entender que esta noite seria lembrada como a "Palma do Coração", como a estatueta já tinha sido apelidada nos últimos dias.

E foi - ainda que o vencedor da Palma tenha sido o título japonês "Shoplifters", outro drama de grande impacto emocional.

Com a vantagem de o cineasta Hirokazu Kore-Eda apresentar aqui a dura realidade de uma criança, com mais simplicidade e refinamento. Ele não tenta manipular os sentimentos do espectador, como acontece por vezes em "Capharnaüm", o filme da libanesa Nadine Labaki, que recebeu hoje uma distinção menor no encerramento de Cannes, o Prêmio do Júri.

"Shoplifters" reconfirma a sutileza magistral de Kore-eda, conhecido pela sensibilidade com que tece as relações familiares do Japão contemporâneo. Sempre com narrativas desenvolvidas delicadamente e com personagens que dizem mais com olhares e silêncios do que com palavras, sua marca registrada. Desta vez, a câmera do diretor nascido em Nerima, bairro do subúrbio da capital japonesa, segue uma família de ladrões que acolhe uma garota maltratada pelos pais. Quando a plateia começa a se render diante daquele núcleo familiar postiço (ligados por diversas razões, menos sangue), uma reviravolta a deixará desconcertada.

Com distribuição garantida no Brasil pela Imovision (mas ainda sem data de lançamento), "Shoplifters" foi o sétimo trabalho que Kore-eda apresentou em Cannes. O cineasta já tinha conquistado o Prêmio do Júri e uma menção especial do Júri Ecumênico com "Pais e Filhos" (2013), um drama sobre duas famílias que descobrem a troca dos filhos quando as crianças já estão crescidas. Este filme teve seus direitos adquiridos por Steven Spielberg, que foi o presidente do júri na ocasião. Atualmente a produtora de Spielberg desenvolve um projeto de refilmagem de "Pais e Filhos" ambientado nos EUA.

Também foram lembrados pelo júri desta edição de Cannes a sátira "Blackkklansman", de Spike Lee, vencedora do Grande Prêmio, e o drama "Cold War", que deu ao polonês Pawel Pawlikowski a estatueta de melhor direção. Coube a "Dogman", do cineasta italiano Matteo Garrone, o prêmio de melhor ator, entregue a Marcello Fonte. A russa Samal Yeslyamova foi eleita a melhor atriz da seleção oficial, por "Aika", assinado por Sergey Dvortsevoy.

Houve ainda um prêmio inédito, intitulado Palma de Ouro especial, concedido ao franco-suíço Jean-Luc Godard, por "Le Livre d'Image". O troféu de melhor roteiro foi dividido entre os filmes "Lazzaro Felice", da italiana Alice Rohrwacher, e "3 Faces", do iraniano Jafar Panahi. O cineasta que vive em Teerã não conseguiu participar do festival este ano, por estar proibido pelas autoridades de seu país, desde 2010, de trabalhar, de dar entrevistas e de viajar.

Da mostra Un Certain Regard, encerrada ontem, uma coprodução entre Brasil e Portugal levou o Prêmio Especial do Júri ? presidido pelo ator porto-riquenho Benicio Del Toro. "Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos", dirigido pela paulista Renée Nader Messora e pelo lisboeta João Salaviza, registra o cotidiano da aldeia dos índios Krahô, chamada Pedra Branca, no Tocantins.