UOL - Grande parte das passagens de ônibus é vendida ainda nos guichês, diferente do mercado aéreo, que é online. Por quê?
Fernando Prado - Por uma série de razões. A primeira é o próprio comportamento do consumidor. Ele faz isso há 40, 80 anos. Tem esse hábito de ir até a rodoviária. Fazemos um trabalho de comunicar que é possível comprar online, mas há muita gente que ainda não sabe.
O segundo ponto é que a oferta de ônibus é muito grande, é muito maior que o avião. O avião tem uma limitação física dos slots [direito de pousar ou decolar em aeroportos congestionados]. O ônibus tem muito mais flexibilidade.
Por exemplo, São Paulo-Campinas tem saídas [de ônibus] a cada 15 minutos. Com raros momentos no ano, como final de ano, a disponibilidade é grande. A pessoa sabe que chegando à rodoviária terá assentos no trecho que ela busca. Ela não precisa antecipar a compra.
E por último, a questão do preço. Acredito que uma das coisas que fizeram com que os clientes do avião migrassem para o online foi para garantir um preço melhor, porque, quanto mais próximo da data do embarque, mais caro.
No ônibus, a questão do preço começou a mudar muito nos últimos dois anos com a regulamentação. As leis, até uns dois anos atrás, fixavam o preço do ônibus de uma forma que só anualmente era possível reajustar. O viajante do ônibus sabia que aquele trecho custava aquele valor se ele comprasse três meses antes, dois meses antes, um mês antes ou uma hora antes.
Se o preço não varia, porque eu vou comprar pela internet? Essa lei mudou [agora é possível fazer promoções, mas não aumentar o preço]. Isso vai começar a levar as pessoas mais para o mundo online, mas é uma coisa recente.
Hoje mais ou menos 10% das pessoas que viajam de ônibus compram online. Em dois anos, esse número pode chegar a quase dobrar. Nos próximos cinco, dez anos vai ser um cenário muito parecido com avião [de compra online].
E como é a experiência de compra online do passageiro de ônibus?
O mercado online ainda está no início. A ClickBus está no mercado há seis anos. É possível comprar passagens de ônibus online há mais ou menos nove anos. Antes disso, não havia opção. Quem compra online uma vez não volta mais porque é muito conveniente.
É mais fácil e tem vantagens: é possível parcelar em 12 vezes. Na rodoviária, o passageiro acaba pagando em dinheiro. Temos muita oportunidade de crescer.
Como é que surgiu a ideia de criar um site de mobilidade rodoviária?
Existiam diversas soluções online para os viajantes de avião e nenhuma solução para os viajantes de ônibus. Tivemos essa ideia de trazer uma solução para a grande maioria da população brasileira, que tinha uma experiência ruim de viajar de ônibus sem o apoio das ferramentas digitais.
Quem já viajou de ônibus sabe como é: você vai até uma rodoviária, muitas vezes não sabe que viação faz aquele trecho que você está buscando. Saí de um quiosque e vai até o outro, acha aquela viação é quando vê, acabou [a passagem].
Daí sai correndo para o outro, que não aceita cartão de crédito. É uma experiência não agradável você comprar uma passagem de ônibus no mundo offline. No mundo online, em questão de um minuto, você seleciona para onde quer ir e mostramos todas as opções, com preços e horários.
Este ano, aconteceu uma mudança muito importante no mercado, que se passou a aceitar o e-ticket. Você vai com seu celular, o seu código de barras, embarca direto e viaja.
Quais são serviços que vocês oferecem?
Nós oferecemos um serviço de planejamento porque você consegue, mesmo antes da sua compra, planejar. Quero fazer uma viagem para as cidades históricas de Minas Gerais, por exemplo.
É possível planejar o seu roteiro até mesmo antes da compra, todas as opções. Quais são os melhores caminhos, os valores.
Vendemos seguro viagem, que pode ser pago no cartão de crédito. Você pode parcelar uma passagem de ônibus em até 12 vezes, pagar por transferência bancária.
Que problemas enfrentaram no início?
O nosso grande desafio foi convencer as empresas de ônibus de que o trabalho iria beneficiar a indústria de ônibus como um todo. Muitas empresas entenderam na hora, algumas ficaram mais receosas com esse mundo da internet.
Muita gente que não viaja de ônibus há muito tempo acredita que o mundo rodoviário é aquele de 20 anos atrás. Hoje muita coisa mudou. Ele pode comprar pelo aplicativo e embarcar direto. Os ônibus são muito bons, as viações nos últimos 15 anos renovaram praticamente a frota inteira.
Estamos falando de ônibus de qualidade, com segurança, políticas de sono para os motoristas, de segurança. Por exemplo, uma viagem São Paulo-Rio de Janeiro, é uma rota que tem ponte aérea de avião, mas é a rota que mais tem ofertas também de ônibus. São mais de 130 opções diárias de saídas.
Sem falar na questão do preço. Você consegue viajar para o Rio de Janeiro mais barato do que se despachar sua mala de avião. Conseguimos vender passagens para o Rio de Janeiro por R$ 40,00. As viações fazem preços promocionais.
Como vocês fazem a avaliação dos serviços oferecidos?
O primeiro critério é o cadastro na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Confirmamos o aspecto legal. Do lado do consumidor, é o feedback do cliente. Há uma nota dada pelos clientes [para a viação]. Eles avaliam alguns critérios que estabelecemos de qualidade, de pontualidade. Os clientes avaliam com uma nota.
Muitas vezes uma viação pode estar com uma nota ruim. Fornecemos informações, ela faz as melhorias e vemos como os clientes reconhecem as melhorias e a nota vai aumentando.
Algumas claramente começam a perder espaço porque não estão reagindo. O mundo online tem essa característica de ser muito transparente. Os clientes falam o que acham, expomos, e cada viação toma suas atitudes. Quem não tomar, acaba ficando para trás.