Ela tinha apenas 22 anos. Em 2002, a paulistana Carmen Perez deixou a metrópole onde nasceu e foi administrar a Fazenda Orvalho das Flores, em Araguaiana, Mato Grosso, herança do avô. Carmen sempre gostou do campo e dos animais. Passava as férias na propriedade. Ela lembra que ficou aterrorizada logo no início do trabalho ao deparar-se com a marcação a fogo do gado.
"Os lamentos barulhentos dos bichos ao contato com o ferro ardente me machucaram e para sempre. Logo nos primeiros dias coloquei como minha condição dar um fim ao sofrimento do rebanho."
E assim foi feito. Após buscar o aconselhamento de estudiosos, entre eles um dos mais reputados na área do bem-estar animal, Mateus Paranhos, da Unesp/Jaboticabal, Carmen foi eliminando com o passar dos anos a antiga prática e decretou o fim, em 2016, ao que chama de "jugo do ferrete" e que considera "bárbara".
Passou a usar brincos afixados na orelha do gado para identificá-lo, anotar datas de vacina, nome da fazenda, etc.
A Orvalho das Flores, segundo Carmen, foi uma das primeiras no Brasil a abolir a marcação a fogo em 100% do seu rebanho bovino. Atualmente, o ferro em brasa é usado lá somente para controlar a vacinação contra a brucelose. O método é obrigatório no Estado de Mato Grosso.
Carmen Perez afirma que o fim dos ferretes, ao mesmo tempo em que dá um basta ao sofrimento da boiada, afasta o estresse dos vaqueiros e traz também ganhos econômicos à atividade pecuária, pois elimina os ferimentos na carcaça dos bichos, que são valorizados pelos frigoríficos ao abate.
A agenda da pecuarista tornou-se repleta de compromissos pelo país inteiro para levar informações sobre a importância da redução ao máximo da marca a fogo.
"Há evidências científicas de que o uso do ferrete causa dor e sofrimento ao animal, além de angústia. É necessária a substituição do método", declara ela.