Dólar e juros operam em alta e Petrobras derruba Ibovespa
A forte queda nas ações da Petrobras arrasta o Ibovespa para a faixa de 79 mil pontos, num dia marcado pelas dúvidas do mercado quanto ao nível de independência que as empresas estatais possuem em relação ao governo, o que também afeta diretamente os papéis de Eletrobras e Banco do Brasil.
Por volta de 13h45, o Ibovespa operava em queda de 1,84%, aos 79.381 pontos, após atingir a mínima aos 79.027 pontos (-2,28%). Além do recuo expressivo, chama a atenção o giro financeiro do índice, que já soma R$ 7,4 bilhões ? caso esse ritmo de negociações seja mantido, o volume movimentado ao fim do pregão ficará acima dos R$ 16 bilhões.
Petrobras PN recua 14,1%, a R$ 29,99, enquanto Petrobras ON cai 14,3%, a R$ 23,33. Juntos, os papéis possuem giro de cerca de R$ 3,4 bilhões, o que corresponde a 46% do volume negociado do Ibovespa.
A forte queda, combinada ao alto giro financeiro, indica uma redução massiva na exposição às ações da Petrobras, com os investidores deixando os papéis e procurando alternativas com menos risco. O anúncio de corte no preço do diesel gerou a leitura de que a empresa está sujeita a pressões do governo, variável que não era mais considerada pelo mercado.
A saída dos investidores é corroborada pelas análises de bancos, que, em sua maioria, se mostraram preocupados com a possibilidade de mudança na política de preços da estatal ? o Credit Suisse cortou a recomendação para as ações da empresa, de compra para neutra.
Nesse contexto de forte incerteza, a Petrobras convocou uma teleconferência com investidores e analistas para hoje, às 14h30. O tema não foi informado, mas o evento contará com o presidente da empresa, Pedro Parente.
O sentimento de que pressões externas podem fazer com que o governo diminua a autonomia da Petrobras e interfira em suas decisões de preço contamina outras estatais do Ibovespa: Eletrobras PNB (-7,2%), Eletrobras ON (-3,82%) e Banco do Brasil ON (-3,3%) aparecem entre as maiores quedas do índice.
"O evento [da Petrobras] pode indicar que as estatais não têm uma governança totalmente independente. É uma sinalização ruim ao mercado", diz um gestor que prefere não ser identificado. Os papéis da Eletrobras são especialmente penalizados desde ontem, quando o governo confirmou que não votará a MP 814, que permitia a continuidade do processo de privatização da empresa.
Na ponta positiva, destaque para BRF ON (+6,26%), em meio a rumores de que o desgaste gerado pela crise dos combustíveis poderá fazer com que Pedro Parente deixe a estatal para assumir a presidência da companhia ? ele já ocupa a função de presidente do conselho da BRF.
Além dela, destaque para Braskem PNA (+4,66%) ? reagindo à notícia, publicada pelo Valor, de interesse da holandesa LyondellBasell pelo controle da companhia ?, Suzano ON (+7,2%) e Cielo ON (+3,6%).
Dólar
Após três dias de queda, o dólar retoma alta e avança para R$ 3,64. Ontem, a moeda chegou a tocar R$ 3,6181, mas mesmo na cotação de hoje segue bem abaixo dos picos perto de R$ 3,78 alcançados na semana passada.
Parte desse movimento está ligado ao exterior. Lá fora, o dólar recupera terreno frente a algumas divisas emergentes, após dias de alívio - especialmente ontem, quando o Federal Reserve (Fed, BC americano) sinalizou não ter pressa para apertar de forma agressiva a política monetária.
Mas, segundo analistas, são os ruídos gerados pela decisão da Petrobras de baixar os preços do diesel que afetam o câmbio hoje.
A análise feita nas mesas de operação é que a estatal foi alvo de ingerência política, a que a política de preços adotada em julho do ano passado - quando a empresa passou a reajustar preços de combustíveis quase diariamente para se adequar às flutuações dos preços do petróleo no mercado internacional - prometida dar fim.
"Foi um duro golpe na confiança de que esse governo não repetiria erros do passado", diz o profissional de uma corretora bastante ativa em derivativos na B3, destacando que a decisão de ceder às pressões dos caminhoneiros - paralisados há quatro dias - deixou o governo ainda mais fraco politicamente, o que piora o cenário para qualquer discussão sobre reformas econômicas.
Os efeitos se estendem a todos os mercados domésticos. Os juros negociados na B3 têm forte alta, e as ações preferenciais da Petrobras sofrem um tombo de 14,5%.
Às 13h45, o dólar comercial subia 0,41%, a R$ 3,6396. O dólar para junho tinha alta de 0,44%, a R$ 3,6406.
"Considerando a oferta de swap do BC, o dólar deveria estar pelo menos estável. Mas as notícias da Petrobras estão pesando", diz o profissional.
O Banco Central vendeu todos os 4.225 contratos de swap cambial ofertados nesta quinta-feira em operação de rolagem do vencimento junho. E também colocou todos os 15 mil contratos de swap cambial disponibilizados em oferta líquida - ou seja, dinheiro "novo" - no mercado futuro.
O BC retomou as vendas líquidas de swap neste mês devido à pressão de alta do dólar, que flertou com R$ 3,80 na semana passada, depois de em janeiro ter chegado a operar na casa de R$ 3,12.
Com as vendas líquidas de swap cambial, o BC já colocou no mercado um total de US$ 4,25 bilhões em recursos "novos" neste mês. Até o fim de maio, esse montante deve alcançar US$ 6,5 bilhões.
Se confirmada, será a maior injeção de dólares no mercado desde maio do ano passado, quando o BC colocou US$ 10 bilhões por causa da volatilidade gerada após as delações de executivos da JBS.
Juros
Os juros futuros registram firme alta na sessão desta quinta-feira, enquanto a crise dos combustíveis eleva preocupações sobre a situação política e fiscal. O efeito é mais acentuado nas taxas de longo prazo, mais suscetíveis a riscos estruturais.
ODI janeiro/2023 voltava a bater os dois dígitos e subia 10,110% (9,990% no ajuste anterior).Já o DI janeiro/2025 avançava a 10,680% (10,530% no ajuste anterior).
Entre taxas curtas e intermediárias, o DI janeiro/2019 avançava a 6,635% (6,595% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2020 tinha alta a 7,520% (7,440% no ajuste anterior); o DI janeiro/2021 subia a 8,670% (8,580% no ajuste anterior).
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