Investimentos do bem

Aplicar em empresas de saneamento e educação rende e pode ajudar no crescimento social e econômico

Paula Pacheco Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto

O Brasil carrega números ruins em setores importantes, como o da educação e do saneamento, o que revela não apenas o tamanho da necessidade de investimento como também o potencial de crescimento.

O movimento ainda é recente no Brasil, mas já há investidores que têm direcionado seus recursos para aplicações voltadas a esses segmentos, influenciados por aspectos sociais ou em busca de oportunidades de aumentar seus ganhos.

Apesar das poucas opções para quem busca investir em educação e saneamento, é possível incluir os setores entre as opções de investimento, seja por meio da compra de ações de empresas, com aportes em fundos de ações ou multimercado.

Outras possibilidades são, no caso do saneamento, as debêntures incentivadas e, no setor educacional, os fundos de investimento imobiliário (FIIs) atrelados a espaços locados para instituições de ensino.

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Tanto os investimentos em educação quanto em saneamento atendem quem está pensando em fazer um bem social e também trazem a possibilidade de ganhar dinheiro. São setores sempre presentes no portfólio de recomendações dos gestores.

Rafael Panonko, analista-chefe da Toro Investimentos

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Proteção para o investidor

Os especialistas ouvidos pelo UOL são unânimes ao dizer que, no caso do saneamento, os retornos costumam ser consistentes, já que no geral são receitas garantidas às empresas por meio de contratos de longo prazo, assinados com o poder concedente (a prefeitura, normalmente). Com isso, o saneamento acaba servindo como uma espécie de proteção na carteira do investidor, já que é muito menos exposto a fatores externos.

No entanto, não se deve levar em consideração apenas a receita, mas o perfil da dívida das empresas e a nota atribuída pelas agências de classificação de risco.

A Sabesp, por exemplo, segundo levantamento da Economatica Consultoria, teve uma valorização de 97,06% de 31 de dezembro de 2018 a 31 de dezembro de 2019 —em comparação com uma alta de 31,58% do Ibovespa. Neste ano (até 31 de outubro), no entanto, muito por causa da sua dívida em dólar, a queda acumulada da Sabesp é de 27,45% (mais do que o Ibovespa, que recuou 18,76% no período).

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Como se livrar do IR

Os dados oficiais mostram o potencial do saneamento no Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 39,7% dos municípios brasileiros não têm serviço de esgotamento sanitário, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), ano-base 2017.

Quem está de olho no potencial do saneamento pode optar pelas debêntures incentivadas, uma aplicação financeira que funciona como um tipo de "empréstimo" do investidor para empresas voltadas a infraestrutura, produção econômica intensiva em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Quem compra as debêntures recebe em troca uma remuneração.

Apesar do perfil de menor exposição, também há ressalvas. "O risco nas debêntures está na saúde financeira da empresa. Já nas ações, o risco está no desempenho econômico da empresa. A saúde é apenas um requisito", afirmou Mauro Rached, head da área de Produtos da Integral Investimentos.

O incentivo dado pelo governo federal ao investidor vem da tributação. Esses títulos da dívida, sempre de longo prazo, são isentos de Imposto de Renda para pessoa física. As debêntures são apontadas por alguns especialistas como uma boa alternativa para quem quer diversificar a carteira, por ser menos arriscado em relação ao mercado de renda variável.

As debêntures incentivadas, que incluem o saneamento, já foram um primeiro passo no sentido da conscientização e estímulo aos investidores. Daqui para frente, com o Novo Marco Regulatório do Saneamento, deverão surgir ainda mais oportunidades, até porque as contrapartidas ambientais estão sendo cada vez mais valorizadas.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos

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Educação exige mais cuidado ao investir

Com a chegada da pandemia, a educação privada foi colocada entre os setores mais afetados. Muitos abandonaram o ensino particular por causa da crise financeira e, paralelamente a isso, a modalidade remota ganhou um novo papel também no ensino fundamental.

Na B3, a Bolsa brasileira, o comportamento das ações dos grupos de educação não manteve um padrão. Em parte, isso aconteceu por causa de algumas particularidades, como negociações envolvendo fusões e aquisições.

Anima foi o grupo com melhor desempenho, com queda de 6,31% de 31 de dezembro de 2019 até 31 de outubro de 2020, de acordo com a Economatica. Já a Cogna sofreu o maior tropeço, de 62,47%.

