Trocar ou não trocar de ação

Rever investimentos é necessário mesmo quando eles estão dando certo

Colaboração para o UOL, em São Paulo Olivier Le Moal/iStock

Não importa se você investe em ações com a intenção de ficar com elas por toda a vida e está satisfeito com seus resultados. De vez em quando, é importante que todo investidor dedique algum tempo para avaliar se deve mesmo continuar com os investimentos que tem em carteira.

Se dezembro é o mês de fazer um balanço do que aconteceu e traçar planos para o ano que está por vir, o mesmo hábito pode ser reservado ao planejamento financeiro. Descubra agora como e quando vale a pena movimentar suas ações.

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Sempre temos que tomar conta da nossa carteira, independente do tempo. Tanto os investidores de curto quanto os de longo prazo devem reavaliar suas posições, seus objetivos e rebalancear quando necessário. Investir para o longo prazo significa que podemos tomar um pouco mais de risco, mas não que vamos descuidar da carteira.

Pedro Albuquerque, analista de Portfólios e Advisory do Inter

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Revalide seus investimentos a cada semestre

A frequência com que uma carteira de ativos financeiros deve passar por reavaliação varia conforme o horizonte do investimento. Quando os objetivos são de longo prazo, não é necessário revisar investimentos tantas vezes quanto nos casos em que o investidor, por estar próximo de resgatar o dinheiro, precisa evitar ao máximo o risco de seus investimentos entrarem em ciclo de baixa.

Um "day trader", por exemplo, pode alterar posições de acordo com as notícias e mudanças de direção do mercado que forem acontecendo durante um único pregão.

Já quem investe visando uma aposentadoria ainda distante pode deixar para fazer revisões de carteira a cada seis meses. Não se trata de uma recomendação para ficar de braços cruzados se, antes disso, os investimentos forem impactados por algum grande acontecimento inesperado, como foi a pandemia da covid-19. Monitorar investimentos, ensinam consultores financeiros, deve ser uma preocupação constante.

Em condições normais, no entanto, não é indicado ao investidor de longo prazo reposicionar a carteira mais do que duas vezes por ano. Revisões feitas a todo o momento podem ser uma porta aberta a decisões guiadas pela emoção, tendo como possível consequência a saída de investimentos antes de sua maturação —ou seja, abandono de uma ação antes do melhor momento— ou exposição excessiva ao risco, com o investidor comprando mais do que deveria.

Ativos de alta volatilidade podem induzir o investidor a decisões equivocadas, se o período de análise for curto.

Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management

No curto prazo, os preços são muito impactados por rumores e ruídos do mercado. Se o investidor ficar olhando muito, corre o risco de ser contaminado por essa visão e vender ou comprar sem necessidade. Às vezes, o melhor é ter calma e esperar.

Pedro Albuquerque, analista de Portfólios e Advisory do Inter

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Cenário mudou? Hora de repensar a carteira

Pense numa pessoa que começou a investir quando as fotos eram tiradas em máquinas fotográficas e se aposentou quando o mundo já tirava e guardava fotos em smartphones. Embora comprar ações de algum fabricante de máquinas e películas fotográficas possa ter feito sentido durante muito tempo do planejamento financeiro dessa pessoa, seria certamente um grande erro carregar tais papéis até a aposentadoria.

Revisar periodicamente a carteira é, assim, fundamental para conferir se os motivos que no passado basearam uma decisão de investimento permanecem válidos. No exemplo acima, a disrupção tecnológica que levou as pessoas a usar o celular nas fotografias deveria ser o gatilho a uma mudança de posição.

Mas, claro, a necessidade de movimentar um portfólio pode ser motivada por inúmeras outras transformações que ocorrem tanto dentro quanto fora das empresas que compõem o portfólio de um investidor. Entram na análise desde a capacidade delas de entregar os resultados esperados a mudanças de rumo na política, na economia e no segmento de atuação que afetam o ambiente de negócios.

Se os fundamentos que justificaram o investimento caminham na direção esperada, ou até melhoraram, a conclusão natural será de que a escolha foi acertada e a compra de mais ações pode ser avaliada se não representar uma exposição excessiva ao risco. Se pioraram, é um sinal de que pode ter chegado o momento de reduzir a exposição ou sair do investimento.

Todo ativo é comprado por uma razão. A análise periódica, com o intuito de verificar se ele ainda possui os mesmos fundamentos, é essencial para uma carteira consistente de longo prazo. Mudanças bruscas na vida financeira e patrimonial do investidor também podem vir a demandar uma mudança não programada da carteira.

Caio Mont'alverne, sócio da Aplix Advisory

Foco no potencial e não em resultados passados

Não raro, na esperança de que um dia eles se recuperem e zerem as perdas, investidores cometem o erro de segurar na carteira ativos ruins e que só dão prejuízo. Da mesma forma, também prevalece muitas vezes a lógica do "time que está ganhando, não se mexe". Isto é, o entendimento, igualmente equivocado, de que uma ação que está em alta não vai parar de subir.

