Alimentos imunes à crise

Busca por comida saudável e novos mercados fazem exportação de frutas crescer mesmo na pandemia

Vinicius Galera Colaboração para o UOL, de São Paulo Divulgação/Abrafrutas

Quando o ano de 2020 acabou, a fruticultura brasileira constatou que as exportações subiram 6% em volume e 3% em rentabilidade, de acordo com dados do sistema Agrostat, do Ministério da Agricultura. No total, foi embarcado 1,02 milhão de toneladas, com renda de US$ 875 milhões de dólares. Foi uma surpresa.

Para 2021, há estimativas de mais crescimento: vendas de US$ 1 bilhão, com volume de 1,17 milhão de toneladas.

"Em nenhum momento a pandemia afetou diretamente o setor de frutas", diz o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frutas (Abrafrutas), Guilherme Coelho. A associação tem hoje 82 membros que representam aproximadamente 70% de toda a fruta exportada pelo Brasil.

Guilherme explica que apenas cerca de 8% do volume de frutas exportadas saem do país por via aérea. Nesse caso, os produtos são embarcados nos porões de aviões de passageiros. Com o fechamento do espaço aéreo de diversos países, os produtos que deixaram de ir para seus destinos acabaram sendo direcionados para o mercado interno.

Todo o restante (92%) seguiu tranquilamente seu caminho por navios para os portos dos países compradores.

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Guilherme Coelho, da Abrafrutas

Mais crescimento neste ano

A tendência de crescimento verificada no ano passado deve continuar neste ano. "Tivemos uma informação fantástica no primeiro quadrimestre", diz o executivo da Abrafrutas. Com a reabertura dos principais mercados, bastante avançados em termos de vacinação, Guilherme Coelho afirma que, entre janeiro e abril, o setor cresceu 22% em volume de exportação. Em dólares, subiu 32%.

Ele diz que o cenário é favorável devido à conscientização do consumidor, que demanda cada vez mais uma alimentação saudável. "Não tem nada mais saudável do que fruta", diz.

Além das vitaminas e sais minerais, ele diz que a vantagem do produto é que há disponibilidade em todas as cores, formatos e para todos os paladares. Com o processamento, hoje ficou fácil de consumir, carregar e armazenar os produtos.

"Quando você olha pelo aspecto culinário, então, o consumo é ilimitado. Some-se a isso o fato de a fruta ser consumida por bebês até cidadãos de 90 anos."

Segundo o executivo, o forte da exportação da fruticultura é o último semestre do ano. Por isso, ele se diz animado e acredita que, neste ano, o setor possa bater o recorde e chegar a US$ 1 bilhão em frutas exportadas.

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Cachos de uva

Fruticultura é um dos setores que mais empregam

O setor da fruticultura é um dos que mais empregam no agronegócio. Diferentemente das fazendas de grãos, onde poucos trabalhadores operam máquinas que fazem o trabalho de diversos homens, na fruticultura a colheita é praticamente toda manual.

Segundo a Abrafrutas, o Brasil tem 2 milhões e 500 mil hectares de frutas plantados. Trabalhando nessa extensão existem 5 milhões de pessoas principalmente na fase de colheita.

De acordo com o presidente da associação, Guilherme Coelho, não foi difícil conscientizar os trabalhadores sobre os novos protocolos trazidos pela Covid-19, uma vez que eles já estão acostumados aos equipamentos de proteção individual (EPIs) que usam regularmente.

Como os trabalhadores já têm consciência e treinamento para cumprir protocolos que atendem as necessidades de certificação internacional, ficou fácil implantar medidas como uso de máscara e distanciamento. Além disso, outra vantagem é que a maior parte do trabalho é feita ao ar livre.

"Nossa mão de obra é muito grande, especialmente no Nordeste", afirma o executivo. Ele explica que, na região de Petrolina, no vale do São Francisco, os índices sociais não são tão bons. "Aqui, a agricultura chega para gerar emprego e renda. Além do mais, ela é democrática na distribuição do trabalho mulher e homem, pois a mulher colhe melhor e isso complementa o salário das famílias."

