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Empresária não segue orientação de contador, e bancos negam crédito; erro é comum, dizem especialistas

Claudia Varella Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto
Divulgação

Ela perdeu empréstimo de R$ 35 mil por causa de R$ 1 mil

A empresária Jaqueline Garcia não seguiu a orientação de seu contador e deixou de pagar o DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional) no mês de março, no início da pandemia. O valor do tributo era R$ 972. Por causa disso, seu pedido de empréstimo de R$ 35 mil para capital de giro durante a pandemia foi negado por dois bancos.

A Caixa e o Banco do Brasil não aceitaram dar o crédito por ela não ter uma certidão negativa de débito de seu negócio.

"Meu contador me passou tudo certinho para pagar. Mas a decisão de não pagar esse tributo foi minha, ainda insegura com toda aquela situação", afirmou ela, que é dona de uma microempresa de consultoria e treinamento em Niterói (RJ).

Para regularizar a situação, Jaqueline teve que pagar o DAS atrasado (parcela de R$ 1.113). "Emprestei dinheiro da pessoa física para socorrer a pessoa jurídica", disse.

Especialistas e o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRCSP) orientam que qualquer tipo de empresa deve procurar a consultoria de um contador na hora de solicitar crédito e seguir as suas orientações.

Como colocar a contabilidade em ordem

Alguns erros que impedem sua empresa de conseguir crédito

  • Não ter documentos que demonstrem todas as operações feitas pela empresa.
  • Saídas de dinheiro sem comprovação idônea, sem notas fiscais ou documentos que as substituam.
  • Falta de controle e monitoramento dos bens da empresa (máquinas e equipamentos), o que a impede de usá-los como garantia. Isso também demonstra falta de cuidado com seu patrimônio.
  • Misturar a conta da empresa com a conta dos sócios.

Se a empresa não demonstrar que consegue gerar caixa suficiente para pagar o empréstimo, ou se já estiver com endividamento elevado ou, ainda, se não apresentar informações financeiras confiáveis, a chance de conseguir o crédito é remota.

Simone Costa, professora do curso de pós-graduação "Gestão Exponencial: Pequenas e Médias Empresas", da FIA

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Informações confiáveis da empresa ajudam a liberar o crédito

"Ter a contabilidade em dia é fundamental para a liberação de verbas e fundos governamentais. Se o balanço estiver correto, pode facilitar o acesso a linhas de crédito, pois é um princípio da transparência. Além da contabilidade bem feita, é importante que a empresa ofereça garantias e demonstre que é lucrativa e rentável. Com isso, terá mais condições de acesso a crédito", declarou José Donizete Valentina, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo.

Segundo Juliana Brito, especialista em contabilidade e auditoria de empresas, as instituições financeiras analisam as demonstrações contábeis para conseguir identificar as origens e as aplicações dos recursos da companhia, e quanto de dinheiro elas poderão liberar. "A transparência das informações e uma contabilidade impecável são fundamentais e facilitam na obtenção de um empréstimo."

Na busca ao crédito, a empresa com registros contábeis em dia ganha tempo e demonstra organização para seus credores. "Crédito significa confiança", declarou Patricia Viana, consultora financeira do Sebrae-SP.

Os bancos exigem garantias para emprestar dinheiro. Giuseppe Hilário, economista e assessor de investimentos, diz que as instituições financeiras solicitam uma série de garantias e documentos para que possam compreender a capacidade de a empresa honrar suas dívidas.

"Se a empresa não comprovar tais solicitações, mas, mesmo assim, conseguir ter acesso a linhas de crédito, o banco poderá analisar a operação como de maior risco e, portanto, cobrar taxas de juros maiores, tornando maior o custo do dinheiro para a companhia", afirmou.

