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O que é reserva de emergência, como fazer, quanto guardar e onde investir

Paula Pacheco Colaboração para o UOL megaflopp/iS

Em uma situação inesperada, um dos piores cenários é não poder contar com recursos para levar o problema a cabo. Pode ser a perda do emprego, um caso de doença na família, uma manutenção urgente em casa - algo que exija dinheiro de uma hora para outra. O planejamento financeiro é essencial para evitar dores de cabeça mesmo diante de algum imprevisto.

Seja qual for a renda, quem decide poupar parte dos ganhos ao longo da vida deve ter como prioridade a formação de uma reserva de emergência - um investimento do qual se possa dispor rapidamente, ou seja, que tenha liquidez. É aquele dinheiro que, em vez de ficar debaixo do colchão, permanece protegido das perdas inflacionárias ou oscilações da renda variável, como as ações, por meio de um investimento conservador.

Costumo dizer que a reserva de emergência é o dinheiro da dor de barriga. Precisa ter liquidez para usar rápido e não pode correr o risco de valer menos do que o aplicado inicialmente

Nayara Boer, Sócia da Renova Invest e assessora de investimentos

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Orçamento: destine parte da renda para a reserva

Por onde começar?

A reserva emergencial deve ser feita de forma planejada para que não falte dinheiro em um caso de necessidade. Da mesma forma, o valor deve ser bem calculado para que os recursos que poderiam crescer em um produto de renda variável, em produtos de longo prazo, não estejam disponíveis desnecessariamente para uma demanda de curto prazo.

Uma forma de começar a se organizar é o usar o conceito de autopagamento. Todo início de mês há várias contas para pagar, como água, luz, cartão de crédito. Se coloque como uma parcela também, destine aquele valor para o seu futuro e o encaixe como parte do orçamento. Desse valor deve sair a parte destinada à reserva de emergência e aquela que só será usada no longo prazo, para a aposentadoria ou aquisição programada de um bem, como um imóvel.
Yuri Cavalcante, sócio da Aplix Investimentos

Quanto guardar na reserva de emergência?

Definida a estratégia para ter disciplina na hora de poupar, é a vez de saber quanto será necessário ter na reserva de emergência. Não há unanimidade entre os especialistas ouvidos pelo UOL. O valor pode ser a soma de 4 a 12 meses do custo de vida mensal. Quem tem despesas de R$ 5.000 por mês, por exemplo, na estimativa mais modesta deve ter R$ 20 mil guardados para uma situação inesperada. Na situação ideal, seriam R$ 60 mil.

O total de meses que deve entrar no cálculo está relacionado ao perfil do investidor. Uma pessoa que tem um cargo público concursado (portanto, longe do risco de ser demitido), mora com os pais, não tem filhos e administra uma despesa pequena vai precisar de uma reserva menor do que aquela que é profissional liberal, tem sentido os efeitos da crise na economia, precisa pagar a escola particular dos filhos e arcar com outras contas. Em média, os analistas avaliam que seja necessário ter uma reserva para pelo menos seis meses.

É uma decisão muito pessoal. Vai depender do tipo de trabalho que tem e o tempo que pode levar para se firmar novamente, se é autônomo, se têm pessoas que dependem de você. A dica é olhar para o total de gastos e pensar que vai precisar de um valor reservado para pagar as despesas e sobreviver ao longo dos próximos meses.
Flavia Montoro, da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar)

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Yuri Cavalcante, da Aplix Investimentos

Onde deixar o dinheiro?

Feito o cálculo para saber de quanto deve ser o colchão financeiro, é preciso definir onde investir. Os produtos de renda fixa - títulos privados emitidos por instituições financeiras - são os mais indicados por poderem ser resgatados rapidamente. São de alta liquidez e baixa volatilidade. Nessa modalidade, o investidor tem uma previsão muito próxima de quanto poderá ganhar logo no momento de fazer o aporte, ou seja, há previsibilidade.

A dica de Yuri Cavalcante, da Aplix Investimentos, é mirar os produtos de renda fixa com liquidez diária e, de preferência, um pós-fixado atrelado ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI). De uma maneira geral, esses fundos pagam de 97% a 105% do CDI. Em 12 meses, o rendimento líquido vai oscilar na casa dos 6%.

Opções de investimento para formar a reserva de emergência:

  • Tesouro Selic: são títulos públicos de renda fixa, emitidos pelo Tesouro Nacional, atrelados à taxa básica de juros.
  • CDBs com liquidez diária: os Certificados de Depósito Bancário são títulos privados pós-fixados emitidos por instituições financeiras com prazo e taxa definidos no momento da compra. Eles seguem a taxa CDI que, por sua vez, tem valor semelhante à Selic. Esse título conta com a cobertura do Fundo Garantidos de créditos (FGC) de até R$ 250 mil (por emissor e por CPF). Trata-se do reembolso máximo no caso de quebra da instituição. A recomendação é procurar instituições reconhecidas, que têm liquidez.
  • Fundo DI: os fundos de renda fixa atrelados à taxa DI. Esse produto deve investir pelo menos 95% do seu patrimônio em títulos públicos atrelados à Selic. Deve-se ter cuidado para as regras de valor mínimo de resgate.
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A reserva de emergência não tem como objetivo buscar uma rentabilidade maior

Rentabilidade alta não é a meta

Como explica Flavia Montoro, da Planejar, a reserva de emergência não tem como objetivo buscar uma rentabilidade maior, mas ser uma parte do portfólio de investimentos que represente um dinheiro garantido para o caso de surgir uma despesa não programada no orçamento.

Portanto, não adianta escolher um investimento com expectativa de ganho maior se o vencimento do produto é para daqui a cinco anos. Em casos assim, a negociação no mercado secundário pode ser desfavorável ao investidor. Há ainda quem opte por ações, o que também não é recomendado por especialistas por causa da volatilidade.

Como o objetivo é fazer uma reserva emergencial, da qual se pode precisar inesperadamente, o investidor pode ter de negociar os papéis em um momento desfavorável, quando o seu preço está em queda. Nayara Boer, sócia da Renova Invest e assessora de investimentos, descarta também os criptoativos, fundos multimercado e qualquer outro ativo de mais volatilidade no curto prazo.

Com a queda da Selic, muitas pessoas deixaram a renda fixa de lado porque estavam atrás de uma rentabilidade maior. Mas não se monta reserva de emergência para ganhar dinheiro, e sim para enfrentar momento adversos. Por isso, não tente maximizar o rendimento se o objetivo for esse.

Guilherme Cadonhotto, Analista de renda fixa da Spiti

Mudança de hábito

Para Paulo Fróes de Oliveira, da SRM, parte do esforço relacionado à reserva de emergência passa pela reorganização financeira. Na sua opinião, a pandemia gerou efeito também no bolso das pessoas, que têm controlado mais de perto as despesas e se preocupado mais com a poupança.

Hoje, o novo normal incute aprendizado. O que se vê são pessoas buscando mais conhecimento e adotando uma nova dinâmica na organização dos gastos. Os supérfluos têm sido cada vez mais cortados da vida da maioria da população. Essa mudança de comportamento deverá ser aliada importante não só composição de uma reserva de emergência, mas nos investimentos para projetos de longo prazo.
Paulo Fróes de Olveira, diretor da SRM

Além da dica sobre planejamento financeiro, vale lembrar que caso seja necessário usar a reserva de emergência, será preciso recompô-la e garantir que haja recurso disponível para uma nova necessidade no futuro.

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