UOL - Qual a sua avaliação sobre o futuro econômico do Brasil?
Antonio Joaquim de Oliveira - Acreditamos que o pior da crise já passou. Estamos com inflação e juros mais baixos e controlados. Existe oferta de crédito. As empresas ainda estão com fábricas fechadas, mas podem retomar. O Brasil tem um mercado forte, e as questões estruturais que levaram à crise, hoje, estão melhores.
Estamos moderadamente otimistas porque ainda temos um desafio nesse campo político importante. Estou muito preocupado com a situação política.
Vemos um governo começando, um governo com boas ideias no campo econômico, sem entrar em méritos de ideologia, uma visão liberal e próxima dos grandes empresários. Boas ideias, planos interessantes, mas eles não estão ainda acontecendo.
É um início claudicante de governo. Há uma degeneração nas expectativas de curto prazo e uma preocupação com as primeiras ações do governo. [Deve] fazer um governo não intervencionista, que favoreça e que avance no caminho das reformas. E eu falo de reformas de um modo geral. Precisamos reformar a Previdência, precisamos de uma reforma fiscal importante.
Atualmente as questões fiscais são discutidas mais no tribunal do que no dia a dia, e isso é muito ruim. [Devemos] avançar minimamente em reformas estruturantes, como a reforma política. Não faz sentido ter essa infinidade de partidos. Eu diria que, se consertarmos minimamente o país, temos todo o campo para produzir bem.
A reforma política é imprescindível. Não se consegue governar com uma situação com mais de 30 partidos no Congresso. Espero uma reforma que mantenha os contrapontos. Precisamos ter direita, esquerda, centro. Isso é natural, mas que tenhamos menos partidos e, com isso, facilitar o processo de governar.
A reforma tributária é um caso antigo do nosso país. Hoje a situação, eu diria, é caótica.
Vou dar um exemplo: temos uma operação na Colômbia e uma no Brasil. Lá na Colômbia, temos três pessoas para cuidar da área fiscal. Aqui no Brasil temos umas 300.
Há uma lei para cada município, uma para cada Estado, uma situação de recolhimento, um incentivo aqui, outro acolá, situações de tributação diferentes, confusas. É muito difícil estabelecer um novo negócio.
Costumamos dizer que o Brasil não é um país para amadores na questão empresarial. Estrangeiros têm uma dificuldade tremenda de operar no nosso país. Isso é ruim porque você deixa de atrair investimento, muitas vezes, porque a questão contábil e tributária é de um caos absurdo.
As condições estruturais do país são boas, muito interessantes. Eu me lembro que, quando me formei há 30 anos, falavam que o Brasil era o país do futuro, e fico esperando. Ainda acredito nisso porque, quando vejo outros países, percebo que nós temos boas condições para desenvolver o país.
O quanto a política interfere nos negócios?
Nós fechamos o ano de 2018 otimistas. Os negócios crescendo, foi um ótimo dezembro, entramos em janeiro com uma perspectiva bastante positiva, e aí as coisas começam a encalhar.
A reforma talvez não saia do tamanho necessário, as articulações políticas não estão sendo bem feitas. O que estamos vendo agora no curtíssimo prazo é um certo desentrosamento político que está afetando a economia. Nossos clientes empresários estão dizendo que vão se segurar um pouco porque realmente não conseguem saber o que vai acontecer.
O que o senhor espera do presidente da República?
Torcemos tremendamente, de forma muito boa, para que dê certo. Porque o país está cansado dessa reviravolta. É muito triste você ter uma situação na qual ex-presidentes da República são presos. Tudo isso é muito ruim, é um processo que nos deixa tristes e envergonhados. Mas acho que é um processo de depuração extremamente necessário e [acreditamos] que o país vá sair disso.
O que espero do governo é que ele tenha serenidade, possa ter competência e se cercar de gente bastante qualificada e tocar. Torcemos para dar certo independentemente de qualquer viés ideológico. O país não vai dar certo se o presidente não der certo, ou, no mínimo, isso vai atrasar muito.
E em relação à corrupção? Acha que ela diminuiu?
Não seu te dizer, não sou especialista. Mas uma coisa é certa: a sensação de impunidade diminuiu tremendamente porque estamos vendo gente importante e corrupta indo para a cadeia. O impacto que vamos sentir talvez não seja na nossa geração, mas na próxima.
Mas existe uma coisa que nos preocupa. Muitas vezes em nossos segmentos, preciso concorrer com gente que ainda opera na informalidade. O nível de informalidade fiscal no Brasil por parte dos empresários é muito grande, e isso tem que ser enfrentado.
Mas como você enfrenta isso? A partir do momento que essa pessoa tenha a convicção de que [a informalidade] não compensa ou que o risco é demasiadamente alto.
Onde estão os países menos corruptos? São aqueles em que a eficiência de Justiça e de leis é muito forte e, com o tempo, a cultura vai mudando. Acredito que, vendo tudo isso que está acontecendo, a nossa geração tenda a ser menos suscetível à corrupção, menos tolerante a essas práticas.