Como escolher um fundo?

Existem milhares de fundos de investimento; veja como fazer uma boa seleção para seu dinheiro render mais

Rejane Aguiar Colaboração para o UOL, de São Paulo Getty Images/iStockphoto

Orçamento ajustado, planos estabelecidos, recursos disponíveis para investimento. Chega então a hora de escolher alguns entre os milhares de fundos ofertados no Brasil. A variedade de opções mostra o amadurecimento do mercado, mas também coloca um desafio para o investidor: afinal, como selecionar os produtos? Como identificar os que são mais adequados para cada meta financeira?

Dá um certo trabalho, mas é possível traçar um bom caminho usando orientações do regulador —a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de entidades ligadas ao mercado e de especialistas. Vale lembrar que essas dicas não são totalmente válidas para fundos de previdência e fundos imobiliários, por exemplo, que têm outras particularidades.

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Classes, gestão e estratégia

A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) oferece uma boa rota para o investidor conhecer um pouco mais da estrutura da indústria brasileira de fundos. Nela, os produtos são divididos em três níveis: classes de ativos, tipo de gestão e estratégia. Para fazer a avaliação de um fundo, o investidor pode observar esses três parâmetros.

A Anbima atua como entidade autorreguladora da indústria de fundos, agregando participantes e trabalhando em conjunto com o órgão regulador (a CVM). Por isso, é uma boa referência para quem busca saber mais sobre o mercado brasileiro.

Classes de ativos

  • Renda fixa: ativos como títulos públicos e privados (dívidas de empresas)
  • Renda variável: ações negociadas em Bolsa
  • Multimercados: combinam ativos de renda fixa, renda variável e moedas
  • Fundos cambiais: compostos de moedas estrangeiras

Tipos de gestão

Em linhas gerais, a gestão de um fundo de investimento pode ser ativa ou passiva. No primeiro caso, o gestor adquire para a carteira do fundo ativos que considera os mais adequados para obter o retorno desejado, e nas quantidades que achar suficientes (dentro, claro, das regras da CVM para cada tipo de fundo). Isso significa que ele tem uma certa liberdade de escolha de papéis.

Nos fundos passivos, o gestor se limita a comprar ativos que repliquem um determinado benchmark —as mesmas ações do Ibovespa e em proporções semelhantes, por exemplo— para acompanhar o desempenho desse parâmetro. O trabalho do gestor passivo é muito menos flexível, portanto.

Estratégias

Os fundos também podem ser avaliados conforme a estratégia que adotam para alcançar o retorno desejado. Essas estratégias são muito diversas, englobando desde compras de ações de empresas de menor porte (small caps) até sofisticadas operações que incluem derivativos financeiros e o mercado de opções sobre ações.

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Mercado de trilhões

É notório o desenvolvimento do mercado brasileiro de fundos de investimento.

De acordo com dados da mais recente edição do Anuário da Indústria de Fundos, trabalho do Centro de Estudos em Finanças da FGV (FGV-CEF), o patrimônio líquido saltou de R$ 5,4 trilhões em 2019 para R$ 6,05 trilhões em 2020, um avanço de 10,7% (alta de 5,9% se descontada a inflação medida pelo IPCA).

Segundo o anuário, no ano passado, mesmo em meio à crise da pandemia, foram abertos 3.201 fundos, o que representou uma alta de 16,6%.

A avaliação de um fundo conforme as subdivisões em classes de ativos, tipo de gestão e estratégias deve se somar à determinação do perfil de risco do investidor.

O investidor deve saber se seu perfil de tolerância ao risco é agressivo, moderado ou conservador. E vale um aviso importante: rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura. Ou seja, não é porque um fundo teve grandes ganhos no passado que vai conseguir manter o desempenho indefinidamente.

Letícia Camargo, planejadora financeira CFP da Planejar

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Taxas de administração e tributos

Outros pontos que devem ser incluídos na avaliação são referentes a custos —principalmente taxas de administração e tributos.

Segundo Letícia Camargo, planejadora financeira CFP da Planejar, é preciso que o investidor faça uma comparação justa dos fundos quanto às taxas de administração. Não adianta escolher apenas com base nos que cobram menos, principalmente porque o trabalho dos gestores pode ser bastante diferente. Um fundo de gestão ativa exige muito mais dos gestores do que outro que apenas replique uma carteira de índice.

A taxa de administração, cabe lembrar, é a remuneração do trabalho do gestor. Em geral, nas divulgações dos fundos as rentabilidades já estão líquidas das taxas de administração.

Ela também recomenda a avaliação do tipo de tributação a que o fundo está sujeito. Os impostos variam muito a depender da aplicação, mas há uma regra geral para os fundos de ações: o investidor paga uma alíquota fixa de 15% sobre os rendimentos. Para as outras modalidades, as tabelas de tributação devem estar no material informativo de cada fundo.

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Ajuda de quem faz as regras

Uma excelente fonte de informação sobre fundos no Brasil é o próprio regulador, a CVM, que mantém um completo portal de orientação para os investidores. O superintendente de relação com investidores institucionais, Daniel Maeda, ressalta que proteger e orientar os investidores são duas das principais missões da autarquia.

Os fundos de investimento no Brasil estão sob regulação da CVM. Os agentes responsáveis —gestores, administradores e custodiantes, por exemplo— devem seguir estritamente o que determinam as normas e de tempos em tempos enviar informações sobre os fundos para a CVM.

Maeda enumera algumas dicas para uma boa seleção de fundos.

Consulta

Vale a pena o investidor conferir no site da CVM se o fundo de fato existe e se está devidamente registrado para funcionar.

Pesquisa sobre gestor

Tão importante quanto a escolha do fundo, é a seleção do gestor. É recomendável que o investidor pesquise sobre o histórico e a reputação de quem ficará responsável pela gestão do dinheiro que pretende aplicar.

Esse levantamento pode mostrar se o gestor, considerando todos os fundos que estão sob sua responsabilidade, tem ou já teve algum problema com a CVM. Acontece, por exemplo, de gestores não apresentarem ao regulador informações exigidas pelas normas dentro do prazo.

Essa não é uma infração que resulte em punições mais graves, como suspensões, mas indica que o gestor pode também não ser cuidadoso no trato com o dinheiro dos cotistas.

Saber quem é o gestor de um fundo é ponto central na escolha, pois ele implementa as políticas e as estratégias de investimento.
Daniel Maeda, superintendente de relação com investidores institucionais da CVM

Liquidez

A boa escolha de um fundo exige atenção à liquidez —ou seja, ao período mínimo em que o dinheiro precisa ficar aplicado, sem possibilidade de resgate.

Investir em fundos pouco líquidos normalmente oferece ganhos maiores, mas o investidor precisa ter convicção de que não vai precisar dos recursos antes de determinado intervalo. Se optar por esses fundos, deve ter avaliado muito bem o gestor, porque não terá como mudar antes do prazo.

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