Campo em busca de conexão

Primeira antena de 5G no campo foi instalada no começo deste mês; só 23% de áreas rurais têm internet

Vinicius Galera Colaboração para o UOL, de São Paulo John Deere/Divulgação

A expansão da conectividade no campo poderia trazer mais R$ 100 bilhões para o valor de produção agrícola no Brasil até 2026. É o que diz um estudo realizado pela Esalq/USP. Hoje, apenas 23% da área rural brasileira é coberta por sinal de internet.

A baixa porcentagem pode colocar em risco populações rurais e afetar os negócios de pequenos produtores. Nas grandes propriedades, com produção extremamente sofisticada, as tecnologias se tornaram cada vez mais conectadas.

O agro foi um dos setores mais beneficiados com as novas tecnologias digitais, Há máquinas como pulverizadoras ou colheitadeiras conectadas à internet. Mas, em muitos casos, as inovações disponíveis para o campo não podem ser utilizadas em sua plenitude por problemas de conexão.

Empresas privadas de maquinário agrícola estão se associando a produtores e companhias de telefonia para ampliar o alcance do sinal nas áreas rurais. Neste mês, foi instalada a primeira antena de 5G no campo -tecnologia considerada essencial para a competitividade do agronegócio no mundo.

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Diretor de Soluções Corporativas da TIM, Paulo Humberto Gouvea

Primeira antena de 5G no campo

No dia 11 deste mês, foi inaugurada na cidade de Rondonópolis, em Mato Grosso, a primeira antena 5G do Brasil em funcionamento no campo (a segunda de todo o país).

O projeto experimental pretende dar uma dimensão do que vai significar a conexão que permite maior transmissão de dados com muito mais velocidade.

A torre foi instalada pela TIM em parceria com a Nokia e a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Ampa). A região foi escolhida porque concentra muita tecnologia e pode demonstrar como elas podem ser eficientes quando funcionam em condição ideal.

O produtor Alexandre Schenkel, ex-presidente e atual consultor da associação, diz que a expectativa é ter acesso a uma conexão de qualidade e rapidez que acompanhe a evolução vivida no campo.

"Hoje, com tecnologia em genética, eficiência na produção de alimentos, fibras e proteínas, nós precisamos ter velocidade na conectividade e na transmissão de dados. Nós trabalhamos tanto para desenvolver a produção agrícola e pecuária, mas não temos acesso a uma tecnologia capaz de transmitir a velocidade e a robustez da produção", diz Schenkel.

O diretor de Soluções Corporativas da TIM, Paulo Humberto Gouvea, afirma que a versão do 5G de Rondonóplis é considerada a mais atualizada que existe.

A utilização pelos produtores de algodão poderá mostrar a eficiência de uma tecnologia que, quando estiver disponível para todo o país, deverá mudar a cara do setor produtivo nos próximos anos, não apenas o agrícola. "O 5G será um diferencial tecnológico na concorrência entre países", diz.

AGCO
Máquina agrícola plantadeira Momentum, da Massey Ferguson (marca que pertence ao grupo AGCO)

Expansão da internet pode trazer mais R$ 100 bi para a produção

O secretário-adjunto de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Cléber Soares, diz que o piloto mato-grossense vai demonstrar como o modelo de 5G de conectividade pura suporta alta carga de tráfegos.

"Isso promoverá não só o trânsito de dados, mas também o incremento da produtividade, dos tratos culturais [cuidados com a lavoura, como adubação e irrigação] e do manejo. O 5G contribuirá para um novo paradigma no campo".

É isso o que demonstra o estudo "Cenários e perspectivas da conectividade para o agro", realizado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e divulgado na semana passada pelo Mapa e pelo Ministério das Comunicações.

Segundo a pesquisa, o Brasil poderia ampliar o Valor da Produção Agrícola (VPB) em até R$ 100 bilhões até 2026 com o aumento da atual área de cobertura com sinal de internet móvel.

O estudo considerou dois cenários diferentes, com sinais de 2G, 3G e 4G. No primeiro cenário, com a modernização das 4.400 torres de telefonia celular hoje instaladas e a ampliação para 48% da área rural com conexão à internet, o Valor Bruto da Produção (VPB) — atualmente em R$ 1,06 trilhão — poderia ter um incremento de R$ 47,56 bilhões.

Em outro cenário, com a instalação de 15.182 novas torres e a ampliação do sinal para 90% da área, o país teria um aumento de R$ 101,47 bilhões no VPB.

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Presidente da Conectar AGRO, Gregory Riordan

Internet com a mesma qualidade dos grandes centros

O gargalo da conectividade no campo se tornou mais evidente com a agricultura 4.0. Hoje, as máquinas têm tecnologias que coletam dados das fazendas e são enviados a uma central de processamento. Isso dá mais eficiência e permite tomada de decisão rápida e correta pelo produtor.

O projeto Conectar Agro tenta resolver isso. O plano reúne oito empresas privadas: as fabricantes de máquinas AGCO, CNH Industrial e Jacto, as empresas de telecomunicações Nokia e TIM, e as empresas de tecnologia Climate FieldView, Solinftec e Trimble.

"Fizemos uma análise e chegamos à conclusão de que a tecnologia 4G 700 MHz, a mesma utilizada na cidade, seria a mais adequada para as necessidades do produtor, das mais básicas às mais complexas", afirma o presidente da Conectar AGRO, Gregory Riordan. O objetivo é uma conexão prática e economicamente rentável.

A ConectarAgro diz que, desde que foi lançada, em 2019, já levou a banda larga 4G para mais de 6 milhões de hectares de todo o país, atingindo mais de 600 mil pessoas. Segundo a associação, mais da metade das propriedades da área de cobertura tem até 100 hectares.

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Rodrigo Bonato, diretor do grupo de Soluções Inteligentes para América Latina

Antenas sem custo para os produtores

A Claro e a John Deere, outro grande fabricante de máquinas agrícolas do mercado brasileiro, também criaram uma parceria que prevê investimentos em infraestrutura e de telecomunicações para levar a conectividade ao campo.

Lançado em janeiro, o projeto, chamado Campo Conectado, prevê a instalação de antenas em áreas rurais brasileiras sem custo para os produtores.

O diretor do grupo de Soluções Inteligentes para América Latina, Rodrigo Bonato, diz que o custo da instalação ficará com a operadora e não será repassado ao produtor.

Até este momento, segundo Bonato, o projeto conta com 50 mil hectares conectados com novas antenas no campo e tem 7 milhões de hectares sendo conectados.

"Nós acreditamos que com isso nossa tecnologia será democratizada. Não adianta ter tanta tecnologia, e o produtor não ter acesso."

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