CEMITÉRIO DE EMPRESAS

Giro por São Paulo registra o fim de bares, restaurantes e cafés na pandemia

Caio Kenji e Reinaldo Canato, colaboração para UOL

Considerada a capital gastronômica do Brasil, São Paulo viu a crise causada pela pandemia de coronavírus sufocar milhares de estabelecimentos, até que fechassem as portas. A cidade perdeu 12 mil bares e restaurantes na pandemia, de acordo com a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), alguns deles antigos e tradicionais, como o Pasv. O UOL circulou pela cidade para registrar essas perdas.

O bar Mandíbula fechou em 14 de abril, um dia antes de completar seis anos de funcionamento. Frequentado por roqueiros, ficava na galeria Metrópole, na região central de São Paulo.

"Tentamos trazer uma vida nova para um dos espaços mais incríveis de São Paulo. Mas as restrições para o funcionamento noturno e intransigências deliberadas nos sufocaram gradativamente. Com o 'coronga' à solta e o negócio fechado, não temos outra escolha a não ser fecharmos as portas", informou o bar na época.

Os donos afirmaram que podem voltar. "Dizemos adeus à 'nanopista', mas não ao Mandíbula. A marca continua e ainda pretendemos causar muito na cidade, um pouco mais para a frente, quando a vida voltar ao normal, seja lá qual for o novo normal de que tanto se fala."

A chef de cozinha de cozinha Bel Coelho anunciou em julho o fechamento do restaurante Clandestino, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo.

"Infelizmente, essa semana tomei a difícil decisão de fechar minha cozinha, onde funcionou o Clandestino por sete anos. Sem abrir e com uma receita em 15% da média anterior à pandemia, não consegui segurar as pontas. Foram muitos Clandestinos, cantos da Bel, jantares e alegrias vividas naquele beco", informou a chef nas redes sociais.

PUBLICIDADE

Bel afirmou que o fechamento não é permanente. "O Clandestino nasceu em casa, mudou-se para o extinto Dui e teve seu período mais longo ali naquele canto. Ele não fechou, nem fechará, até eu me aposentar, mas faz uma pausa enquanto aglomerações representarem uma ameaça à nossa saúde. Em breve, vou abri-lo em novo endereço e com novo menu."

O delivery do restaurante continua funcionando.

Desde 1970 na avenida São João, na região central de São Paulo, o tradicional restaurante Pasv encerrou suas atividades em abril. O local era conhecido pelos pratos fartos, que iam da gastronomia espanhola a pratos brasileiros e churrasco.

O nome Pasv surgiu das iniciais dos primeiros sócios: Perez, Ares, Salcines e Villaverde.

O restaurante, com um salão simples, de azulejos antigos, já enfrentava problemas antes da pandemia. Com a quarentena, os sócios tomaram a decisão de fechar.

"Ali estava eu, numa sexta-feira, em frente ao Pasv, na avenida São João. Fiz as fotos da fachada, então entrei no carro, fechei os olhos e puxei em minha memória o sabor e o cheiro da simples e saborosa comida."


Reinaldo Canato, repórter fotográfico

A pandemia também atingiu o restaurante La Frontera, de cozinha sul-americana, desde 2006 ao lado do cemitério da Consolação, em São Paulo.

O salão, em uma casa com janelões que garantiam iluminação natural, fechou em março.

A rede de cafeterias Octávio Café anunciou o encerramento da unidade da avenida Faria Lima, zona oeste de São Paulo, em julho.

A cafeteria em forma de xícara ficava em um terreno de 1.600 metros quadrados e foi fundada pelo ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, em 2007. Na época, foi anunciada como a maior cafeteria da América Latina. O nome é uma homenagem ao pai do ex-governador.

PUBLICIDADE

Além da unidade Faria Lima, fechou o café do shopping Cidade Jardim, também em julho.

Na época, a rede disse que "a crise gerada pela pandemia e o cenário incerto de reabertura das unidades foram fatores determinantes para a decisão de fechamento dos espaços".

Localizado em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, o restaurante Albertina, de comida italiana, não sobreviveu.

"Amigos, clientes e parceiros: é com muita tristeza que anunciamos o fechamento do nosso restaurante. Apesar de todas as nossas conquistas nos meses pré-pandemia (clientes felizes, casa a cada dia mais cheia, cardápio amadurecendo, premiações e uma equipe incrível), o cenário não é nada favorável para bares e restaurantes, ainda mais para locais pequenos, como nós", informaram em julho, nas redes sociais.

"Tentamos manter todos os nossos funcionários e também nos adaptar, mas uma operação apenas pelo delivery e/ou com capacidade do salão muito reduzida torna inviável continuarmos no momento. É melhor encerrarmos por hora e refletirmos, repensarmos nosso futuro, além de garantirmos que estejamos saudáveis físico e mentalmente."

Desde 2007 na alameda Lorena, nos Jardins, o restaurante Pettirosso fechou as portas na pandemia.

Era especializado em comida típica de Roma, na Itália, com cardápio que reunia opções de massas, carnes, peixes e frutos do mar.

PUBLICIDADE

O restaurante libanês Abu-Zuz funcionava desde 1989 no Brás, região central de São Paulo. Trazia tempero caseiro e pratos árabes poucos conhecidos no Brasil.

O estabelecimento tentou se adaptar ao delivery, mas não teve sucesso. Sem conseguir uma linha de crédito para ajudar nesse período de pandemia, decidiu fechar em junho.

"Retornei para minha casa triste, pensando nos garçons e outros funcionários que ficaram sem emprego. Nos proprietários que perderam o negócio e herdaram as dívidas. Nos clientes saudosos e famintos que não poderão comer um sanduíche de miolo de boi no Abu-Zuz."


Reinaldo Canato, repórter fotográfico

Publicado em 12 de novembro de 2020.


Edição: Mariana Bomfim

Redação: Thâmara Kaoru

Edição de Imagens: Lucas Lima

Fotos: Caio Kenji e Reinaldo Canato