Farol para os investimentos

Benchmarks são exemplos ideais de cada investimento; use-os para saber se seu dinheiro está rendendo bem

Rejane Aguiar Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto/ismagilov

Escolher bem seus investimentos, diversificar e equilibrar os riscos e ter um bom gestor são etapas essenciais para cuidar bem de seu dinheiro. Mas como saber se o que você investiu está rendendo o que deveria? É exatamente para isso que servem os benchmarks -os melhores exemplos do mercado.

O benchmark representa uma diretriz para avaliar se algo é bom ou ruim em relação a um padrão. É uma espécie de farol que indica se a direção está certa ou se precisa ser corrigida.

Existem diversos benchmarks, um para cada tipo dos principais investimentos. O Ibovespa é um exemplo de benchmark, usado para comparar o desempenho de ações.

Os benchmarks são importantes para o investidor tomar suas decisões quanto à carteira. Afinal, quando ele entra em um ativo deve ter uma expectativa mínima de retorno, que é representada por esses indicadores.
Mauro Orefice, diretor da BS2 Asset Management

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Exemplos para comparar

Em geral, cada benchmark é formado por uma cesta teórica de ativos da mesma espécie. Ou seja, os ativos não são de fato comprados, apenas servem de comparação. Essa cesta é criada por uma instituição reconhecida e confiável. Esses ativos são escolhidos conforme uma metodologia, acessível ao público, que pode ser adaptada de acordo com a evolução de determinado mercado.

Além disso, as instituições que montam esses benchmarks fazem reavaliações periódicas das carteiras, de forma que reflitam o que está acontecendo em cada segmento de negociação. Nessa dinâmica, um benchmark pode até deixar de ser calculado se perder relevância, e outros podem ser criados.

No Brasil, as principais instituições que estruturam e calculam os benchmarks mais utilizados são a B3 e a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Vêm delas as referências fundamentais dos mercados de renda fixa e variável —DI, títulos públicos, títulos privados, ações, fundos imobiliários e multimercados.

Saiba quais são os benchmarks

Conforme o mercado brasileiro foi se desenvolvendo, foram criados benchmarks cada vez mais direcionados —ou seja, muito além do Ibovespa, o mais famoso e um dos mais antigos indicadores de referência no país (criado em 1968 pela então Bovespa). Os mais utilizados estão listados a seguir.

Renda fixa: CDI

CDI é a sigla para Certificado de Depósito Interbancário, um papel emitido diariamente pelos bancos para emprestarem recursos entre si. Ou seja, o CDI não é um título disponível para compra: é a taxa embutida nesses empréstimos que interessa ao mercado. Ela acompanha a taxa DI negociada na B3 e segue de perto a Selic, taxa básica de juros estabelecida pelo Banco Central. O CDI é o benchmark para ativos de renda fixa com juros pós-fixados, sejam títulos públicos ou privados.

Renda fixa: títulos públicos

É a Anbima que gerencia e calcula os benchmarks para títulos públicos (família IMA) no Brasil. O IMA-Geral tem uma carteira teórica que replica o universo de papéis emitidos pelo Tesouro Nacional, independentemente do tipo e do prazo. Essa abrangência, diz Hilton Notini, gerente de Preços e Índices da Anbima, faz do IMA uma ferramenta importante para o mercado acompanhar a dívida pública —ou seja, é mais que um benchmark.

Como o mercado brasileiro se diversificou muito ao longo do tempo, a Anbima criou subíndices para facilitar a comparação de ativos de renda fixa. Eles são resultados de recortes por tipo de remuneração (juros semestrais ou índices de inflação, como IPCA e IGP-M, por exemplo) e por vencimento (em curto, médio ou longo prazo). Para se ter uma ideia dessa diversidade no caso dos títulos públicos, além do IMA-Geral, essa família tem 11 subíndices.

Renda fixa: crédito privado

Uma lógica semelhante à do IMA é válida para a família IDA, que reúne debêntures. Esse índice é referente a uma cesta de debêntures (títulos representativos de dívidas de empresas) selecionadas pela Anbima conforme a metodologia.

Assim como seu primo, o IDA tem um indicador geral de debêntures (IDA-Geral) e alguns subíndices: IDA-DI (papéis remunerados pelo DI), IDA-IPCA (IPCA como indexador), IDA-IPCA-Infraestrutura (engloba os papéis isentos de Imposto de Renda, enquadrados na Lei 12.431, que pagam o IPCA) e IDA-IPCA-ex-Infraestrutura (debêntures que remuneram o IPCA sem contar com o benefício fiscal).

