Engorda de boi

Produção de gado confinado no Brasil deve crescer 5% em 2022, diz estudo

Sebastião Nascimento Colaboração para o UOL, em São Paulo CNA/Divulgação

O número de bovinos engordados pelo sistema de confinamento subiu 1,6% neste ano. Parece pouco, mas o setor comemora porque 2021 foi difícil. A previsão para 2022 é melhor: deve ficar 5% acima das 6,5 milhões de cabeças deste ano. A previsão é dos responsáveis pelo Censo de Confinamento da empresa do setor de agro DSM.

O gado confinado é criado em locais fechados, com ração mais controlada. O boi no pasto fica solto e pode comer tanto a grama quanto a ração. O tipo de alimento interfere na qualidade da carne. Em geral, produtores de confinamento, dizem que a carne do sistema é melhor, mas estudos mostram que isso não acontece necessariamente. Os bois confinados são minoria no Brasil (cerca de 10% da produção).

Os produtores veem um cenário otimista para a pecuária de corte em 2022, com preços mais baixos de grãos como milho e soja usados na comida do gado. Neste ano, esses e outros custos de produção, como os dos bezerros para reposição, dispararam.

Pecuaristas e analistas esperam ainda condições climáticas favoráveis a partir de janeiro. Eles lembram que a seca prejudicou pastos, confinamentos e lavouras pelo país.

O ânimo é atribuído também ao retorno da China às compras de carne bovina brasileira, anunciado na quarta-feira (14). A suspensão das importações pelo país asiático, em setembro, fez a cotação da arroba cair e levou à freada nos abates por parte dos frigoríficos.

Mas também há desafios: supermercados europeus anunciaram na quinta-feira (16) a suspensão da venda de carne brasileira porque estaria vindo de áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia.

A crise econômica e o baixo poder de compra do consumidor brasileiro são outros problemas e reduziram o consumo no país.

Mesmo com a instabilidade da pecuária em 2021, atingir 6,5 milhões de cabeças confinadas agrada o setor. Isso representa alta de 1,6% em relação aos 6,4 milhões de animais em 2020 e acompanha a evolução histórica de crescimento anual. Lembrando que os 6,4 milhões de 2021 já tinham sido um recorde.

O levantamento da DSM é bastante esperado devido à amplitude e confiabilidade. Pelo menos 600 profissionais percorrem os Estados e avaliam centenas de confinamentos.

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2021, o Ano do Boi chinês

2021 é considerado o Ano do Boi pelo horóscopo chinês.

No Brasil, está sendo um tempo de desafios para a pecuária de corte e para a engorda intensiva de gado, segundo o veterinário Hugo Cunha, gerente nacional de Confinamento da DSM e um dos profissionais que percorrem as propriedades e conferem o movimentado dia a dia.

"Nossa estimativa inicial era de uma rentabilidade de 2% a 4% ao mês para este ano. Quem fechou o primeiro giro de animais confinados, de março a maio, não conseguiu e alcançou algo ao redor de 1% ao mês", afirma Cunha. Veio o embargo da China, e as fazendas que não conseguiram reter o gado chegaram até a perder caixa.

No geral, o resultado final foi positivo, com as dificuldades surgindo, sendo enfrentadas e superadas, e levando a mudanças e adaptações no sistema intensivo.

A arroba do boi (cerca de 15 kg), por exemplo, iniciou o ano cotada a até R$ 320 para os produtos direcionados à China. Depois, em setembro/outubro, recuou a R$ 250, e a recuperação veio em novembro, quando retornou a R$ 318/R$ 320 em várias regiões produtoras.

Cunha diz que a oscilação de preços foi intensa justamente em um ano onde os custos ficaram apertados.

Foram decisivas para a rentabilidade a alta tecnologia disponível nos confinamentos, que permite o abate mais cedo do gado, e a produção de carne de alta qualidade e reconhecida internacionalmente.
Hugo Cunha, gerente nacional de Confinamento

O dono de um boitel (espécie de hotel para engorda de bois) disse que uma tonelada de ureia chegou ao patamar de R$ 5.600, o dobro do valor registrado no ano passado (leia entrevista mais abaixo).

E uma das mudanças que está ocorrendo no sistema intensivo de engorda do gado é a opção do pequeno e médio produtor por transferir seus animais para os boitéis, segundo Cunha.