Na hora de rever a carteira de ações, e decidir quais ficam e quais saem, o que importa não são os ganhos ou prejuízos que elas tiveram no passado, mas sim o potencial de valorização à frente. Ativos de baixo potencial de retorno devem dar, portanto, espaço a outros com maior potencial.

É preciso levar em conta se a troca respeita a tolerância a risco do investidor. O potencial de alta de uma moeda virtual pode ser, por exemplo, superior ao de uma ação de alta liquidez na Bolsa, porém nem todos os investidores têm estômago para encarar a alta volatilidade (sobe e desce) dos criptoativos.

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A questão sobre substituir algum ativo, por estar com bom ou mau desempenho, decorre de uma análise sobre a expectativa de uma determinada empresa, do setor que ela está inserida e das projeções macroeconômicas e políticas.

Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos

Investidores que se baseiam pelo preço de compra cometem um grande equívoco, pois o que deveria importar é a perspectiva de retorno do ativo a partir do preço atual. No Brasil os ventos mudam com muita frequência, nunca devemos ter amor a uma posição.

Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management

O ideal é sempre pensar no que pode acontecer daqui para frente. Se eu comprei uma ação, e ela tem enorme potencial de valorização, posso mantê-la independente de estar no prejuízo ou lucro. Se houver outras opções no mercado com potencial maior de valorização, a troca é válida.

Pedro Albuquerque, analista de Portfólios e Advisory do Inter

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Considere o que os analistas pensam sobre as suas ações

Vale ficar de olho nos relatórios de analistas de mercado que trazem as indicações de até onde as ações em negociação na Bolsa podem chegar. Essas previsões dificilmente vão acertar em cheio, mas ajudarão você a concluir com maior embasamento se os ativos do portfólio ainda têm fôlego, ou se existem opções mais promissoras no mercado.

Como indicado antes, cabe também fazer a lição de casa e monitorar se as empresas apresentam boas perspectivas de crescimento. Elas estão acelerando investimentos? Há possibilidade de mudança regulatória que torne a companhia mais atraente ao capital internacional? Ela vende ou desenvolve produtos desejados pelos consumidores?

Perguntas do tipo fazem parte de um exercício que permitirá a você concluir não só se uma ação está valendo menos do que deveria —sendo interessante, portanto, ter em carteira—, mas também se os fundamentos melhoraram a ponto de justificar a manutenção de ações que já entregaram mais retorno do que se esperava.

O investidor deve 'comprar a sua carteira todos os dias'. Ou seja, ele não deve manter o ativo em carteira porque já comprou, mas sim por acreditar que aquele é um bom investimento, e tem potencial daquele momento em diante.

André Chede, sócio fundador da Phi Investimentos

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Atenção ao peso de cada ação no total de seus investimentos

Além de avaliar a possibilidade de substituições, a revisão de carteira também deve observar se os ativos estão dentro dos limites percentuais desejados pelo investidor.

Quem compra ações sempre vai torcer pela valorização do ativo. Porém, não se deve esquecer que, se confirmada ou superada essa expectativa, é possível que a ação bem-sucedida passe a ocupar maior espaço no portfólio. Isso significa que o investidor está mais exposto ao risco dela.

Para não comprometer a diversificação, uma das saídas é distribuir o excesso de exposição entre as demais ações da carteira, sempre respeitando o peso fixado para cada uma.

Apenas rebalanceando o portfólio, o investidor tem condição de abrir espaços a papéis com maior potencial de valorização sem usar dinheiro de caixa, mantendo assim inalterada a sua exposição geral em bolsa.

Ainda que o ideal seja aguardar os dias de alta da Bolsa para vender bem as ações, e os dias de baixa para comprar mais barato, o investidor deve tomar cuidado para não demorar muito ao movimentar a carteira. O risco é deixar o portfólio desenquadrado por muito tempo da estratégia de investimento, comprometendo objetivos de retorno e diversificação.

O trabalho é, portanto, considerável, mas costuma trazer uma recompensa. Conforme especialistas, ao fazer uma gestão ativa dos investimentos, tomando cuidado para evitar decisões precipitadas, o investidor tende a ter, no longo prazo, retorno maior do que se deixar a carteira estática.

O rebalanceamento é fundamental para que o planejamento inicialmente acordado se mantenha válido, com as premissas de risco, liquidez e estrutura do portfólio nas mesmas condições contratadas inicialmente pelo investidor.

Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management

Tudo deve partir da pergunta: ?Por que eu comprei esse ativo em específico??. Devemos analisar se esse motivo continua válido e alinhado ao planejamento financeiro do investidor. Talvez um ativo que faça sentido em uma fase da vida, venha a não fazer em outra fase diferente. Então, se faz necessário uma redução da participação na carteira, ou até zerar a posição.

Caio Mont'alverne, sócio da Aplix Advisory

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