Bancando a faculdade

Se o seu sonho é ter ensino superior completo, saiba quanto é preciso poupar e veja dicas para chegar lá

Maria Carolina Abe Do UOL, em São Paulo Guilherme Henrique

Primeiro passo

Fazer uma faculdade é um investimento de tempo e dinheiro em sua vida pessoal e profissional. Por isso, especialistas recomendam pensar bem antes da escolha do curso e da universidade.

"Sugerimos fazer um curso de autoconhecimento ou um curso para definir a carreira. Pensar qual é o seu sonho grande, o que você quer fazer no futuro, e como planejar o passo a passo para alcançar esse sonho profissional", afirma Juliana Kagami, responsável pelo programa de líderes da Fundação Estudar.

"Siga sua vocação e seu sonho, mas pesquise também as profissões. O que vou fazer com isso [faculdade] depois, que campo de atuação eu vou ter? Isso ajuda a concretizar o valor profissional que vai ter no curso, além da realização pessoal", diz Thais de Jesus, diretora de Planejamento e Desenvolvimento de Produto Acadêmico da Kroton.

Curso escolhido. Então, pronto! Para muitos, é chegado o primeiro boleto da vida.

Você se torna adulto a partir do momento em que tem um boleto em seu nome para pagar

Marco Antônio Cordeiro, Coordenador e professor do curso de Ciências Contábeis da Anhanguera Osasco

Quanto deve custar este sonho (estimativa):

  • De R$ 3.000 a R$ 6.000

    Cursos à distância (EAD) tendem a ter custos bem mais baixos que os presenciais, com mensalidade entre R$ 250 e R$ 400

  • De R$ 5.000 a R$ 9.000

    Cursos tecnólogos presenciais, com duração de 2 a 3 anos, custam de R$ 300 a 500 mês, em média

  • De R$ 9.000 a R$ 18 mil

    Cursos presenciais de bacharelado têm mensalidade variando entre R$ 700 e R$ 1.200, em média

  • A partir de R$ 360 mil

    Cursos mais caros (e mais longos), como medicina, chegam a custar, pelo menos, R$ 5.000 por mês

[O total de gastos] Depende do padrão de vida, do local onde quer morar, da distância do campus.

Juliana Kagami, responsável pelo programa de líderes da Fundação Estudar

Dependendo do tipo de curso, você vai precisar de mais rigor para planejar esse projeto. Vai depender do contexto de renda, se o estudante já trabalha, se a família tem dinheiro.

Eliane Tanabe, fundadora da Splendys Planejamento Financeiro Pessoal

O jovem que sonha em fazer medicina, se não tiver nota altíssima de Enem, se não conseguir uma faculdade pública, é muito difícil para a família bancar esse curso.

Marco Antônio Cordeiro, coordenador do curso de Ciências Contábeis da Anhanguera Osasco

Além do curso em si, é preciso levar em conta outros gastos

  • Matrícula e mensalidade

  • Livros, cópias e outros materiais ou equipamentos de estudo

  • Transporte

  • Alimentação

  • Moradia

  • Roupas

  • Internet e telefonia

  • Lazer

Como se organizar e conseguir bancar o sonho da faculdade

  • Poupar durante o ensino médio

    Se o jovem (ou a família) começar a guardar, pelo menos, R$ 200/mês nos três anos de ensino médio, ele já chega ao vestibular tendo guardado até metade do valor da faculdade

  • Trabalhar de dia, estudar à noite

    Para a grande parte dos jovens que não têm dinheiro guardado, uma saída é escolher uma faculdade que tenha aulas à noite e trabalhar durante o dia

  • Estágio ou trabalho de férias

    Se a faculdade permitir, busque um programas de estágio ou de férias como forma de levantar dinheiro ao longo da faculdade, além de ganhar experiência profissional

  • Trabalhos "alternativos"

    Não tem emprego ou não pode trabalhar durante o dia? Tente fazer "bicos" de fim de semana, como entregas ou serviços pela internet

  • Fazer seu orçamento

    É preciso saber exatamente o quanto ganha e o quanto gasta com cada coisa, incluindo aí o boleto da faculdade. O ideal é fazer isto para o resto da vida.

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  • Revisar suas despesas

    Pensar onde pode economizar. Por exemplo: tentar economizar com a tarifa bancária transformando a conta corrente em conta poupança, checar se seu pacote de dados do celular é adequado para seu uso

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  • Controlar o orçamento

    Definir limites para as despesas --por exemplo, quanto pode gastar por semana com lazer, quanto pode gastar por mês no cartão de crédito. Anotar tudo e controlar os gastos ao longo do mês.

Lições de quem já passou por isto

Alan Soares, 24, idealizador do projeto Boletinhos, formou-se em Publicidade em 2018. Ele dá cinco dicas para quem sonha em fazer uma faculdade:

1. Pesquisar todas as opções do curso

Descobrir que faculdades oferecem o curso, inclusive fora de sua cidade, quais os valores, as condições de pagamento e as condições de ingresso. Comparar as opções.

2. Conhecer as alternativas de pagamento, bolsa e financiamento

Buscar os auxílios que existem e o que precisa ser feito para conseguir cada um. Entre eles, o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o Sisu (Sistema de Seleção Unificada). Descobrir se a faculdade tem bolsas e pesquisar opções de financiamento nos bancos, checando quais as taxas e condições de pagamento.

