Boi e vaca produtivos

Nova técnica examina embrião e descobre se boi será bom reprodutor ou vaca dará bastante leite

Sebastião Nascimento Colaboração para o UOL, em São Paulo Divulgação
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Processo de biópsia do embrião bovino

Uma novo técnica, já usada na Europa e nos EUA e aprovada nos laboratórios e nos campos experimentais da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), permite conhecer a produtividade de bois e vacas que ainda vão nascer. É possível examinar os embriões e dizer se o futuro touro será um bom reproduto, se a vaca produzirá bastante leite e qual o teor de proteína do animal. Permite também a avaliação da qualidade genética.

Quando a técnica da genotipagem embrionária chegar às fazendas brasileiras, pode melhorar o planejamento da produção e abrir novas fronteiras no processo de melhoramento genético do rebanho bovino do país.

Por meio da biópsia em um embrião produzido in vitro é possível constatar as características genéticas de um animal antes mesmo do nascimento. A vantagem para o fazendeiro é que ele pode, por exemplo, retirar e congelar os embriões antes do nascimento. Os embriões podem ser usados por ele mais tarde ou vendidos.

Hoje a avaliação do genoma para a descoberta da potencialidade do gado é feita em tourinhos e novilhas jovens, o que demanda mais tempo para o planejamento e uso do animal na pecuária. E o lote avaliado pode não ser útil naquela fazenda.

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Gado da raça gir leiteiro das Fazendas do Basa, em Leopoldina (MG)

Um complicado salto tecnológico

A genotipagem embrionária é um grande salto tecnológico ao encurtar tempo e economizar dinheiro nas fazendas. Ela é praticada em alguns poucos países europeus, como França e Holanda, e nos EUA, com vantagens.
Luiz Sergio Camargo, veterinário e pesquisador da Embrapa Gado de Leite

Segundo Luiz Sergio Camargo, veterinário e pesquisador da Embrapa Gado de Leite, tanto no exterior como no Brasil, a aplicação da técnica é um desafio; particularmente aqui no país, onde mais de 90% dos embriões são gerados in vitro nos laboratórios, o que fornece uma visão do avanço da ciência no cenário agropecuário.

As experiências da Embrapa são feitas com as raças gir e girolando, ambas da espécie zebuína e potenciais produtoras de leite. A gir é originária da Índia e, cruzada com a holandesa, uma raça europeia, deu origem à brasileira girolando.

As duas raças são rústicas e plenamente adaptadas ao clima quente do Brasil, o que facilita o manejo nas mais diferentes e rudes pastagens.

Nossos estudos concluíram que é possível estimar os valores genômicos em embriões produzidos in vitro com acurácia.

Luiz Sergio Camargo, veterinário e pesquisador da Embrapa Gado de Leite

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Primeira bezerra da raça girolando do país que teve o embrião analisado antes de nascer

A primeira bezerra

As experiências no campo foram realizadas na fazenda da Embrapa chamada Campo Experimental Santa Mônica, em Valença (RJ), a cerca de 100 quilômetros de Juiz de Fora.

Elas tiveram início no ano de 2014 junto com os estudos nos laboratórios, disse Camargo. Outros pesquisadores da Embrapa Gado de Leite também participaram dos estudos, como Clara Slade Oliveira e Marcos Vinícius Silva.

E foi nos pastos desse campo de experimentos que nasceu no Brasil a primeira bezerra oriunda de um embrião biopsiado. Ela é da raça girolando, e o nascimento, em 2015, foi comemorado pelos estudiosos da Embrapa.

Na sequência, os resultados foram validados em rotina comercial de produção in vitro de embriões, com a decisiva participação das Fazendas do Basa, em Leopoldina (MG), que fica também na região de Juiz de Fora.

A propriedade foi pioneira no país na adoção da tecnologia. Seu proprietário, Evandro Guimarães, ficou satisfeito com os resultados dos experimentos. Segundo ele, ficou comprovada a viabilidade na biópsia do embrião, que permite conhecer antecipadamente as características do animal que irá nascer e direcioná-lo para fins determinados na fazenda.

Ele já era entusiasta de pesquisas para melhorar o gado, e a marca Basa, de sua fazenda, é uma das mais destacadas seleções de gado gir leiteiro. Guimarães ajudou a financiar as pesquisas da Embrapa Gado de Leite.

As Fazendas do Basa possuem um plantel com mais de 250 doadoras de embriões, vacas de alta qualidade e procedência. Além disso, Guimarães realiza leilões movimentados, e a marca sempre está presente nas exposições agropecuárias.

Aumento dos lucros

O pesquisador Camargo adianta que a identificação do embrião implica em ganhos comerciais diversificados. Segundo ele, o pecuarista, após tomar conhecimento antecipado das características dos animais que irão nascer, pode planejar como aproveitá-lo na lida.

Outra opção rentável é que, no caso de um animal nascido não ser incorporado ao rebanho do seu proprietário, este pode vendê-lo a outros produtores e engordar a receita com a atividade pecuária.

É que uma rês poderá não apresentar as características para servir na propriedade na qual nasceu, porém, certamente o atributo descoberto nas análises terá utilidade até para o pecuarista vizinho.

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Próxima etapa: congelar o embrião

Luiz Sergio Camargo afirma que o estágio atual de pesquisa antecipa o processo de seleção em até sete meses antes do parto, ao fornecer informações do genoma estimadas do futuro bezerro. "Agrega valor com o tempo ganho."

O próximo desafio da técnica científica é o congelamento dos embriões, fator que permitirá se programar ainda melhor na fazenda, afirma o pesquisador.

Ele explica que, atualmente, o embrião é transferido em um período curto de dias da vaca doadora para a receptora. É a chamada experiência a fresco.

"Acreditamos que os resultados serão positivos e permitirão que os embriões congelados sejam conservados e transferidos para a receptora seguindo um organograma planejado com antecedência", afirma Camargo.

A técnica abrirá ainda espaço para que os embriões com a potencialidade genômica já calculada nos laboratórios sejam comercializados da mesma maneira que o sêmen de touros de seleção —acondicionado nos botijões.

"Abre, assim, uma nova oportunidade comercial para os criadores", afirma Camargo.

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