Wenderson Araújo/Divulgação

Nordeste é o principal polo produtivo

O Nordeste é considerado o principal polo de produção de frutas do tipo exportação do país. Alguns dos principais produtos como manga e melão, são produzidos na região. O Estado de São Paulo é o grande produtor de laranja. Além desses itens, o Brasil também exporta muita maçã, avocado e uvas.

Para se ter uma ideia, por volta de 90% de toda a uva e 92% de toda a manga exportados pelo Brasil saem de Petrolina, PE. O grosso dos embarques, 70%, vai para o Mercado Comum Europeu. 15% vão para os Estados Unidos, 10% para a Grã-Bretanha e os 5% restantes para destinos diversos.

Agora, além do possível recorde de exportação, o setor também está comemorando a abertura do mercado chinês para o melão brasileiro. A autorização saiu em setembro do ano passado, depois de uma negociação de sete anos. Guilherme diz que os primeiros embarques foram realizados em abril. "Estamos em um momento de promoção", diz.

Ele diz que ainda não é possível calcular a dimensão do novo mercado na produção, mas certamente será positivo. Agora, a Abrafrutas estuda a exportação de uvas para o gigante asiático.

Divulgação/Abrafrutas

Exportações de maçãs estão bombando

Além do melão, outra conquista recente da fruticultura brasileira foi a liberação de exportação de maçãs para a Colômbia. Há cerca de uma semana foi feito o primeiro embarque para o país vizinho.

O diretor da agropecuária Schio Ltda, que produz maçãs para os mercados interno e externo em Vacaria, no Rio Grande do Sul, diz que a abertura do mercado colombiano vai aumentar a janela de exportação do Brasil.

"Antes, os embarques iam até junho, mas a Colômbia demanda maçã importada nos 12 meses do ano. Num curto espaço, a janela um pouco maior pode ajudar o Brasil a aumentar as exportações". Segundo Francisco, que também é diretor da Abrafrutas, os colombianos consomem 100 mil toneladas de maçãs por ano.

Em 2021, os embarques de maçã do Brasil aumentaram mais de 100% em relação ao ano passado, quando uma seca muito severa afetou o desenvolvimento das árvores e o tamanho dos frutos. A quebra foi de 30%, segundo Francisco.

Agora, a situação é bem diferente. O produtor atribui o crescimento às boas condições climáticas da safra e ao consumo saudável. "Como todas as frutas, houve um crescimento no consumo por ser um produto saudável e rico em vitaminas, que é o que o pessoal está procurando", diz. Segundo ele o câmbio favorável também ajudou bastante, pois torna a fruta brasileira mais competitiva no mercado internacional.

Neste ano a agropecuária vai processar 230 mil toneladas de maçã. A maioria fica no mercado interno. Apenas 30% são exportados para mais de vinte países. Índia, Bangladesh e Rússia consomem cerca de 80% por cento da produção dos tipos gala e fuji.

Falta de contêineres dificulta exportação

Mesmo com tanta boa notícia, o desempenho do setor poderia ser ainda melhor não fosse a falta de contêineres para os embarques. Por se tratar de um produto delicado, as frutas in natura são embarcadas em navios em contêineres específicos chamados reefer.

Climatizados, esses contêineres são uma espécie de carreta frigorífica também utilizados para embarcar carne. Como a proteína tem mais valor, acaba suportando o aumento do custo logístico e sendo priorizada.

Francisco Schio explica que a exportação já é um sucesso, mas poderia ser maior com mais disponibilidade do vagão. "Esse, hoje, é nosso único gargalo. O volume de exportação está bem maior do que o projetado, mas as companhias de navegação não estimavam um crescimento tão grande e tanta demanda pelo contêneir."

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