Meio fixo, meio variável

COE (Certificado de Operações Estruturadas) une renda fixa e variável e dá chance de ganhar com menos risco

Paula Pacheco Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto

Os investidores no Brasil têm buscado alternativas aos juros baixos. Ganhos no mercado financeiro exigem cada vez mais estratégias com um pé no risco.

Mas muita gente tem medo de se arriscar muito, e um produto financeiro vem ganhando espaço: o Certificado de Operações Estruturadas, o COE.

Com ele, é possível ter um bom desempenho com renda variável, mas com o risco menor da renda fixa. E o investimento fica protegido contra perdas de maneira parcial ou total. O investimento do COE pode ser feito em itens como LCA, CDB, dólar, euro e ações. Entenda a seguir como funciona.

Getty Images/iStockphoto
Lucky336/Getty Images/iStockphoto

O que é o COE?

O Certificado de Operações Estruturadas é um investimento que reúne tanto os produtos da renda fixa quanto renda variável. Esses títulos são emitidos pelo banco, que utiliza a maior parte dos recursos para aplicar em renda fixa (por exemplo, LCA, CDB e LCI). Uma parcela menor é destinada à renda variável. Por exemplo, dólar, euro, ações de empresas brasileiras e estrangeiras, índices da Bovespa e de Bolsas americanas, metais, taxas de juros e commodities agrícolas.

É na renda variável que está o maior risco do COE, porém, é daí que pode vir a oportunidade de ganho mais expressivo do que o oferecido pela renda fixa.

As incertezas tornam o momento atraente, mas esse é um investimento sem liquidez no curto prazo e que exige do investidor que ele entenda a que serve o ativo que está atrelado o COE.

Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos

Cris Fraga/Estadão Conteúdo

Características atraem investidor

Dados da B3, a Bolsa paulista, confirmam como o COE tem chamado a atenção. No acumulado de janeiro a outubro, foram emitidas cerca de 31 mil operações novas, chegando a um volume total de R$ 9,61 bilhões. Apesar de 2020 ser um ano atípico por conta da pandemia e da aversão ao risco, esse volume é 14% superior aos R$ 8,40 bilhões registrados nos dez primeiros meses de 2019.

A explicação para o interesse no COE mesmo em tempos de incerteza está em algumas das suas características. A principal dela é a combinação entre a possibilidade de ganhos e a proteção dos recursos mesmo com o mau humor do mercado financeiro —um cenário confortável para os investidores acostumados com modalidades de menor risco e que buscam alternativas.

Para Bruno Musa, sócio da Acqua Investimentos, o COE pode atender a quem vem de uma experiência em renda fixa e que busca um desempenho melhor. O certificado permite proteger ao menos o valor nominal. Por outro lado, nesse caso o investidor que sair com o mesmo valor que entrou depois de três anos, por exemplo, verá seus recursos perderem poder de compra.

O COE é um produto de diversificação, que pode atender desde os mais conservadores até os perfis mais agressivos. Mas o aporte não deve passar de 5% a 10% do portfólio.

Thaís Maiochi de Oliveira, sócia da CMS Invest

Getty Images/iStockphoto/BrianAJackson

Proteção ao patrimônio mesmo com renda variável

Apesar de uma parte pequena do COE estruturado por um banco ser destinado à renda variável, é possível encontrar produtos que impedem que o patrimônio do investidor "derreta" no caso de desvalorização de um de seus ativos.

As modalidades mais comuns de COE estão divididas entre Valor Nominal Protegido e Valor Nominal em Risco. No caso do Protegido, o investidor tem a garantia de receber, na pior das hipóteses, o total do valor aplicado. Por exemplo, se foram aplicados ao longo de três anos R$ 100 mil, mesmo que a renda variável à qual o COE está atrelado tenha resultado negativo, os mesmos R$ 100 mil voltarão ao seu dono na íntegra.

Se o COE seguir a modalidade Valor Nominal em Risco, no caso de perda não existe a garantia de restituição do valor aplicado, ou seja, é preciso estar preparado para um cenário de perda.

Essas informações devem ser apresentadas pelo chamado "distribuidor do COE", que pode ser a corretora ou o banco. As características fazem parte do Documento de Informações Essenciais, o DIE, assim como o nome do banco emissor do certificado, a rentabilidade, o prazo de investimento (que pode variar de seis meses, menos comum, a cinco anos) e as regras para o caso de perdas ou de ganhos.

Quem busca uma liquidez maior, vai ter de abrir mão do retorno. Já COE com um prazo maior, apesar da chance de retorno, pode apresentar um risco maior, porque está sujeito ao longo do tempo a uma gama grande de cenários.
Sérgio Franco, head de Produtos de Renda Variável da Órama

Ganho limitado

Se de um lado quem investe no COE tem uma proteção que "trava" as perdas e não corrói o patrimônio aplicado, também tem os ganhos limitados, segundo o que for contratado.

Mesmo que os ativos em renda variável —como ações ou commodities— rendam mais do que está definido no COE, não será pago ao investidor nada acima do teto. Se o contrato diz que o teto de rentabilidade é de até 15%, e as commodities subirem durante a validade do contrato 16%, essa diferença não é repassada ao dono do capital.

Os prós

O COE é uma alternativa ao investidor de, mesmo com pouco recurso, ter acesso a produtos financeiros mais sofisticados e diversificados, como as ações negociadas no exterior ou índices americanos. Outra vantagem é a proteção do patrimônio em caso de sobressaltos no mercado financeiro.

"Como o COE permite ter estruturas de capital protegido, o investidor pode não colher o leite, mas não mata a vaca", disse Sérgio Franco, head de Produtos de Renda Variável da Órama.

Já Musa, da Acqua Investimentos, lembra que existe um modelo de COE, chamado de bidirecional, que permite a possibilidade de ganho não apenas quando o ativo sobe, mas também na sua baixa.

Os contras

O investidor, no entanto, deve ponderar algumas características. Quem tenta sair do COE antes do seu vencimento pode não conseguir um bom preço e ter de negociar com deságio, por isso o certificado tem de ser tratado como um investimento de longo prazo.

A tabela do Imposto de Renda é regressiva, portanto, só há vantagem tributária, com o pagamento de alíquota mínima de 17,5% no período de 361 a 720 dias. Se o saque for em até 180 dias, vale a alíquota cheia de 22,5%.

O limite de ganho máximo pode frustrar o investidor se o ativo em renda variável atrelado ao seu COE tiver um desempenho muito bom.

Por último, o COE não está sob o guarda-chuva do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que garante o ressarcimento ao investimento de até R$ 250 mil em caso de quebra da instituição financeira emissora.

Sem comparação

Segundo Thaís Maiochi de Oliveira, sócia da CMS Invest, por causa das suas características —cada certificado é estruturado de forma diferente pelo banco emissor— não é possível dizer quanto o COE rendeu nos últimos 12 meses, por exemplo, e o seu comportamento em relação ao Ibovespa.

Pexels
Topo