Menos dinheiro para tratores

Plano Agrícola e Pecuário 2021/2022 tem redução de 14% no crédito para financiar tratores e colheitadeiras

Viviane Taguchi Colaboração para o UOL, de São Paulo CaseIH
Ministerio da Agricultura
Presidente Jair Bolsonaro, presidente do conselho da Abramilho, Alyson Paolinelli, ministra Tereza Cristina e o ministro da economia, Paulo Guedes.

O Plano Agrícola e Pecuário (PAP), dinheiro que o governo disponibiliza anualmente como crédito para o financiamento do agronegócio e com juros subsidiados, foi anunciado na semana passada.

Para a safra 21/22, que começa em setembro, os recursos são de R$ 251,2 bilhões, 6,3% acima do ofertado em 2020. No pacote, estão contempladas linhas de crédito para o custeio e a comercialização da safra (R$ 177 bilhões) e investimentos (R$ 73,4 bilhões).

Todas as linhas oferecidas tiveram aumento significativo entre um ano e outro, menos o Moderfrota, Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras, que permite aos agricultores renovar os veículos com juros menores.

Em 2020, havia R$ 8,7 bilhões disponíveis para isso, e o dinheiro acabou antes do fim do plano porque teve muita procura. Neste ano o governo anunciou R$ 7,5 bilhões, uma redução de 13,8%. "Vai faltar dinheiro para o agricultor renovar as frotas em 2022", afirmou o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), Pedro Estevão Bastos.

Segundo ele, o mercado de máquinas movimenta em torno de R$ 60 bilhões em créditos por ano e oferece R$ 7,5 bilhões é como "forçar o produtor rural" a recorrer aos bancos e instituições privadas para comprar máquinas, que praticam juros mais altos e que variam conforme a inflação. No início do ano, a CSMIA havia solicitado R$ 14 bilhões.

Divulgação/Case
Juros do governo para compra de máquinas e equipamentos são de 8,5%, mas no mercado privado chegam a 11,5%

Juros do governo são de 8,5%; bancos cobram 11,5%

Os recursos do Plano Agrícola e Pecuário são liberados, todos os anos, a partir de 1º de julho até 30 de junho do outro ano. Os R$ 7,5 bilhões voltados para modernização da frota deste ano, segundo Pedro Estevão Bastos, devem durar só três meses. No ano passado, quando havia mais dinheiro, o valor disponível durou quatro meses.

"Os recursos se esgotaram e os agricultores recorreram ao mercado privado, com juros mais altos, para adquirir máquinas e equipamentos", disse.

Ele afirma que a demanda está superaquecida, e os agricultores, que tiveram que pagar mais caro no ano passado, agora vão buscar o empréstimo subsidiado do governo. "Irão com sede ao pote", declarou.

Os financiamentos estatais têm juros de 8,5% ao ano (o mais alto de todo o pacote anunciado). Esse percentual fica congelado até o fim do plano, diferentemente do que ocorre com os bancos comerciais.

No mercado privado, os juros para a compra de máquinas e equipamentos vão de 11% a 11,5% por ano. "Quem ficou sem crédito no ano passado já está na fila para acessar o Moderfrota, e o agricultor que não está fica no limbo".

Para Estevão, o problema atinge principalmente o agricultor médio. Isso porque ele não se encaixa no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e, no Moderfrota, tem as mesmas condições que os grandes produtores rurais.

"Os produtores médios, que são maioria no Brasil, são os que mais precisam do financiamento com juros subsidiados".

Abimaq
Presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), Pedro Estevão Bastos

Setor de máquinas deve saltar 30% e bater recorde

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que tem 500 indústrias associadas, o governo já sinalizava desde o início do ano que o Moderfrota seria "deixado de lado" em detrimento de outras linhas de financiamento, como armazenagem, irrigação, avicultura, suinocultura e agricultura de baixo carbono, que teve aumento de 101% nos recursos.

Apesar do cenário, o segmento de máquinas e implementos deve ter um faturamento recorde em 2021, de R$ 33 bilhões e 30% acima do ano passado.

"O segmento está superaquecido porque os preços internacionais das commodities estão em alta e o agricultor tem uma rentabilidade maior. Quando isso acontece, ele não pensa duas vezes em fazer os investimentos necessários", disse Estevão.

Em 40 anos de atuação da entidade, um cenário tão positivo para a venda de máquinas agrícolas e implementos só ocorreu seis vezes, disse Estevão. A última foi em 2013, após uma supersafra, em que o setor movimentou R$ 28,5 bilhões.

No primeiro trimestre deste ano, as vendas de tratores e máquinas agrícolas registraram alta de 22,3% em comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), esse crescimento foi impulsionado pelo preço internacional da soja. No período, foram vendidas 10.885 máquinas agrícolas no país, segundo a entidade.

