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Mercado desafia BC e aproxima dólar de R$ 4

07/06/2018 09h41

(Atualizada às 13h25)O dólar mantém o forte ímpeto de alta e já deixou para trás a cotação de R$ 3,90, que rondou durante toda a manhã. Às 13h25, a moeda americana subia 2,42%, a R$ 3,9299. Na máxima, chegou a R$ 3,9474. Esse é o maior nível intradia desde 1 de março de 2016, quando tocou R$ 4,0181.

O movimento de alta pode ser uma indicação de que o patamar de R$ 4,00 pode ser apenas questão de tempo. A deterioração acentuada afeta todos os mercados brasileiros, com juros em nova disparada e o Ibovespa caindo mais de 3%.

A pressão é tamanha que o real ultrapassou a lira turca e se tornou a segunda moeda de pior desempenho neste ano. Enquanto a moeda brasileira cai 15,66% no período, a turca recua 15,35%.

Os picos do dia têm sido renovados sucessivamente, em meio a uma crescente desconfiança sobre o rumo da política econômica após as eleições.

A disparada ocorre a despeito das intervenções do Banco Central (BC). No leilão rotineiro de contratos de swap cambial, a autoridade monetária vendeu o lote integral (15 mil contratos, equivalentes a US$ 750 milhões), e realizou uma oferta extraordinária de mais 40 mil contratos (correspondentes a US$ 2 bilhões), também vendidos integralmente. Com os leilões, o BC colocou no mercado um total de US$ 2,75 bilhões em dinheiro "novo", maior intervenção do BC desde 18 de maio de 2017, quando, em quatro leilões de swap, foram injetados no mercado um total de US$ 4 bilhões.

Embora nos últimos dias as atuações tenham atraído algumas críticas, há uma ala do mercado segundo a qual "não há muito mais" que o BC possa fazer, já que o momento é de reprecificação global de ativos de risco.

"O BC precisa dar saída quando for preciso. Mas isso não quer dizer impedir a alta do dólar. O movimento é global, e aqui temos nossas fragilidades", diz o gestor de um fundo em São Paulo.

Ainda assim, há teses entre investidores de que o patamar perto de R$ 4 pode não representar o fim da desvalorização do real. "O risco ao longo dos próximos seis meses é que o resultado das eleições de outubro provoque outra explosão no dólar", diz em nota Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da consultoria Capital Economics.

Para ele, diferentemente de 2015, quando o dólar disparou ao recorde de quase R$ 4,25, o mercado entendia que o sucessor de Dilma Rousseff após o impeachment, Michel Temer, perseguiria uma agenda econômica mais amigável ao mercado. E isso provavelmente deu suporte ao real nos meses seguintes. "Mas desta vez não há nenhum alento nesse sentido", alerta.

Juros

Os juros de curto prazo revivem um dos seus piores dias em mais de um ano. A nova onda de turbulência leva as taxas futuras a tocarem os limites diários permitidos na B3. O DI janeiro de 2019 chegou a tocar, na máxima do dia, o "teto" de 7,575% quando saltava 42,5 pontos-base ante o fechamento passado ou 60 pontos-base ante o ajuste anterior.

A última vez que isso ocorreu foi maio de 2017 quando foram divulgadas as delações de executivos da JBS, que colocaram em dúvida a continuidade do governo Temer.

Desta vez, o mercado é severamente castigado pela disparada do dólar, que pega os investidores num momento de dúvidas sobre a trajetória da Selic. Profissionais de mercado acreditam que o Banco Central pode ser forçado a elevar juros já na próxima decisão de juros, em 20 de junho, numa tentativa de conter a volatilidade nos mercados, principalmente no câmbio.

O nervosismo dos investidores, inclusive, enfrenta o discurso de dirigentes do Banco Central de poderia manter juros baixos por mais tempo. Caso uma elevação ocorra, a estabilidade da Selic a 6,5% terá durado apenas quatro meses, já que o último corte foi em fevereiro. Nesse meio tempo, investidores foram surpreendidos pela decisão do BC em maio, quando a taxa foi mantida no patamar atual, abrindo espaço para questionamentos sobre a comunicação da autoridade monetária.

As incertezas políticas, com a falta de compromisso de candidatos presidenciais à agenda de reformas, criam o pano de fundo desse quadro mais sombrio para o mercado.

ODI janeiro/2019 estava em 7,575% (6,975% no ajuste anterior);o DI janeiro/2020 subia a 8,790% (8,060% no ajuste anterior);o DI janeiro/2021 avançava a 9,730% (9,230% no ajuste anterior);DI janeiro/2023 tinha 11,440% (11,110% no ajuste anterior);DI janeiro/2025 avança a 12,200% (11,970% no ajuste anterior);DI janeiro/2027 subia a 12,630% (12,500% no ajuste anterior);DI janeiro/2029 subia a 12,900% (12,810% no ajuste anterior).