Fraldas ajudam exportação

Venda de celulose do Brasil para China triplica, e aumento no uso de fraldas ajuda nisso

Mário Bittencourt Colaboração para o UOL, em Vitória da Conquista (BA) Danilo Verpa/Folhapress
Bruno Maestrini

O crescimento do PIB per capita (soma das riquezas divida pelo total de habitantes) da China e os hábitos da nova geração de chineses têm impulsionado as exportações de celulose do Brasil para o país asiático nos últimos anos.

Entre janeiro e outubro deste ano, o Brasil exportou 5,7 milhões de toneladas de celulose para os chineses. No mesmo período de 2012, quando esse mercado começou a aumentar, as exportações haviam sido de 1,8 milhão de toneladas. As vendas mais que triplicaram no intervalo.

Um dos fatores que aumentaram o consumo de celulose na china foram outros hábitos de higiene. Aquela cena, por exemplo, de bebês com um buraco na calça e bumbum de fora, vai sendo superada, com a adoção maior de fraldas, absorventes femininos e papéis higiênicos de folha dupla ou tripla.

"A China tem uma nova geração mais exigente por produtos de higiene pessoal, consome muitos produtos ocidentalizados", disse o chinês Paulo Chen, 63, que nasceu em Pingtung, cidade ao sul da Taiwan, e mora em Recife (PE) há 50 anos.

Na minha família já se usava o pano nos bebês, eu mesmo usei. Mas era comum vermos, até pouco tempo, crianças com buracos nas calças. Hoje está bem diferente. O uso de fraldas, absorventes e papel higiênico é cada vez mais comum.

Paulo Chen, chinês que mora em Recife (PE) há 50 anos

Thomas Peter/Reuters

Crescimento da economia na China

Dados do Banco Mundial apontam que o PIB per capita da China apresenta crescimento exponencial desde os anos 2000, quando saltou de US$ 959 para US$ 10.500 em 2020.

"Esse crescimento tem resultado em diversas demandas da China com relação aos produtos brasileiros, sobretudo oriundos do agronegócio e da mineração", disse Daniel Sasson, analista de agronegócios do Itaú BBA.

A China, de acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2021, 36,33% do total das exportações do agronegócio (mais de US$ 102,4 bilhões) foi para o país asiático —o segundo maior comprador é a União Europeia e o terceiro são os EUA.

Danilo Verpa/Folhapress

Celulose em alta demanda na China

Os produtos florestais (celulose, papel e borracha) estão em terceiro lugar nas exportações brasileiras. Primeiro vem o complexo soja e depois o setor de carnes, que também têm a China como maior comprador. Mas, no caso da carne, atualmente está em vigor o embargo por conta dos casos de "mal da vaca louca" registrados em setembro nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso.

A celulose brasileira é exportada, em grande parte, para o mercado chinês. Em outubro deste ano, 40,8% do valor vendido ao exterior foi para a China.

A China utiliza a celulose para fabricação de diversos produtos sanitários, desde papel higiênico, a lenços umedecidos, fraldas descartáveis, absorventes femininos; esses produtos é o que tem puxado essa demanda da China nos últimos anos.
Daniel Sasson, analista de agronegócios do Itaú BBA

Para o analista, a tendência é haver uma demanda maior da celulose brasileira nos próximos anos, sobretudo para produção de papéis higiênicos e outros produtos, como embalagens de papel, em substituição aos de plástico, já que há em todo o mundo uma busca por produtos mais sustentáveis.

Por outro lado, ele prevê também uma queda na demanda por papel para imprimir ou escrever.

Com a pandemia, muitas pessoas deixaram de fazer impressões, pois houve uma aceleração digital e o maior uso de documentos eletrônicos em pdf. Mas observamos que as demandas por produtos de higiene são bem maiores que o papel para este fim.

Daniel Sasson, analista de agronegócios do Itaú BBA

Gui Gomes/Repórter Brasil

Produtos florestais também crescem

No Brasil, informa o Iba (Indústria Brasileira de Árvores), há uma área total de árvores cultivadas de 9 milhões de hectares, sendo que o setor conta com outros 5,9 milhões de hectares destinados para Áreas de Preservação Permanente (APPs), Reserva Legal (RL) e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN).

"São mais de mil municípios na sua área de atuação e uma receita bruta total de R$ 97,4 bilhões em 2019", afirma o Iba. "Os produtos fabricados advindos das árvores cultivadas estão em nosso dia a dia e vão desde o tradicional papel até cápsulas de medicamentos, tecidos e espessantes usados na indústria de alimentos e em produtos de higiene pessoal, como pastas de dentes".

De acordo com o Mapa, a produção de produtos de base florestal do Brasil segue em ritmo crescente. Em 2012, foram produzidas 14,2 milhões de toneladas de produtos florestais, e em 2020 foram 27 milhões de toneladas —aumento de 190%.

Entre 2012 e 2020, o país produziu 211,1 milhões de toneladas de produtos de base florestal, sendo que 24,8% (52,3 milhões de toneladas) foram comprados pela China nesse período.

Até outubro de 2021, o Brasil produziu 23,7 milhões de toneladas de produtos de base florestal, e superou US$ 1 bilhão em exportações. As vendas do setor chegaram a US$ 1,21 bilhão em 2021 (+17,3%), devido à recuperação dos preços médios de exportação dos produtos do setor (+22,9%).

A celulose, principal produto, registrou elevação de 22,1% nos preços médios de exportação e queda de 13,3% no volume exportado, o que possibilitou o aumento do valor exportado em 5,9%, alcançando US$ 582,25 milhões.

Além da celulose, os demais produtos do setor também apresentaram aumento nas vendas: madeiras e suas obras (US$ 449,70; +28,2%) e papel (US$ 173,76 milhões; +37,0%).

Oscar Wong/Getty Images

Mercado de oportunidades mais sustentáveis

O diretor-presidente da Abaf (Associação Baiana de Empresas de Base Florestal), Wilson Andrade, observa que a demanda por produtos de base florestal cresce não só no mercado chinês, mas na Europa e nos EUA. Isso por causa da redução de produtos oriundos do petróleo, como os plásticos.

"O setor florestal produz mais de 5.000 produtos diferentes. A pandemia acelerou, por exemplo, o uso de embalagens de papel por meio dos serviços de entrega de alimentos em casa", declarou Andrade, que destaca o viés de produção sustentável da cadeia de produtos base florestal.

De acordo como Iba (Indústria Brasileira de Árvores), o setor "adota voluntariamente programas de certificação que asseguram a rastreabilidade e a origem responsável dos seus produtos, com sistemas reconhecidos internacionalmente, como Forest Stewardship Council® (FSC®), Programme for the Endorsement of Forest Certification (PEFC) e International Organization for Standardization (ISO)".

O Iba observa também outra tendência de mercado que tem crescido nos últimos anos, que é o têxtil. "A viscose, tecido produzido a partir da celulose solúvel, representa quase 7% do segmento mundial. No entanto, ainda há muito espaço para conquistar, pois cerca de 64% dos tecidos que usamos atualmente são sintéticos, ou seja, obtidos a partir de origem fóssil", afirma.

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