Ações: Ibovespa

Mais tradicional benchmark nacional de renda variável, é praticamente sinônimo do comportamento da Bolsa de Valores brasileira. No entanto, ele é apenas um dos vários recortes possíveis no mercado de ações. Serve como referência para investimentos que tenham como foco a liquidez dos papéis. A carteira teórica do Ibovespa inclui as ações mais negociadas e é revista a cada quatro meses pela B3. A carteira atual tem 77 ações.

Ações: IBrX-100

Diferentemente do Ibovespa, o IBrX-100 é calculado com base em capitalização de mercado, ou seja, o tamanho das empresas com ações negociadas na Bolsa (a quantidade de ações multiplicada pelo valor dos papéis). É bem menos usado que o Ibovespa como benchmark.

Ações: setores e tamanhos

Nos últimos anos, à medida que os mercados foram se desenvolvendo, a B3 criou índices que oferecem mais recortes —outros benchmarks, portanto. Em termos de setores, alguns exemplos são IEE (ações de empresas do setor de energia), Imob (imobiliário), ISE (sustentabilidade), MLCX (companhias de grande porte), SMLL (empresas de pequeno porte), Icon (consumo), Imat (materiais básicos), Idiv (ponderado pelo pagamento de dividendos). Essas separações ajudam investidores e gestores a avaliarem os retornos de suas carteiras em relação às médias correspondentes.

Fundos imobiliários

A intensa evolução do mercado de fundos de investimento imobiliários motivou a criação do Ifix, benchmark para esse segmento. Nesse caso, a B3 monta e atualiza uma carteira teórica de fundos imobiliários baseada na ideia de retorno total. Isso significa que a Bolsa considera, além da variação dos preços das cotas negociadas no mercado, a distribuição de proventos —dividendos, juros sobre o capital próprio e ativos recebidos pelos fundos.

Vale ressaltar que o Ifix é diferente do Imob: o primeiro trata dos fundos imobiliários, e o segundo das ações das empresas do setor imobiliário.

Multimercados

Os fundos multimercados investem em uma ampla gama de ativos e com muitas estratégias diferentes, o que por si só complicaria a comparação de carteiras e fundos.

Por isso, o mercado usa como benchmark nessa situação o Ihfa, calculado pela Anbima. A cada trimestre, a entidade faz o rebalanceamento dos fundos que compõem a carteira teórica do índice.

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Evolução mostra avanço do mercado

De maneira geral, os benchmarks são criados ou aprimorados conforme as necessidades dos agentes de mercado. Há cerca de 20 anos, por exemplo, não existiam no Brasil indicadores específicos para o segmento de renda fixa para além do DI.

Isso refletia uma realidade de mercado: para gestores e investidores naquele momento, não era uma necessidade ter benchmarks para títulos emitidos por empresas, por exemplo, já que esse segmento no Brasil era bastante restrito.

Da mesma forma, na Bolsa, bastavam índices que captassem os volumes de negociação das empresas listadas —ou seja, a liquidez—, como o Ibovespa. Não fariam muito sentido índices que dividissem as companhias por setores ou tamanhos ou indicadores para fundos imobiliários que mal existiam, situação muito diferente da atual.

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Instituições idôneas

O desenvolvimento de benchmarks requer seriedade e transparência, além da atuação de instituições que tenham proximidade com o mercado. É o caso da Anbima, entidade de autorregulação formada por associados dos próprios mercados financeiro e de capitais, responsável por vários benchmarks de títulos públicos e privados.

Segundo Notini, todo o trabalho é feito da melhor forma em termos de governança, seguindo as melhores práticas recomendadas pela Iosco, entidade que congrega os reguladores de várias partes do mundo.

Atuamos muito próximos ao mercado, que nos apresenta suas demandas em relação a benchmarks. Sempre avaliamos a representatividade dos ativos que servem de base para os indicadores e trabalhamos para deixar as metodologias, a produção e a divulgação dos índices o mais transparente possível.
Hilton Notini, gerente de Preços e Índices da Anbima

Na indústria de fundos de investimento, os benchmarks normalmente estão mencionados nas chamadas lâminas —quadros-resumo com as principais características do fundo. Isso significa que publicamente o gestor apresenta qual o índice de referência que vai trabalhar para (no mínimo) alcançar ou para superar.

Os benchmarks são também importantes como base para o cálculo das taxas de performance. Essas taxas, cobradas em alguns fundos de investimento, são uma porcentagem que o investidor paga ao gestor se este conseguir ultrapassar o índice de referência em determinado período. Seria um prêmio pelo bom desempenho, adicional à taxa de administração, que serve para remuneração básica do gestor e cobertura de despesas operacionais.

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