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Agente autônomo de investimentos, consultor, planejador financeiro: com tantas opções, como escolher?

Wal Azevedo Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto
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O mercado oferece diferentes opções de serviços voltados aos investimentos Há agentes autônomos de investimentos, consultores de investimentos e planejadores financeiros.

Como escolher o mais adequado à sua necessidade?

Especialistas ouvidos pelo UOL explicam o que considerar na condução dos seus investimentos e como fazer escolhas alinhadas ao que você realmente precisa.

Entenda o que faz cada profissional

Agente autônomo de investimento (AAI)

O que faz: Atua de forma autônoma, mas é legalmente representante comercial de instituições financeiras, como as corretoras. Eles vão em busca de novos clientes para a corretora, podem passar informações sobre produtos e serviços e registrar as ordens de investimentos de seus clientes. Mas não podem recomendar investimentos, nem administrar carteira dos aplicadores.

Autorização: Precisam prestar exame para ter credenciamento pela Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord).

Quem paga: Quem paga os serviços do agente autônomo é a instituição financeira. Ele ganha uma comissão por produto ou serviço vendido ao cliente. Por exemplo, quando convence um cliente a investir em um certo fundo, o agente autônomo recebe da corretora uma comissão.

Consultor de Investimento

O que faz: Quem o contrata é o investidor. O consultor financeiro pode explicar os investimentos e oferecer recomendações sobre os produtos. Mas na hora de fazer a aplicação, é o investidor que tem que dar a ordem. Ou seja, o consultor financeiro não pode dar ordens de investimentos no lugar do cliente.

Autorização: Para atuar, precisa de certificado emitido pela Anbima e autorização pela CVM.

Quem paga: O consultor financeiro é pago pelo cliente. Pode ser uma taxa fixa mensal ou anual, normalmente um percentual do que o investidor tem para aplicar.

Planejador financeiro

O que faz: Esse profissional não trata apenas de investimentos, mas de toda a vida financeira de uma pessoa. O objetivo dele é ajudar a pessoa e cuidar do orçamento, como começar a fazer poupança e, então, a investir.

Autorização: Precisa de um certificado chamado Certified Financial Planner (CFP), emitido pelo Financial Planning Standards Board (FPSB), cuja certificação é realizada no Brasil pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar).

Quem paga: Assim como o consultor financeiro, o planejador financeiro também é pago pelo cliente, em uma taxa calculada a partir do tamanho da carteira.

O consultor olha o mercado como um todo, enquanto o AAI só pode oferecer produtos disponíveis nas instituições com as quais ele tem vínculo.

Orlando Júnior, responsável pela área de credenciamento da Ancord

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Como escolher?

Cada profissional vai oferecer serviços diferentes. Para saber qual deles escolher, é importante entender até o próprio perfil, se tem conhecimento do mercado ou se é leigo no assunto, se tem tempo para se dedicar às tarefas necessárias para fazer os investimentos - pesquisar produtos, comparar taxas, entrar em contato com as corretoras, checar saldos - e se gosta ou não de autonomia para investir.

Segundo Luiz Felipe Abreu, coordenador de produtos para empresas na Órama Investimentos, o cliente deve buscar referências sobre a assessoria e pesquisar se o serviço oferecido está em linha com seus objetivos financeiros. Um planejador financeiro, por exemplo, cuida de toda a vida financeira do cliente e pode orientar muito além de como investir.

Hoje, falamos também da importância da construção de um planejamento patrimonial, que vai além de investir. É criar estratégias de proteção, consolidação e, até mesmo, sucessão de patrimônio. Então o cliente precisa conhecer a empresa e avaliar se os valores dela casam com os dele.
Pier Mattei, CEO da Monte Bravo Investimentos

Jayme Carvalho, conselheiro da Planejar, destaca a necessidade de entender como a empresa trabalha, sob qual modelo de remuneração, se quem paga é o cliente ou uma corretora. Isso também deve entrar na conta na hora de escolher um profissional ou serviço.

É preciso saber se o cliente paga pelos serviços através de comissão ou se paga uma taxa mensal ou anual. Deve verificar qual o time da assessoria, experiência dos profissionais, certificação dos funcionários.
Jayme Carvalho, conselheiro da Planejar

Guilherme Prado, chefe comercial da empresa de investimentos Fiduc, explica que os custos para esses profissionais podem ser a partir de 0,5% ao ano, que é a versão mais barata, porque se baseia no autosserviço, quando o investidor tem acesso a alguns recursos online que lhe possibilitam tomar suas próprias decisões, como cursos sobre investimentos, relatórios diários, esclarecimento de dúvidas via chatbot etc.

As taxas podem chegar a cerca de 2% ao ano mais taxa de performance, nos casos mais caros. Essa faixa inclui apenas investimentos, e pode ser ainda mais cara, se incluir finanças pessoais e acompanhamento.

A taxa de performance é o percentual cobrado quando se consegue uma rentabilidade superior ao benchmark (índice de referência). É cobrada sobre o ganho. Prado simula uma situação: um cliente investiu R$ 100 mil em um fundo que cobra 0,5% de taxa de administração e mais 20% de taxa de performance, cuja referência é o Ibovespa.

