Airis do Nascimento tinha acabado de chegar em casa quando atendeu a reportagem do UOL. Era noite de terça-feira, 15 de dezembro, e ela havia trabalhado nove horas seguidas como "faz-tudo" em uma lanchonete na periferia de São Bernardo do Campo (SP), onde vive. É com os R$ 320 por mês que fatura no bico às segundas e terças-feiras que ela se prepara para iniciar o ano de 2021 sem receber o auxílio emergencial.
Aos 48 anos, Airis, que é costureira, lava louças, atende clientes e prepara lanches no estabelecimento que tem recebido poucas pessoas na pandemia. No início do surto de coronavírus, foi demitida ainda no período de experiência como auxiliar de limpeza. Ela usa o dinheiro do trabalho temporário para complementar os R$ 600 que recebe do governo por ser mãe-solo. Airis mora com dois de seus seis filhos, além de três netos.
Depois de receber a primeira parcela, que era de R$ 1.200 antes do corte, estabeleceu duas prioridades: pagar a antepenúltima parcela da residência e fazer compras no supermercado.
"Quando veio o pagamento, eu tinha meio pacote de feijão, um quilo de sal e um pouco de óleo", afirmou ao UOL. Mesmo com a casa quitada, as preocupações com dinheiro são constantes.
Se "sobrar algum dinheiro", Airis pretende tirar a poeira da máquina de costura a partir de janeiro. Hoje, seus gastos mensais chegam a R$ 900. "Vou comprar material para fazer aventais e toucas, vou ter que investir em costura de novo", disse.
Mas ela ainda tem esperança de que o auxílio emergencial seja prorrogado. "Imagino que o governo possa rever [o benefício] para pessoas que têm extrema necessidade. Eu sou sozinha, tenho meus filhos e pago todas as despesas de casa. Se reduzir mais os gastos, passo fome."
O governo tem dito que não haverá prorrogação do benefício.