Quantos investimentos ter?

Diversificar investimentos sempre é recomendado, mas excesso de opção pode confundir; qual o número ideal?

Paula Pacheco Colaboração para o UOL, em São Paulo Olivier Le Moal/iStock

A quantidade de produtos financeiros à disposição pode causar confusão para investidor. Afinal, em quantos produtos devo aplicar em uma carteira que equilibre ganhos e riscos?

Para se ter uma ideia do tamanho desse universo, em 3 de agosto, a B3 contava com 325 Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs).

Os Fundos de Investimento Imobiliários (FIIs) somam 366 e os Exchange Traded Fund (ETFs) de renda variável chegam a 41; ou seja, 732 alternativas em apenas três categorias de invetimento.

As classes mais negociadas são renda fixa, ações, ativos imobiliários, ativos monetários (ou moedas), commodities e derivativos.

Especialistas ouvidos pelo UOL explicam que o investidor deve levar em consideração algumas informações importantes antes de tomar a decisão de pulverizar seus recursos por meio de aportes em diferentes produtos: o seu nível de conhecimento sobre o mercado financeiro e o tempo disponível para acompanhar uma carteira diversificada.

Dilok Klaisataporn/iStock
Investidor precisa saber qual é seu perfil de risco

Perfis de investidor

Numa etapa anterior, o investidor deve definir, sozinho ou com a ajuda de um consultor financeiro, como será a distribuição do dinheiro entre os diferentes tipos de ativos do mercado financeiro, levando em consideração o seu perfil em relação a riscos - conservador, moderado ou arrojado.

Conservador: prefere não assumir risco, mesmo que para isso tenha de ficar com investimentos com baixa rentabilidade. Por essas características, prefere a renda fixa e evita produtos com mais oscilações, mesmo que isso represente uma perspectiva de ganhos maiores.

Moderado: pode renunciar à segurança diante da chance de obter ganhos maiores. Ainda assim, prefere ter a maior parte da carteira em fundos de renda fixa ou fundos de investimento atrelados a renda fixa e, eventualmente, diversificar com um produto de renda variável, como fundos de ações e fundos imobiliários.

Arrojado: com a prioridade de buscar maior rentabilidade, assume riscos, mesmo diante da possibilidade de oscilações do mercado. Costuma optar por ativos como ações e fundos multimercado.

Divulgacão/Ativa Investimentos
Sylvio Fleury - Diretor de relac?o?es com o mercado da Ativa Investimentos

Qual o objetivo do investimento?

Definido o perfil, o passo seguinte é estabelecer qual é o objetivo que se pretende com a aplicação para planejar o tempo que o recurso deverá estar investido - por exemplo, na aposentadoria, na aquisição de um bem ou para ser usado em uma situação emergencial.

A Associação Brasileiras das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), traz as definições, segundo o intervalo de tempo:

Investimento de curto prazo - até 2 anos

Investimento de médio prazo - de 3 a 10 anos

Investimento de longo prazo - mais de 10 anos

Por trás de qualquer meta, o que se pretende ao diversificar os investimentos é obter os melhores retornos e minimizar os riscos implícitos na economia.

Ou seja, na pulverização, o investidor consegue aumentar a blindagem dos seus recursos das variações indesejadas. A diversificação da carteira também abre caminho para a busca de uma rentabilidade ao longo do tempo, com regularidade.

Por exemplo, quando a carteira é composta por títulos de renda fixa com diferentes datas de vencimento.

Os produtos com prazo maior para resgate costumam estar entre os mais arriscados. Por isso, atendem melhor a clientes com perfil moderado e agressivo.

Sylvio Fleury, Diretor de relações com o mercado da Ativa Investimentos

Divulgação
Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos

Fundos de diferentes mercados

Outro exemplo de diversificação que gera equilíbrio é quando se incluem na carteira fundos atrelados a diferentes mercados ou moedas - como os fundos cambiais e os Brazilian Depositary Receipts (BDRs), como são chamados os recibos de empresas negociadas no exterior.

Em caso de desvalorização cambial, crise econômica ou queda do valor das ações de um determinado mercado, uma parte do patrimônio fica resguardada.

Mesmo com a possibilidade de encontrar centenas de produtos dentro de cada classe de investimento, há alternativas mais simples para garantir a diversificação.

Não existe uma quantidade ideal de produtos dentro de cada classe de ativos para a composição da carteira, até porque alguns fundos já possibilitam essa diversificação. Um único fundo pode ter 20 ativos, por exemplo. O investidor deve levar em consideração a tolerância a risco na hora a diversificar, seu conhecimento de mercado para escolher de forma adequada onde alocar os recursos e o tempo para acompanhar a carteira.
Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos

Apesar de considerar que não há uma quantidade ideal de produtos de uma mesma classe de ativos, Oliveira costuma sugerir aos clientes pelo menos oito ativos diferentes, entre fundos e títulos.

De olho no tempo

No entanto, Flávio de Oliveira faz uma ressalva. Esse número vai depender da disponibilidade de tempo para acompanhar essa variedade de produtos. Pulverizar a carteira além do que se pode seguir de perto só mesmo com a ajuda de um assessor de investimentos.

Segundo ele, qualquer que seja a estratégia, o investidor não pode perder de vista dois pontos: a diversificação no risco e a busca por um desempenho acima da média de mercado.

"A escolha deve ser cuidadosa, porque não adianta comprar, por exemplo, várias ações e elas apresentarem uma performance abaixo do Ibovespa. Aí é melhor investir apenas no Ibovespa", afirma.

No caso de quem tem um perfil conservador, diz Oliveira, buscar a estratégia de diversificação é mais difícil, porque esse é o investidor avesso ao risco, restando a alternativa de incluir na carteira títulos com vencimentos diferentes.

Quanto mais agressivo for o perfil do investidor, mais ele vai se sentir confortável para diversificar sua carteira. Por outro lado, quanto mais conservador e menos recurso disponível, menor será a busca por mais produtos.

Sylvio Fleury, Diretor de relações com o mercado da Ativa Investimentos

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Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos

O investimento certo para o conservador

Estrategista da RB investimentos, Gustavo Cruz explica que o perfil conservador normalmente não tem muito conhecimento sobre as oportunidades de investimento, o que torna mais difícil colocar em prática a estratégia de pulverização. Para o especialista, a diversificação faz mais sentido para quem tem um perfil moderado ou agressivo.

Para esses perfis, o importante é ter produtos com propostas diferentes para buscar mais oportunidades de ganhos e diminuir os riscos. O investidor tem de olhar a rentabilidade, mas também a volatilidade. Dentro da mesma classe, embora todos sejam fundo multimercado, por exemplo, há aqueles mais voltados ao Brasil e outros com menor exposição. O que se deve ter em vista é essa combinação.
Gustavo Cruz

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