3. Colocar no papel tudo o que vai ser necessário para pagar os estudos

Pesquisar quantas disciplinas tem o curso, qual o valor de cada uma e quantas é preciso cursar em cada semestre. Também considerar o material didático. É preciso, ainda, levar em conta o transporte, principalmente para quem for estudar em uma cidade vizinha. Quem vai morar mais longe tem de ver as opções de acomodação: aluguel, dividir apartamento, dividir quarto, residência estudantil etc.

4. Começar a economizar desde já

É preciso economizar para fazer uma reserva de emergência e também para se adaptar, o quanto antes, a essa nova realidade financeira, que vai mudar bastante a partir do ingresso na faculdade. Começar a cortar gastos, procurar opções mais baratas do que as que consome hoje. Começar a investir, mesmo que seja um valor baixo, para criar o hábito.

5. Preparar-se psicologicamente

As dificuldades financeiras, a preocupação com o pagamento da faculdade e conciliar trabalho e estudos estão entre as principais causas de estresse entre os universitários. Não se esqueça de cuidar de si mesmo e da saúde mental.

Juntou o dinheiro? Como investir

Parabéns, você conseguiu o mais difícil: guardar o dinheiro. "O principal é começar com a prática de guardar. Mesmo que não tenha uma remuneração tão alta, guardar já é um grande feito", disse Marco Antônio Cordeiro, da Anhanguera Osasco.

Investimentos conservadores são mais indicados

A planejadora financeira Eliane Tanabe recomenda colocar esses recursos em uma aplicação conservadora —como poupança, CDB e Tesouro Direto.

"Sugiro sempre produtos mais conservadores, porque são recursos necessários que devem estar disponíveis para o estudante pagar o que precisa num plano de até cinco anos. É melhor evitar riscos para não perder esses recursos."

Divida o dinheiro de acordo com o prazo de uso

O dinheiro que vai precisar usar dentro de um ano, ela recomenda deixar em aplicações com mais liquidez. Ou seja, fáceis de sacar sem perda. "Pode ser uma poupança, um fundo DI, produtos que gerem a possibilidade de utilizar o recurso imediatamente, mas onde o saldo sempre ficar rendendo um pouco."

Para o restante do dinheiro, Eliane recomenda "opções conservadoras, mas de médio e longo prazo". "Títulos privados, LCI, LCA, títulos públicos e alguns fundos de investimentos mais conservadores, produtos atrelados à inflação."

É pouco dinheiro. Dá para investir mesmo assim?

"Os investimentos hoje são muito acessíveis. Com R$ 30, R$ 100, você já consegue fazer seus investimentos financeiros em produtos conservadores", afirmou a planejadora financeira.

Não conseguiu poupar? Veja alternativas

  • Prouni

    O Programa Universidade para Todos (Prouni), do governo federal, oferece bolsas de estudo integrais ou parciais (50%) em faculdades particulares. É preciso comprovar que a família é de baixa renda, fazer pelo menos 450 pontos no Enem e não ter ainda diploma de ensino superior.

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  • Bolsas de estudo

    Algumas escolas --como FGV, Insper e PUC-- oferecem bolsas de estudo para alunos de baixa renda e/ou com melhor desempenho no vestibular. Procure se informar na sua faculdade. Também há instituições que oferecem bolsas, como a Fundação Estudar e o Instituto Semear.

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  • Fies

    O Fies é o programa de financiamento do governo federal para faculdades particulares com taxa zero. Pode se inscrever na seleção quem fez pelo menos 450 pontos no Enem, não zerou a redação e tem renda familiar mensal bruta, por pessoa, de até três salários mínimos (R$ 3.135, em 2020).

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  • Financiamento na faculdade

    Verifique se sua escola oferece crédito estudantil, pois boa parte das faculdades têm seus próprios programas de financiamento, e os juros costumam ser menores que nos bancos. Verifique com atenção as condições de pagamento (taxas e prazos).

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  • Financiamento no banco

    Alguns bancos têm financiamento estudantil. O Santander financia faculdade de medicina (com taxa a partir de 1,39% ao mês) e pós-graduação (a partir de 1,99% ao mês). O Bradesco (0 a 1,49% a.m.) e a fintech Pravaler (0 a 2% a.m.) oferecem crédito para cursos em faculdades conveniadas. A maioria exige fiador/avalista.

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Vale a pena tudo isso?

É fato que a faculdade vai lhe custar tempo e dinheiro. Segundo Cordeiro, da Anhanguera, é importante ter isso sempre em mente. "Ele [o estudante] tem que exigir bastante desse serviço. Esse serviço é que vai mudar ou determinar a vida dele no longo prazo."

O Brasil é um dos países onde há a maior diferença de renda entre quem tem e quem não tem ensino superior, destaca Thais, da Kroton. "Ter esse diploma faz diferença no mercado de trabalho. O que a gente vê em termos de resultado: quem sai da faculdade tem um aumento significativo no leque de oportunidades profissionais, consequentemente de renda, e na vida da pessoa e da família. Ao mesmo tempo, acaba tendo melhor exposição ao risco em crises como a que estamos vivendo hoje."

Quando o jovem ou a família do jovem vai tentar uma instrução, deve pensar que a faculdade é um investimento, não uma despesa.

Marco Antônio Cordeiro, coordenador e professor do curso de Ciências Contábeis da Anhanguera Osasco

Uma das conquistas mais marcantes na vida é a formação. Faça uma reflexão antes: como quer começar e como quer terminar essa jornada.

Eliane Tanabe, fundadora da Splendys Planejamento Financeiro Pessoal

O ensino superior traz mais oportunidades e redução de risco. Em momentos de crise, quem tem ensino superior acaba sendo menos impactado.

Thais de Jesus, diretora de Planejamento e Desenvolvimento de Produto Acadêmico da Kroton

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