Ao final de um ano, suponha que a rentabilidade desse fundo tenha sido de 10%. Sobre esses R$ 110 mil finais, deverá ser pago 0,5% de taxa de administração (R$ 550). Além disso, considerando que o Ibovespa subiu 5% em um determinado ano, a rentabilidade do fundo superou o Ibovespa em 5%. Então, os 20% de taxa de performance serão cobrados em cima desses 5% de rentabilidade a mais, ou seja, R$ 5.000, o que dá um custo de mais R$ 1.00. Então o custo do cliente nesse investimento, ao final de um ano, é de R$ 1.550.

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Perfil do investidor é determinante no processo

Para escolher qualquer profissional, é necessário antes se conhecer. Osvaldo Cervi, diretor-executivo da Planejar, orienta: "É fundamental que o assessor faça o questionário de perfil do investidor. Todo cliente costuma se achar mais arrojado do que realmente é, e bons questionários de perfil costumam indicar essa incoerência, facilitando o alinhamento entre assessor e cliente".

Neste questionário, o cliente informará escolaridade, renda, patrimônio, conhecimento e experiência prévia com investimentos, de acordo com Prado. Baseando-se nisso, os planejadores, AAI, assessores e consultores saberão qual o caminho adequado para o investidor alcançar seus objetivos.

Fabio Foccacia, sócio e estrategista de investimentos da Santa Fé Investimentos, diz que todo cliente precisa preencher o questionário, cumprindo regra estabelecida pelos órgãos competentes.

As corretoras e distribuidoras de títulos e valores imobiliários precisam de autorização prévia do Banco Central para operar e estão sujeitas à fiscalização da própria Bolsa de Valores, da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e do Banco Central.

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Quem é o assessor de investimentos?

Jayme Carvalho, conselheiro da Planejar, explica que o assessor de investimentos ele é um profissional multifunção, com amplo conhecimento técnico de mercado financeiro, economia e produtos. Também é importante entender de finanças comportamentais.

Dentro das instituições bancárias, existe a necessidade de algumas certificações da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Há certificações que são regulatórias e dependem da atividade que o profissional exerce: como o caso da Ancord, para o agente autônomo, ou o CNPI para o analista de valores mobiliários. Outras são de excelência, nas quais o profissional busca um conhecimento maior, como o CFP®.
Jayme Carvalho, conselheiro da Planejar

Segundo Jayme Carvalho, da Planejar, cada instituição tem o seu modelo regulatório, ou seja, ao abrir uma conta bancária ou em corretora, há contrato que rege essa relação.

Luiz Felipe Abreu explica que a Órama oferece equipe de assessores especializados e certificados para quem tem investimentos a partir de R$ 30 mil.

Este perfil de investidor tem um acompanhamento constante de sua carteira, para que sejam feitas revisões e montagens de acordo com a estratégia e objetivos.
Luiz Felipe Abreu, coordenador B2B na Órama Investimentos

O mercado de investimentos está passando por grande expansão. Estão entrando players novos, players antigos estão ampliando equipes, todos estão disputando profissionais e clientes, o que deve reduzir custos e aumentar a oferta de serviços. Portanto, diante de tantas possibilidades, fique atento a recomendações de investimentos limitadas aos produtos da própria instituição.

Guilherme Prado, chefe comercial da Fiduc

O que fazer se não estiver satisfeito com os serviços?

O que todo aplicador precisa prestar atenção é nos conflitos de interesses. Um agente autônomo indicou um fundo de investimento porque é a melhor opção para o cliente, ou porque a comissão recebida por ele da corretora era a mais alta? Esse é um tipo de dúvida que já existe quando um gerente de banco sugere por exemplo, um CDB: ele fez isso porque era o mais indicado para o correntista, ou por que o produto fazia parte das metas que precisavam ser batidas pela casa?

"A verdade é que tanto o agente autônomo como o gerente de banco são prepostos de uma instituição financeira", afirma Roberto Lee, CEO da Avenue, corretora baseada em Miami, nos EUA, onde as regras para essas atividades são mais amplas que no Brasil.

O importante é que as pessoas tenham conhecimento dos modelos de forma transparente e que tomem a decisão a partir disso.
Tito Gusmão, CEO da corretora e gestora de recursos Warren

Segundo Jayme Carvalho, da Planejar, o cliente poderá sempre trocar de serviços. Mas, antes de tomar essa decisão, deve avaliar os custos de impostos, condições desfavoráveis de mercado, bem como condições de troca de custódia sem a liquidação dos ativos (ou seja, a transferência de recursos para outra instituição).

O mercado de corretoras e agentes autônomos tem uma vantagem, pois dentro de uma mesma instituição, o cliente pode manter a custódia, trocando apenas de assessor. Inclusive pode trocar de modelo, de AAI para consultoria de valores mobiliários e vice-versa.
Jayme Carvalho, conselheiro da Planejar


Vinicius Bendelá, chefe de Assessoria de Investimentos da Monte Bravo, destaca que a escolha de qual escritório vai cuidar do patrimônio é sempre do cliente. Ele pode, inclusive, ter mais de uma assessoria simultaneamente.

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