CNA
"É um Plano Safra muito mais pincelado de verde", disse a ministra da Agricultura, Tereza Cristina

Crédito para quem tem projeto ambiental salta 101%

Enquanto o volume de recursos para a aquisição de máquinas agrícolas através do PAP foi menor, os projetos de agricultura de baixo carbono, técnicas que visam produzir alimentos de forma mais eficiente e com ações de preservação ambientais, ganharam destaque neste ano.

"É um Plano Safra muito mais pincelado de verde", disse a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Os programas voltados para o setor tiveram um acréscimo de 101%, em comparação ao ano passado, com R$ 5,05 bilhões disponíveis para a futura safra.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) criou crédito para financiar quem deseja produzir bioinsumo e biofertilizante para uso próprio, apostar em energias renováveis como o biometano, feito a partir das fezes de suínos, e investir na proteção de recursos naturais.

"É o futuro da agricultura, e os produtores rurais brasileiros estão buscando tecnologias e caminhos para ingressar nesse mercado", disse a ministra.

Quem pega dinheiro emprestado do governo para investir em sustentabilidade tem 12 anos para pagar e juros que vão de 5,5% ao ano - para a recuperação de Áreas de Proteção Permanente e Reservas Legais - a 7,5% ao ano.

Recursos para pequenos produtores sobem 19%

Os recursos para os pequenos produtores que se enquadram como agricultores familiares aumentaram 19% neste ano. Ao todo serão destinados R$ 39,34 bilhões para financiar o Pronaf, com juros de 3% a 4,5% ao ano.

Deste valor, o governo reservou R$ 21,74 bilhões para custear e comercializar a produção agropecuária familiar e R$ 17,6 bilhões para investimentos, um aumento de 29% em relação ao ano passado.

Entre as novidades, está o fortalecimento do Pronaf Bioeconomia, com a inclusão de linhas de financiamento para sistemas agroflorestais, construção de unidades de produção de bioinsumos e biofertilizantes e projetos de turismo rural que tragam mais valor a produtos e serviços socioambientais.

Mas os recursos são voltados a apenas uma parte dos produtores. "O limite de renda bruta para que o pequeno produtor se enquadre no Pronaf é de R$ 500 mil neste ano", anunciou Tereza Cristina.

Ministerio da Agricultura
Wilson Vaz de Araújo, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura

Mais dinheiro para silos e armazéns

Um dos maiores gargalos para o agronegócio é a falta de investimentos em infraestruturas como armazéns. "Com a possibilidade de armazenar as safras de grãos, o produtor rural passa a ter mais condições de negociar melhores preços e garantir maior rentabilidade", explicou Wilson Vaz de Araújo, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. "É um dos maiores entraves do agronegócio hoje", disse. "Ainda tem muito produtor tendo que guardar a produção em bolsas".

O governo, agora, aumentou o volume de recursos do Programa de Construção de Armazéns (PCA) em 84% e disponibiliza R$ 4,12 bilhões para quem quer construir um silo na fazenda. Para conseguir os recursos, o silo deve ter capacidade de 6.000 toneladas - com taxa do empréstimo de 5,5% - e acima desse volume, com taxa de 7,5% ao ano, com carência de três anos e pagamento em 12 anos. Segundo Vaz, esse valor poderia instalar 50 novas unidades no país e aumentar em 5 milhões de toneladas a capacidade instalada.

O PAP ainda previu recursos para o custeio do milho, sorgo e à atividades de avicultura, suinocultura, piscicultura, pecuária leiteira e pecuária de corte em regime de confinamento: para os médios produtores, R$ 1,75 milhão e para os demais, R$ 4 milhões.

Dobra número de produtores atendidos com seguro rural

De acordo com a ministra Tereza Cristina, em 2021, o seguro rural dobrou a área segurada no país e o número de produtores atendidos: foram emitidas 193 mil apólices em uma área de 13,7 milhões de hectares.

O seguro agrícola diminui perdas provocadas pelo clima. Em média, o seguro custa entre 3% e 15% do valor da produção, conforme a região e o tipo de cobertura. O seguro recebido de 65% a 80% dos danos.

Consultoria mais barata para plantar

O Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) terá a inclusão de novos estudos para 12 culturas, além de mudanças estruturais na metodologia.

O Zarc é uma espécie de consultoria da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) que indica ao produtor as datas ideiais de plantio e as técnicas mais adequadas para cada cultura. Com essa ajuda, o produtor paga mais barato por estudos da Embrapa e não precisa contratar consultoria particular.

Subsídio para juros

O Plano Agrícola e Pecuário também subsidia juros para produtores rurais. O aporte do Tesouro Nacional para a equalização de juros foi de R$ 13 bilhões.

A equalização de juros é um subsídio dado aos produtores. O governo cobre a diferença entre os juros no mercado financeiro e a taxa para o produtor. O Tesouro Nacional cobre essa diferença, emitindo títulos públicos aos bancos financiadores.

O valor de R$ 13 bilhões ficou R$ 2 bilhões abaixo do que a ministra Tereza Cristina pediu anteriormente. "Eu não fiquei nada satisfeita. Vou tentar conseguir esse valor com alguma subvenção", declarou a ministra.

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