2 meses do auxílio de R$ 600

Pagamento de benefício enfrentou falhas, atrasos e filas para chegar às mãos de 58,6 milhões de brasileiros

Ricardo Marchesan, Maria Carolina Abe e Henrique Santiago Do UOL, em São Paulo Mineto/Futura Press/Estadão Conteúdo

Tudo começou para valer no dia 7 de abril, quando o governo lançou um site e um aplicativo para as pessoas pedirem os R$ 600 do auxílio emergencial. No mesmo dia, apresentou o calendário de pagamento das três parcelas —que só seria respeitado para a primeira.

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Como tudo começou

UOL

Governo queria R$ 200 por 3 meses

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ADRIANO MACHADO

Congresso contrapôs R$ 500

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Foto: AFP

Presidente fechou em R$ 600/mês

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Beneficiários enfrentaram alguns problemas para conseguir acessar o dinheiro.

  • Instabilidade no sistema

    Os sistemas disponibilizados pelo governo para fazer o pedido e obter informações --aplicativo, site e telefone-- apresentaram instabilidade. Foram diversos relatos de usuários que tinham dificuldades para ter acesso ou fazer o pedido.

    Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
  • Falha no aplicativo

    Muitos beneficiários também relataram dificuldades com o aplicativo Caixa Tem, disponibilizado pelo banco para movimentar o dinheiro recebido do governo.

    Imagem: Adriana Toffetti/A7 Press/Estadão Conteúdo
  • Em análise

    Outros também reclamaram do longo tempo em que o pedido do benefício ficou em análise no sistema. Inicialmente a Caixa informou que esse tempo seria de cinco dias, mas depois afirmou que era apenas uma estimativa.

    Imagem: Reprodução
  • Filas para saque

    Durante a liberação do saque em dinheiro da primeira parcela, entre abril e maio, diversas agências pelo país registraram longas filas, mesmo com a Caixa estabelecendo um calendário de acordo com o nascimento da pessoa, com o objetivo de evitar aglomerações durante a pandemia de coronavírus.

    Imagem: Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo

Calendário adiantado, depois atrasado

app auxílio emergencial

Governo divulgou datas de pagamento das 3 parcelas

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Marcos Corrêa/PR

Presidente da Caixa disse que 2ª parcela seria antecipada

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ADRIANO MACHADO

Bolsonaro disse não ter aprovado a antecipação

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RICARDO MORAES

Pagamento da 2ª parcela acabou atrasando

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Wallace Martins/Futura Press/Estadão Conteúdo

Benefício estendido, mas não para todos

Em abril, o Congresso aprovou uma lei permitindo que mais pessoas recebessem o benefício. Entre as categorias previstas estavam: taxistas, pescadores artesanais, motoristas de aplicativo, motoristas de transporte escolar, entregadores de aplicativo, profissionais autônomos de educação física, ambulantes, feirantes, garçons, babás, manicures e cabeleireiros, por exemplo.

O presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei com vetos. As mães menores de idade passaram a ter direito ao auxílio, mas o aumento do número de categorias que poderiam receber foi vetado.

Em sua justificativa para o veto, o presidente disse que especificar determinadas categorias ofende o princípio da isonomia e que a ampliação da lista de beneficiários cria despesa obrigatória ao poder público, sem que se tenha indicado a fonte de custeio.

Bolsonaro também vetou a possibilidade de homens solteiros chefes de família receberem o auxílio em dobro (R$ 1.200) e o acúmulo do auxílio com o Bolsa Família. Pela regra em vigor, quem recebe o Bolsa Família pode ganhar o auxílio mas em substituição, se o valor for maior.

O Congresso também havia aprovado revogar a regra que estabelecia que trabalhadores não poderiam ter recebido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70 em 2018 para ter direito ao auxílio, mas foi vetado.

Do pão na mesa às contas em dia

Como alguns brasileiros estão usando o auxílio emergencial

Desde o início da pandemia de coronavírus, a carroceira Edmar Matoso, 44, está praticamente sem trabalhar. Entre um bico e outro, ela fez o pedido do auxílio emergencial com a ajuda de um celular de um conhecido. Esperava sacar os R$ 1.200 endereçados às chefes de família, mas recebeu apenas R$ 600.

Com o dinheiro, comprou o básico para alimentar a família —pão, leite e carne— e material de limpeza. Moradora de Guaianases, na zona leste de São Paulo, ela tem 11 filhos —sete biológicos e quatro que ela adotou das ruas.