Simone Costa, professora do curso de pós-graduação "Gestão Exponencial: Pequenas e Médias Empresas", da FIA (Fundação Instituto de Administração), diz que, por outro lado, quando a empresa apresenta informações confiáveis sobre sua operação e geração de caixa, o banco consegue fazer uma adequada avaliação do risco, o que pode resultar em taxas menores de juros, "se identificada uma boa situação financeira, histórico positivo de crédito e boas perspectivas futuras".

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Contabilidade em dia é sinal de responsabilidade financeira

As informações contábeis são o raio-x da saúde financeira de uma empresa. Com elas, é possível verificar se a empresa é saudável, se tem liquidez, se irá gerar caixa suficiente para quitar as dívidas, se a operação é rentável etc. São informações úteis ao investidor, credor ou governo.

"Ter a contabilidade em dia é um sinal de responsabilidade financeira, organização e boas práticas, o que certamente é visto já de início como um sinal positivo pelas instituições financeiras", afirmou Simone Costa.

A contabilidade mantém as informações da empresa organizadas para auxiliar os empreendedores na gestão de seus negócios, como no controle e na correção de possíveis inconsistências —por exemplo, operações que não foram declaradas ou informações declaradas de forma errada.

"É somente por meio da demonstração contábil que o empresário pode provar, perante as leis, tudo aquilo que foi produzido e ter as informações necessárias e sustentáveis para suas tomadas de decisões", disse José Donizete Valentina.

O trabalho de um profissional da contabilidade é como de um médico da família, que acompanha o crescimento de perto e é capaz de fazer diagnósticos precisos pelo amplo conhecimento que tem do todo.

José Donizete Valentina, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo

Os principais documentos exigidos

A maioria das instituições financeiras de grande porte exige a apresentação das demonstrações financeiras principais como parte da documentação para avaliação da concessão do crédito.

Principais documentos exigidos:

  • Balanço Patrimonial: mostra o patrimônio líquido, ao apresentar a estrutura de bens, direitos e obrigações de uma empresa. Com ele, é possível fazer a análise das origens de recursos e como eles têm sido aplicados pela organização.
  • Demonstração do Resultado do Exercício (DRE): aponta, de forma mensal ou anual, se a companhia está obtendo lucro ou prejuízo, ao cruzar as receitas da empresa com seus custos e despesas. É um relatório importante para avaliar o desempenho da empresa no período analisado.
  • Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC): demonstra todas as entradas e saídas de dinheiro da empresa. Com ele, é possível saber rapidamente a situação atual do caixa do negócio.

Tais informações podem ser completadas com faturamento dos últimos 12 meses, balancete do último trimestre, DRE projetado para o prazo da linha solicitada, Imposto de Renda dos sócios, extratos bancários, situação cadastral, certidões negativas de débito de âmbito federal, estadual e municipal, entre outras.

"Se as informações financeiras forem auditadas por um auditor independente, o nível de confiabilidade nas informações apresentadas tende a aumentar", disse Simone Costa.

Linhas de crédito governamentais têm exigências

Segundo José Donizete Valentina, cada linha de crédito governamental tem suas especificidades. Inicialmente, no Programa Emergencial de Suporte a Empregos, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por exemplo, as pequenas e médias empresas (PMEs) que procuraram pelo crédito emergencial oferecido pelo governo para pagar salários de seus funcionários deveriam primeiro quitar ou parcelar eventuais dívidas previdenciárias, o que passou a não ser mais obrigatório.

"O contribuinte com débitos relacionados à seguridade social não pode ter acesso a certos programas de crédito ou benefícios do governo. No entanto, no caso do Programa Emergencial de Suporte a Empregos, a emenda constitucional 106/2020, publicada em maio, trouxe uma exceção temporária para essa exigência, por conta da pandemia", disse.

Segundo ele, o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo também orienta os profissionais da contabilidade a auxiliar seus clientes para a adesão ao Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que prevê condições especiais de crédito para microempresas e empresas de pequeno porte com receita bruta em 2019 de até R$ 4,8 milhões.

