Chama o motoboy
Fazer compras no supermercado sem sair de casa e recebê-las no mesmo dia, conseguir bebidas em cima da hora para manter a festa rolando, pedir comida, receber remédios em casa em uma emergência, conseguir alguém para fazer um reparo em casa e até comprar produtos para seus animais de estimação. O chamado "delivery de tudo" veio para ficar e está mudando o cotidiano das pessoas, com soluções, mas também problemas.
Prova disso é que as empresas que atuam nesse setor estão recebendo gordos investimentos. A startup colombiana Rappi, "delivery de tudo" e que é líder no Brasil, recebeu recentemente um aporte de US$ 1 bilhão do grupo japonês SoftBank, elevando o valor total da empresa para US$ 1,4 bilhão.
Em novembro do ano passado, a empresa afirmava ter 3,6 milhões de usuários, sendo que cerca de 720 mil estavam no país.
Apesar de não divulgar dados atualizados, Ricardo Bechara, diretor de expansão e cofundador da Rappi no Brasil, revela que a empresa tem crescido 30% ao mês no país desde janeiro 2018.
"O Brasil é o país em que mais crescemos na América Latina. Estamos em mais de 20 cidades aqui e, até o final do ano, devemos estar em todas as capitais", afirmou.
No fim do ano passado, o aplicativo James, que começou em Curitiba (PR) e também se propõe a entregar de tudo, foi comprado pelo Grupo Pão de Açúcar. Detalhe: o Pão de Açúcar tinha parceria de mais de ano para vender seus produtos pelo Rappi, sinal de que a empresa considerou mais vantajoso ter sua plataforma própria.
O valor do negócio não foi revelado, mas o app James já começou sua expansão e chegou a São Paulo. A reportagem procurou o Grupo Pão de Açúcar para comentar sobre a expansão do serviço para outras cidades, mas a empresa afirmou que não daria entrevista.
O setor está tão disputado que a Glovo, startup espanhola de entregas de tudo, decidiu deixar o Brasil em março deste ano, após apenas 12 meses de operação. Por meio de comunicado, a empresa alegou que o país é um mercado extremamente competitivo e que precisaria de mais tempo e dinheiro para obter os resultados desejados. Shipp e Rapiddo são outras empresas que ainda estão no páreo.
Empresas que fornecem a infraestrutura tecnológica --ou seja, o sistema que permite localizar entregadores e definir as melhores rotas de entrega-- pegam carona no movimento.
A Loggi, que entre outras coisas fornece a plataforma usada pela Rappi, atingiu nesta semana o valor de mercado de US$ 1 bilhão, depois de receber aportes em uma nova rodada de investimentos do SoftBank, Microsoft, GGV, Fifth Wall e Velt Partners, no valor total de US$ 150 milhões.
Mas o setor também enfrenta problemas. Quando a entrega não dá certo, o consumidor se vê num jogo de empurra: nem o aplicativo nem o fornecedor assumem o erro em alguns casos. Há também as questões das relações precárias de trabalho dos entregadores e da confusão com outros motoristas e pedestres.