Investidor arrependido

Saiba o que fazer e como se replanejar se seus investimentos ficarem no negativo e você se arrepender

Colaboração para o UOL, em São Paulo FatCamera/iStock
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Ariane Benedito, economista da CM Capital

Crises são reveladoras. Se ciclos de bonança da Bolsa de Valores encorajam muita gente a ser arrojada, é quando o mercado começa a perder que o investidor descobre se está, de fato, preparado para lidar com a turbulência dos investimentos mais arriscados.

A quem se arrepende, resta assumir o prejuízo de investimentos que se revelaram incompatíveis, ou planejar a transição gradual rumo a uma carteira mais adequada a seu perfil.

A resposta sobre qual caminho tomar depende de quanto o investidor consegue esperar pelo momento certo para sair desses investimentos sem grande estrago no patrimônio, numa decisão que passa por suas condições tanto emocionais quanto financeiras.

Para entender qual é seu perfil de risco, a primeira coisa que o investidor tem que refletir é o que vai acontecer na vida dele caso perca todo o dinheiro investido.

Ariane Benedito, Economista da CM Capital

Investidores novatos, principalmente aqueles que começam a investir em momentos de alta do mercado, tendem a achar que são mais arrojados do que são na verdade. As crises acabam ensinando muito aos investidores, inclusive, o seu verdadeiro perfil de risco.

Ivens Gasparotto, Head de consultoria da Suno

Investidores de primeira viagem devem estudar ao máximo, entender que bolsa não é um jogo, que o horizonte de investimento é de longo prazo e simular cenários para entender o que pode acontecer com o investimento.

Bernardo Goldsztajn, Head de gestão de patrimônio na Constância Investimentos

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Ivens Gasparotto, head de consultoria da Suno

Para evitar saída de urgência, faça algumas "lições de casa"

São frequentes os casos de investidores que, diante da volatilidade de investimentos de risco, descobrem-se mais conservadores do que imaginavam. Períodos de baixa são comuns e naturalmente indesejados por quem investe em ativos de renda variável como ações, mas, para alguns investidores, o desconforto chega a ponto de prejudicar a qualidade de vida.

Eles não desgrudam o olho do app da corretora para saber como está em tempo real a cotação de suas ações, e quando os resultados não são positivos, perdem o bom humor, o apetite, o sono... Não raro, vendem os ativos com prejuízo e prometem nunca mais investir em bolsa.

É normal sentir arrependimento quando se perde dinheiro em investimentos malsucedidos. Porém, o ideal, conforme ensinam assessores financeiros, é parar, respirar fundo e começar a planejar um desembarque dos investimentos de forma que seja possível reduzir, ou mesmo zerar, o prejuízo.

Isso significa esperar a tempestade passar para realizar a venda de ativos em momento mais favorável do mercado. Para ter o tempo a seu favor, é fundamental que o investidor tenha feito duas "lições de casa": não ter investido capital "carimbado" ao pagamento de contas de curto prazo; ter construído uma reserva de emergência que proteja a carteira de imprevistos como a perda de emprego.

A definição do perfil de risco depende da percepção do investidor sobre como ele reagiria em situações de perdas e de sua capacidade em correr riscos, o que está ligada à renda, situação patrimonial e tempo pelo qual pretende manter o dinheiro aplicado. Também depende da experiência e do conhecimento de ativos financeiros. Não basta apenas querer correr risco, o investidor deve também poder correr riscos.

Ivens Gasparotto, Head de consultoria da Suno

A volatilidade vem até com os melhores investimentos quando falamos de investimento de risco. Então, na hora em que o investidor se depara com oscilação excessiva, ele acaba se descobrindo talvez um pouco menos arrojado.

Lucas Radd, Superintendente de portfólio e advisory no Inter

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Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos

Aguardar fim da turbulência não significa ficar parado

Esperar pelo fim da tormenta não significa ficar de braços cruzados à espera da recuperação dos papéis em carteira. Um primeiro passo que pode ser dado pelo investidor é trabalhar a qualidade do portfólio, realocando capital ainda sem deixar a renda variável. Por exemplo, trocar papéis pouco líquidos - ou seja, que têm poucos interessados no mercado - por papéis mais negociados, que são fáceis de vender e oscilam menos de preço.

Também vale substituir ações que estão perdendo valor por outras que têm potencial de voltar a subir mais rápido - talvez porque já se desvalorizaram ainda mais do que os papéis que o investidor tem em carteira, aproximando-se, assim, de um ponto de virada.

Já tem ações líquidas e com boas perspectivas de reverter tendência de queda na carteira? Então, cabe pensar em, se houver dinheiro em caixa, aproveitar a desvalorização para comprar mais dessas ações a preços mais baixos. Reduzindo o preço médio do investimento por ação, será possível zerar prejuízos mais rápido quando a maré do mercado mudar.

Quando a operação de alto risco tem baixa liquidez, não é tão simples migrar a investimentos mais seguros.

Luis Barone, Sócio e diretor da Galapagos Wealth Manegement

O investidor deve sempre reavaliar seu perfil. Um jovem solteiro morando com os pais não terá a mesma sensibilidade a risco quando se casar e tiver o primeiro filho.

Gustavo Cruz, Estrategista da RB Investimentos

Carteira de qualidade facilita ajustes

Uma vez concluído o trabalho de gestão da qualidade do portfólio, retirando dele ativos mais instáveis e em que existe maior dificuldade de negociação, fica mais fácil para o investidor reduzir aos poucos sua exposição em renda variável.

Aproveitando as oportunidades de venda em dias de alta na bolsa, é possível fazer a rotação de portfólio - com a substituição de ativos de renda variável por papéis mais seguros de renda fixa, como títulos públicos e bancários (CDB) - ao mesmo tempo em que se reduz os prejuízos acumulados em ciclos negativos.

A exposição a ativos de retorno não garantido deve ser pensada caso a caso, e varia de acordo com o momento do mercado, podendo ser maior quando as ações estão baratas, após prolongado ciclo de baixa, e menor quando estão caras, após prolongado ciclo de alta. Hoje, a recomendação de assessores financeiros a investidores conservadores e moderados é manter não mais do que 10% e 25%, respectivamente, em renda variável.

Se o fator comportamental do cliente for baixo, podemos fazer o movimento suave de rotação de portfólio para mitigar perdas. Agora, se o cliente entrar em pânico, infelizmente teria que assumir as perdas de sair do investimento no pior momento.

Bernardo Goldsztajn, Head de gestão de patrimônio na Constância Investimentos

Sempre questiono se o cliente entende e aceita perder 50% em um período curto, de um a três meses, sem realizar a perda. É um cenário extremo, mas que pode ocorrer uma vez a cada década. Em casos de arrependimento, tentamos ao máximo evitar que o cliente resgate em momentos desfavoráveis.

Luiz Henrique Wickert, Analista sênior da sim;paul

Em geral, não vai ser normal o movimento de vende tudo e aloca de maneira mais conservadora. O ideal é fazer isso de maneira mais faseada, observando o momento de cada investimento e observando o mercado como um todo.

Lucas Radd, Superintendente de portfólio e advisory no Inter

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