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Procure orientação contábil na hora de solicitar empréstimo

Nem sempre as empresas, especialmente as menores, possuem especialistas nas questões financeiras, tributárias etc. O profissional da contabilidade precisa ler e se adequar às constantes alterações de leis, normas, alíquotas e enquadramentos. São conhecimentos e leituras muito específicas, que levam tempo e requerem experiência e interpretação.

"O empreendedor amparado por um bom profissional de contabilidade economiza tempo e recursos e evita multas por recolhimentos incorretos", disse Patricia Viana, Sebrae-SP.

Segundo José Donizete Valentina, nos últimos meses, os profissionais da contabilidade tiveram que colocar em prática 26 medidas provisórias, com a responsabilidade de interpretá-las corretamente e explicar aos seus clientes como cada uma influi em seu negócio.

"Em um país com uma forte e complexa política na arrecadação de impostos, o contador está junto ao empresário, mitigando riscos, propondo as melhores estratégias societárias, tributárias, trabalhistas, financeiras e de gestão", declarou.

Para ele, a orientação dos profissionais contábeis é estratégica para a sustentabilidade dos negócios, seja qual for o momento da economia. "São profissionais conhecedores de leis, estrutura de gestão, empreendedorismo e, por isso, podem atuar diretamente na governança, apontando caminhos e soluções para o direcionamento dos negócios e a retomada da economia", afirmou.

O economista Giuseppe Hilário reforça que o escritório contábil contratado deve ser idôneo, ou seja, que faça corretamente todos dos registros e relatórios contábeis necessários, bem como mantenha o empresário informado sobre os tributos fiscais devem ser pagos.

"O escritório contábil pode atrapalhar a empresa caso faça cálculos tributários errados ou deixe de informar sobre o recolhimento de algum tributo. Assim, a empresa não conseguirá obter certidões negativas junto aos órgãos públicos, e, portanto, não conseguirá fornecer toda a documentação necessária para ter acesso a linhas de crédito", declarou.

O contador deve estar próximo ao empresário e entender a fundo as operações das empresas para fazer um planejamento tributário assertivo e buscar sempre a redução de cargas tributárias embasado nas legislações.

O contador deve estar atento e atualizado para conseguir agregar valor ao seu cliente e munir os empresários de informações e medidas que podem ajudar financeiramente e até salvar a empresa.

Juliana Brito, especialista em contabilidade e auditoria de empresas

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Dicas para manter a contabilidade sadia

  • Total transparência entre empreendedor e contador. O empreendedor deve expor as reais situações para que o contador possa indicar a melhor saída.
  • Profissionais dinâmicos: Os contadores devem estar antenados e atualizados o tempo todo e seguir as normas contábeis.
  • Alimentar o fluxo de caixa da empresa. O registro diário das movimentações financeiras irá caminhar em conjunto com a escrituração contábil.
  • Manter bons níveis de liquidez, tendo um planejamento de capital de giro adequado à sua real necessidade. Posições negativas de caixa a longo prazo poderão levar à inadimplência e posterior mortalidade de uma empresa.
  • Otimização de processos de gestão de empresas. O empreendedor utilizará seu tempo para aquilo que gera valor para o cliente, ou seja, a operação e gestão do negócio. E contrata o profissional capacitado para a contabilidade, atividade que exige conhecimentos e habilidades específicas.

Giuseppe Hilário, economista e assessor de investimentos, reforça a importância de a empresa formar e manter uma reserva financeira para imprevistos.

O ideal é direcionar parte do lucro para formar e manter uma reserva de emergência para momentos de crise. Uma boa reserva varia de seis meses a um ano de custos fixos mensais. Essa reserva financeira poderá ser alocada, por exemplo, em bons fundos de investimentos de renda fixa ou multimercados, que no momento tendem a rentabilizar mais em tempos de taxas de juros baixas e possuem liquidez.

Giuseppe Hilário, economista e assessor de investimentos

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