"Esse é um setor mais arriscado, com particularidades, porque os players atuam em diferentes subsetores da educação e há ainda os movimentos entre as empresas, com compras e fusões. Isso torna a educação mais difícil para o investidor, porque são movimentos que afetam o valor. Por isso é importante buscar a ajuda de especialistas", disse Mauro Rached, da Integral Investimentos. Por outro lado, essas variações podem indicar oportunidades de ganho.

Os riscos aumentaram bastantes por causa da inadimplência, a evasão e a pandemia. Mas se há muito risco, no geral pode haver uma rentabilidade maior, ou uma perda maior.

Igor Cavaca, analista de investimentos da Warren

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Ensino entra em nova fase

Agora, a educação deve passar por uma profunda revisão de estratégias, já que ainda não é possível cravar qual será o novo comportamento com o fim da pandemia.

Atualmente, as empresas do setor têm investido em tecnologia e em melhores práticas para o ensino a distância. Quem calibrar de forma mais acertada os aportes nessas áreas deverá levar vantagem na volta dos alunos para as salas de aula, presenciais ou não.

"Em momentos de crise, a educação privada costuma sentir porque é um dos gastos que são cortados. Por outro lado, o ensino sempre estará presente na vida das pessoas", disse Rafael Panonko, da Toro Investimentos.

Muito espaço para crescer

O potencial é grande. Assim como o saneamento, a educação ainda não atende de forma satisfatória a população brasileira e representa uma oportunidade para grandes grupos empresariais.

Levantamento recente feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, se o Brasil investir, a cada ano, 1% a mais do seu Produto Interno Bruto (PIB) em educação básica, o padrão de vida médio da população tem potencial para aumentar até 26% nas próximas cinco décadas.

Ainda segundo os pesquisadores da FGV, se o país investisse por ano 2% do PIB em educação o aumento da produtividade do trabalhador seria de 32%, aproximadamente.

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Educação via fundo imobiliário

Assim como no saneamento, o investidor que pretende aumentar seu patrimônio com a inclusão das empresas de educação na carteira tem poucas alternativas: ações de empresas, fundos de ações, fundos multimercado são os mais conhecidos.

Mas existe a possibilidade de direcionar os recursos para a educação por meio de um fundo de investimento imobiliário (FII), regulado pela Comissão de Valores Mobiliários.

Os FIIs permitem investir em imóveis sem precisar de muitos recursos. Funciona como uma espécie de "condomínio" de investidores. Os recursos arrecadados junto aos investidores (que adquirem cotas) servem para financiar a construção ou a compra de um imóvel e a sua negociação junto a uma grande empresa ou grupo.

O dinheiro recebido pelo aluguel ou arrendamento remunera o investimento. Essa operação pode ser estruturada, por exemplo, para destinar imóveis ao uso por shoppings, hospitais, propriedades rurais e escolas. Se as cotas se valorizarem, o cotista pode ter um ganho na hora de vender sua participação.

A dinâmica mais tradicional é que o dinheiro investido seja usado na construção ou na aquisição de imóveis, que depois sejam locados ou arrendados. Em caso de valorização, os ganhos obtidos com essas operações são divididos entre os participantes, na proporção em que cada um aplicou.

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FIPs para saneamento e educação

Outra alternativa para quem procura oportunidades em saneamento e educação são os Fundos de Investimento em Participações (FIPs). Eles captam recursos de investidores que serão investidos na maioria dos casos em companhias fechadas. A meta é fazer com que esses negócios, administrados pelos gestores, cresçam, lucrem e tragam ganhos maiores para seus cotistas.

Negociados em Bolsa, os FIPs (mais difundidos entre as empresas do setor de infraestrutura) são classificados como investimentos em renda variável de classe fechada —as cotas do fundo só podem ser resgatadas após a deliberação em assembleia ou na sua liquidação, feita pelo gestor. Apenas o investidor qualificado, dono de mais de R$ 1 milhão em patrimônio investido e registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pode ser cotista de um FIP.

"Agora, os FIPs, que funcionam como uma espécie de condomínio de investidores, estão ganhando mais atenção porque o mercado tem buscado outras alternativas. Como permitem o acesso a empresas de capital fechado, podem ter uma rentabilidade maior, mas os riscos também são maiores, por isso a exigência de acesso aos investidores qualificados, afirmou Igor Cavaca, analista de investimentos da Warren.

Como o FIP é um produto mais sofisticado, Cavaca indica esse produto financeiro aos mais experientes. Sua sugestão é que os investidores ainda pouco familiarizados com o tema busquem nos fundos uma porta de entrada para os setores de saneamento e educação, que no geral contam com gestores especialistas nessas áreas e, por isso, em condições de tomar decisões.

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