Lá as tarefas de alimentar o gado nos cochos e depois vendê-lo aos frigoríficos são integralmente efetuadas pelos proprietários dos boitéis.

O Censo DSM concluiu, pela primeira vez, que os boiteis atenderam 25% dos bovinos confinados em 2021, o correspondente a 1,6 milhão de cabeças.

Mais preparados tecnologicamente e ainda com facilidade para a aquisição de insumos por causa dos vultosos volumes exigidos no trato e manejo diários, os boitéis e os grandes confinamentos estão recebendo o gado dos pequenos produtores, experiência que especialistas como Cunha acreditam ter chegado para permanecer.

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Produção confinada salta 17% em SP

São Paulo é hoje o segundo maior produtor de animais em confinamento. Foram 1,122 milhão de cabeças engordadas pelo sistema neste ano, 17% a mais que em 2020.

A explicação para o salto são a presença próxima da indústria frigorífica e a facilidade para adquirir subprodutos alimentícios, como a polpa cítrica, e outros ingredientes para preparo da ração.

Mato Grosso, onde está o maior rebanho bovino do país, é o estado é líder na quantidade de animais confinados, com 1,383 milhão de cabeças.

Isso é favorecido pela profusão de lavouras como soja e milho, o que torna mais em conta a alimentação no cocho e permite bons resultados, segundo Bruno Andrade, diretor de Operações do Instituto Mato-grossense da Carne, de Cuiabá.

Andrade afirma que o investimento em tecnologia e o planejamento operacional e financeiro estão sendo fundamentais para o sistema de confinamento permanecer atrativo mesmo diante dos custos altos e da perda por três meses do mercado da China.

E, para o próximo ano, a expectativa é otimista. Ele lembra que, somente com a soja, o Brasil deve colher um novo recorde de 138,8 milhões de toneladas, alta de 3,4% em relação a 2021, segundo anunciou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Segundo Andrade, as expectativas otimistas para a pecuária e os confinamentos em 2022 estão sendo confirmados pela B3, a Bolsa de Valores.

O mercado futuro do boi gordo, para vencimento em janeiro e maio de 2022, segue com projeções acima dos valores cobrados no mercado físico em igual período de 2021. Para janeiro, a arroba foi cotada a R$ 326,1, segundo Andrade.

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Boitel aumentou participação dos pequenos

Um boitel gigante em Rancharia (SP) e um confinamento menor em Formosa (GO) confirmam a avaliação dos especialistas sobre o movimento frenético nos confinamentos gigantes e a aflição nos pequenos.

O Boitel Chaparral, de Sergio Przeiorka, deve confinar 40 mil animais neste ano, e seu proprietário espera incrementar este volume em 10% na temporada de 2022.

Przeiorka diz que foi um ano instável e que os custos do milho, da soja e da polpa cítrica "pegaram pesado". "Somados ao problema com a China, a atividade foi prejudicada", afirma. Ele falta da melhora na cotação da arroba nos últimos meses de 2021 e que espera ainda mais no ano que vem.

Przeiorka diz que o planejamento e a tecnologia do Boitel Chaparral, que dispõe de computadores no controle da alimentação dos animais, além da qualidade e do sabor da carne produzida, propiciaram rentabilidade ao negócio.

"Aqui é produzido o boi tipo exportação, e mais de 90% da oferta é destinada ao mercado externo", afirma o produtor.

Segundo Przeiorka, as variações da pecuária em 2021 levaram ao aumento da procura pelo boitel por parte dos pequenos e médios confinadores.

Chegou a 60% o número deles. Em 2022, espero novo aumento na participação dos pequenos e médios. Acredito que eles vão trazer mais gado.
Sergio Przeiorka, do Boitel Chaparral

O pecuarista Hélio Guimarães, proprietário do Confiboi, localizado em Formosa, cidade goiana a 80 km de Brasília, confirma que os pequenos produtores foram prejudicados neste ano.

Segundo ele, os preços de milho, ureia e farelo de algodão subiram demais, e ao mesmo tempo a arroba do boi caiu.

Somente a saca de milho foi a R$ 90 contra R$ 35 de anos anteriores, diz Guimarães. Ele revela que chegou a engordar em sistema intensivo 3.000 cabeças, número que reduziu à metade.

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