Só rico pode ter bitcoin?

Bitcoin sobe e já vale mais de R$ 300 mil; preciso ter tudo isso para investir? Veja dicas e cuidados

Vinícius Pereira Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images

A valorização recente do bitcoin, que já passa de R$ 300 mil, fez com que investidores voltassem novamente as atenções às criptomoedas. Mas, com um valor unitário tão alto, ter um bitcoin não é para todos.

O que poucos investidores iniciantes sabem é que é possível comprar apenas frações de um bitcoin, o que torna a negociação muito mais acessível a quem só quer colocar um percentual do patrimônio na criptomoeda.

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Bitcoin já nasceu para ser fracionado

Prevendo uma valorização grande, o bitcoin já nasceu com a possibilidade de ser fracionado. A menor parte fracionária da criptomoeda é chamada de satoshi —em referência a Satoshi Nakamoto, o pseudônimo utilizado pelo criador ou pelos criadores do bitcoin.

Cada satoshi representa 0,00000001 do bitcoin, de acordo com o CEO da corretora Foxbit, Ricardo Dantas. Com o bitcoin cotado atualmente na casa dos R$ 300 mil, cada satoshi vale cerca de R$ 0,003.

Se o bitcoin chegar a um nível na casa dos milhões de dólares algum dia, provavelmente começaremos a falar mais do preço dos satoshis e não de um bitcoin.
Ricardo Dantas, CEO da Foxbit

Portanto, apesar da alta recente do preço do bitcoin, o investidor não precisa ter o valor completo para comprar uma criptomoeda, já que ele pode comprar e vender frações de satoshis.

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Qual o investimento mínimo?

As duas maiores corretoras de criptomoedas do país, Mercado Bitcoin e Foxbit, por exemplo, possuem investimentos mínimos de R$ 10 e R$ 20, respectivamente.

E as outras criptomoedas?

Mas o que se aplica ao bitcoin não vale necessariamente para as outras criptomoedas, como ethereum e litecoin. Cada criptomoeda tem suas próprias regulações e possibilidades de ser divididas.

Segundo Dantas, o que determina em quantas vezes dá para fracionar uma criptomoeda é a forma como ela foi criada e seu tamanho no mercado.

"Depende muito do tamanho de mercado dela. O bitcoin já foi criado com essas casas e nesse conceito, pois ele é finito e, assim, em certo momento, vamos ter que usar satoshis. Outras criptomoedas podem usar outras casas decimais", afirmou.

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Que fatia da carteira devo aplicar em criptomoedas?

Mesmo com a possibilidade de comprar bitcoin com pouco dinheiro, especialistas ouvidos pelo UOL não recomendam que o investidor aplique uma fatia grande do seu patrimônio em criptomoedas.

De acordo com Virgilio Lage, assessor de investimentos da Valor Investimentos, o percentual investido em criptomoedas não deve passar de 15% da carteira —mesmo para os mais arrojados, ou seja, para quem assume o risco de perder o percentual investido.

Ele recomenda os seguintes percentuais da carteira, de acordo com cada perfil de investidor:

  • Conservador: 1% a 2%
  • Moderado: 2% a 5%
  • Agressivo: 5% a 15%

Em uma carteira que conte com R$ 100 mil investidos, por exemplo, as criptomoedas devem representar para cada perfil:

  • Conservador: de R$ 1.000 a R$ 2.000
  • Moderado: de R$ 2.000 a R$ 5.000
  • Agressivo: de R$ 5.000 a R$ 15 mil

Muito sobe e desce e nenhuma proteção

Para Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora, o investidor de criptomoedas não pode esquecer que elas sobem muito, mas também caem muito em um curto espaço de tempo. Elas também não seguem índices, como o Ibovespa, o principal índice acionário brasileiro.

Além disso, não há nenhuma proteção contra eventuais perdas. Portanto, cada investidor só poderá investir um valor que se sinta confortável em eventualmente perder.

É importante que o investidor tenha criptomoedas na carteira, mas com um percentual baixo. Além disso, considere que esse ativo possui uma volatilidade excessiva e que esse mercado não tem correlação com os principais índices de Bolsas ou economias mundiais, por exemplo.
Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora

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Comprar moeda ou investir via fundo e ETF?

Para além do bitcoin, o universo das criptomoedas é grande e possui outros milhares de ativos. Segundo os especialistas, é importante que haja uma diversificação entre elas, e a melhor forma de fazer isso é por meio de fundos.

Hoje o brasileiro pode investir de três formas:

  • comprando diretamente, via corretoras;
  • em fundos de investimentos especializados em criptomoedas;
  • em ETF ( ETF ("Exchange Traded Fund", em inglês), uma espécie de fundo, que replica o desempenho de um índice.

As três opções são boas, mas pensando em diversificação, um bom caminho para quem está começando seria o [ETF] HASH11. Ele replica o Nasdaq Crypto Index (NCI), que atualmente é [um índice] composto por bitcoin, ethereum, stellar, litecoin, bitcoin cash e chainlink. O ETF é rebalanceado a cada três meses.
Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora

Se o investidor quiser escolher por contra própria as criptomoedas para compor sua carteira, deve ficar ligado em quais projetos existem por trás daquela moeda digital e qual o tamanho do mercado.

O mercado total de criptomoedas gira em torno de US$ 2 trilhões. Basicamente, você tem que entender duas coisas: os projetos em que as criptomoedas estão inseridas, que vão mostrar qual a função dela, e quais problemas ela resolve. Há também o tamanho do mercado da criptomoeda. Se for menor, há possibilidade de grandes ganhos, mas também de grandes manipulações.
Ricardo Dantas, CEO da
Foxbit

Para Lage, a melhor forma de diversificar é por meio de fundos e ETFs. Mas, para quem deseja comprar por conta própria, as criptomoedas "blue chips" devem fazer parte do pacote.

O ideal é investir nas consideradas blue chips, que são as criptomoedas mais negociadas nas corretoras do país. E entender o que está por trás da moeda e qual a tecnologia envolvida. A Ethereum, por exemplo, é um projeto da Microsoft.
Virgilio Lage, assessor de investimentos da Valor Investimentos

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Potencial de ganho é alto, mas riscos também

A alta recente das criptomoedas, principalmente do bitcoin, chama a atenção de quem acompanha o mercado financeiro. Enquanto a taxa básica de juros (Selic) não deve retornar a dois dígitos por um longo período, o bitcoin acumula alta de quase 549% em 12 meses.

Essa valorização faz com que muita gente entre no mercado em busca de repetir tais ganhos. Para Lage, assessor de investimentos da Valor Investimentos, o potencial de alta é o principal fator a se considerar.

Ao mesmo tempo, porém, a tecnologia envolvida pode ser a vilã do investidor. Como os ativos são muito recentes e surgem aos milhares por ano, alguns deverão ficar pelo caminho e simplesmente deixar de existir.

Além disso, a falta de conhecimento dos investidores, em geral, sobre esse novo mercado abre possibilidades de golpes e fraudes.

Por ser algo novo, tem muita coisa que é golpe, se aproveitam do desconhecimento de pessoas bem-intencionadas. Então a pessoa que compra ou opera esse tipo de produto sem entender o que está fazendo corre, sim, um risco grande.
Virgilio Lage, assessor de investimentos da Valor Investimentos

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