"Dezoito reais? Não tem condição." O mau humor diante do preço do pacote de 500g foi tamanho que o consumidor paulistano virou as costas e não quis falar sobre o assunto. Café é coisa séria.
O valor (R$ 17,99) não era de uma linha especial ou gourmet, mas de uma marca tradicional que até o começo do ano era encontrada por cerca de R$ 10. O homem, que aparentava ter 40 anos, verificou outros rótulos na gôndola do mercadinho e escolheu um pacote mais em conta (R$ 15,49), sem esconder a insatisfação.
De acordo com representantes dos produtores de café, da indústria e do comércio, a cena presenciada pela reportagem será cada vez mais comum. O preço subiu, vai continuar subindo, e o consumidor terá de escolher entre: a) pagar mais caro; b) comprar um produto mais barato com qualidade inferior; c) tomar menos café.
Em casos de extrema pobreza, famílias estão abrindo mão do café ou coando o mesmo pó mais de uma vez.
O café moído subiu em média 35% no Brasil em 12 meses até outubro de 2021, segundo o índice oficial de inflação (IPCA) calculado pelo IBGE. Em algumas regiões, a alta passou de 50%.
Mas os números de 2021 mostram que, apesar da inflação e da pandemia, o consumo interno não diminuiu —um indicativo de que o brasileiro tenta de todas as formas manter sua quantidade diária de cafezinhos, mesmo com as contas apertadas.