Bolsonaro e Lula juntos

Conheça o empresário que lucra na internet com bandeiras e faixas a favor de Bolsonaro e Lula

Filipe Andretta Do UOL, em São Paulo Seriarte Digital

As manifestações que pedem "intervenção militar com Bolsonaro no poder" e as que exigem o impeachment do presidente têm algo em comum: um punhado de bandeiras produzidas pela mesma gráfica no interior de Minas Gerais.

Quem busca por "Bandeira Bolsonaro" ou "Bandeira Lula" no MercadoLivre cai logo nos anúncios da Seriarte Digital, comandada por Hugo César de Oliveira.

Hugo tem 40 anos e há 24 trabalha na confecção de materiais gráficos. Em 2018, ano eleitoral, percebeu que vender material político é um nicho lucrativo —principalmente se você atender todos os lados com eficiência e educação.

E foi assim que a Seriarte Digital decolou.

A gráfica fica em Santo Antônio do Monte, cidade de 29 mil habitantes a 200 km de Belo Horizonte. A localização importa menos do que o selo "MercadoLíder Gold", concedido aos vendedores mais bem avaliados da plataforma de e-commerce.

Oliveira também anuncia bandeiras pela Magalu. Mas como o site não aceita materiais políticos, perde a maior parte da demanda. "Hoje posso dizer que metade da empresa é venda online. No último mês, 60% das minhas vendas foram de produtos políticos", diz o empresário.

Seriarte Digital

Atender bem para atender sempre

"Boa noite, teria como mandar por Sedex? Queria para sábado, a cidade de destino é Brasília", perguntou o comprador de uma bandeira "Fora Bolsonaro". A loja prontamente respondeu que o prazo depende da transportadora, mas que as entregas estão sendo realizadas na data prevista.

No MercadoLivre, a Seriarte Digital tem cerca de 2.000 vendas nos últimos 60 dias. Hugo diz que nunca vendeu para campanhas eleitorais oficiais, somente para eleitores no varejo.

O perfil da empresa ostenta avaliações positivas. "Super atencioso e prestativo", "tudo certo, recomendo!" e "atendeu à solicitação da bandeira personalizada com ótimo acabamento" estão entre os comentários deixados por clientes satisfeitos.

Mas nem sempre a empresa recebe palavras carinhosas.

Respostas educadas, mas com um 'tapa de louvor'

"Teve um eleitor que viu a bandeira 'Bolsonaro 2022' e me perguntou se eu tinha papel higiênico daquela marca", conta Hugo. "Com papel higiênico, não trabalhamos, mas a bandeira, depois que você compra, pode ser usada como bem entender", respondeu com ironia.

Uma pessoa entrou no anúncio da bandeira "Tô com Lula" só para deixar uma pergunta sarcástica: "É sério isso?". A loja respondeu que tem material de Bolsonaro também.

Quando alguém é muito agressivo, Hugo pede que o comentário seja excluído da plataforma.

No anúncio da estampa "Bolsonaro Presidente", alguém comentou: "Obrigado, mas quero uma antifascista". Na sequência, a Seriarte deixou um link para o anúncio da bandeira com o símbolo da Ação Antifascista, também produzida pela empresa.

Hugo diz estar acostumado a receber ofensas de pessoas que não se conformam com algum material político produzido pela Seriarte. "Tento responder com o máximo de educação, mas com um tapa de louvor."

Seriarte Digital

Nem bandeira nazista, nem de Che Guevara

Hugo se diz pronto para atender qualquer público. "Faço bandeira evangélica, de Nossa Senhora Aparecida, de candomblé, de astrologia, de futebol, de LGBT", afirma. Mas há limites.

"Já me pediram muitas vezes bandeira nazista. Não faço porque é proibido. Não posso nem quero. Che Guevara também não faço."

O empresário tampouco produz bandeiras de movimentos de caminhoneiros, mas por uma questão jurídica: descobriu que essas organizações têm patentes dos símbolos, e prefere não se envolver em ações por direito autoral.

Mas, afinal, Oliveira gosta de Bolsonaro ou Lula? Ele prefere não dizer para não prejudicar os negócios e criar inimizades.

Na hora de explicar por que não há constrangimento em fazer materiais políticos para grupos diversos, Oliveira fala de futebol. "Não é porque sou cruzeirense que não vou fazer bandeira do Atlético-MG."

Não tenho vergonha de trabalhar

"Muita gente me pergunta se não tenho vergonha de produzir essas bandeiras. Eu não tenho vergonha de trabalhar", afirma Oliveira, que estudou até completar o ensino médio.

A Seriarte Digital tem hoje cinco funcionários. Dentre eles, duas de suas três filhas. A esposa, Adriana, também trabalha na empresa.

Uma bandeira de 1m de altura por 1,45m de largura custa a partir de R$ 60, mais o frete.

Entre as preferidas dos bolsonaristas, estão modelos como a "Bolsonaro Presidente", "Bolsonaro 2022", a bandeira com o símbolo da família imperial brasileira e uma estampa que mistura as bandeiras do Brasil e de Israel.

Os clientes que vão a protestos da oposição buscam principalmente estampas com o ex-presidente Lula (uma delas com as cores LGBTQIA+ ao fundo) e a "Fora Bolsonaro".

"Se eu não vender, alguém vai vender. E não é uma bandeira que vai derrubar ou salvar o governo", afirma Oliveira.

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