Arquivo pessoal

Dá uma angústia porque sei que fui lesada. É uma coisa que não pode ficar solta porque estamos vivendo um momento difícil. Eu sou simplesmente uma mulher, negra e carroceira. Esse auxílio é um direito meu. É direito dos meus filhos terem um café da manhã decente.
Edmar Matoso, 44, carroceira

Ela diz que seu caso tem até dez dias úteis para ser resolvido pelo governo.

Dinheiro para remédios

Edson Moreno, 60, achou fácil se cadastrar e receber o benefício. Sem emprego com carteira assinada há cinco anos, o ex-funcionário de uma companhia aérea contou com a ajuda de sobrinhos no processo. Foi com alívio que, em menos de 15 dias, recebeu os R$ 600 —ainda que o valor esteja abaixo dos R$ 1.500 que conseguia como motorista de aplicativo.

O morador da Penha, zona leste de São Paulo, basicamente tem usado esse dinheiro para inteirar o pagamento do convênio médico de sua mãe, uma idosa de 84 anos, e medicamentos para os dois. Ele tem problemas cardíacos e precisa de um anticoagulante para viver. Ela tem diabetes e bronquite. Ambos gastam, em média, R$ 800 por mês —a conta seria maior se ele não recebesse dois remédios de mais de R$ 400 do governo estadual.

Arquivo pessoal

Esse dinheiro tem ajudado bastante. As contas estão em dia, só a conta bancária que está deficitária. Eu agradeceria muito se o governo continuasse pagando enquanto durar essa pandemia.
Edson Moreno, 60, desempregado

Chorou ao sair da agência

Maria Romilda Almeida, 60, encontrou dificuldade no meio do caminho para receber o dinheiro. Ela se cadastrou e foi aprovada menos de uma semana depois, mas não conseguiu acessar o aplicativo Caixa Tem, que apresentava erro na hora de pôr o CPF. Acabou percorrendo 12 quilômetros de sua casa, no Jardim Guarapiranga, zona sul, até a agência da Caixa na Vila Olímpia.

Equipada com máscara e álcool em gel, conseguiu sacar os R$ 1.200 que recebe por ser chefe de família. Antes do início da pandemia, Almeida fazia bicos como cuidadora de idosos e tinha uma renda de R$ 440, menos da metade de um salário mínimo. A sua maior preocupação era acumular boletos para pagar.

Arquivo pessoal

Coloquei as contas em dia e ajudei meus dois filhos que foram demitidos e receberam nada. Eu até chorei de emoção depois que saí da agência.
Maria Romilda Almeida, 60, cuidadora

Eles precisam, mas não receberam

Desde a liberação do cadastro ao benefício, surgiram diversos relatos de trabalhadores que se enquadravam nos requisitos para receber o auxílio, mas tiveram o pedido negado.

Muitos problemas foram causados pelas bases de dados. Teve gente que estava registrada como já falecida e até quem tinha o registro de "presidente da República" na carteira de trabalho.

Relembre alguns desses casos.

  • Estudante pede auxílio e descobre na carteira que é "presidente do Brasil"

    Imagem: Arquivo Pessoal
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  • Mulher tem auxílio emergencial negado por "estar morta"

    Imagem: Arquivo pessoal
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  • Eles estão sem R$ 600 porque governo diz que outros da família já recebem

    Imagem: Arquivo pessoal
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  • Mães com direito a R$ 1.200 estão pedindo R$ 600 por erro no CPF de filhos

    Imagem: Arquivo pessoal
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  • Governo usa dado velho, diz que desempregado está empregado e nega R$ 600

    Imagem: Juca Varella/Folhapress
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  • Candidatos não eleitos aparecem como políticos e não conseguem os R$ 600

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Eles receberam, mas não precisam

Enquanto muitos trabalhadores precisando da renda ficaram na mão, outros tantos que não teriam direito tiveram o pedido aceito.

  • 3,9 milhões das famílias mais ricas recebem auxílio de R$ 600, diz pesquisa

    Imagem: Getty Images
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  • TCU vê irregularidade no pagamento de auxílio emergencial a 8,1 milhões

    Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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  • Mais de 70 mil militares receberam o auxílio emergencial de R$ 600

    Imagem: ONOFRE VERAS/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO
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Bolsonaro diz que auxílio terá mais duas parcelas

Por enquanto, quem tem direito ao auxílio receberá três parcelas de R$ 600 cada, mas o governo está planejando estender o benefício.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que "acertou" com o ministro da economia, Paulo Guedes, mais duas parcelas do auxílio. Ele não revelou qual seria o valor delas, mas deverá ser menor do que os R$ 600 pagos atualmente.

Em maio, Guedes admitiu a prorrogação, mas pagando R$ 200. Agora, o governo estuda que cada parcela adicional seja de R$ 300, de acordo com a "Folha de S. Paulo".

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