UOL - Como lidar com a insegurança tributária?
Davide Breviglieri - A insegurança tributária neste momento afeta fortemente o mercado náutico. A guerra dos estados na questão do ICMS [Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] criou uma barreira. Eu não consigo vender pelo mesmo preço um barco de Santa Catarina [estado onde fica o estaleiro] em estados como Mato Grosso, Bahia ou no Distrito Federal.
Alguns estados definiram que não aceitam que o ICMS fique no estado produtor. Eles exigem, pela Lei de Diferencial de Alíquota [Difal]*, que o estado de destino do bem tenha direito a uma parte desse ICMS. Esse, por exemplo, é um aspecto que nos últimos anos inibe a venda de barcos novos em muitos estados brasileiros.
A Difal é a alíquota calculada sobre a diferença entre o ICMS de um estado para outro. Uma empresa de um estado que venda diretamente para um consumidor em outro estado precisa pagar a diferença de alíquota.
A reforma tributária deve impactar o mercado náutico?
Irá impactar. É um assunto muito complexo e delicado, mas precisamos disso. Ela servirá para definir o nível de investimento, para criar uma trajetória de produto, de preço, de tranquilidade para players, produtores e especialmente para os consumidores.
O custo logístico de exportar um barco do Brasil é três ou quatro vezes maior do que fazer a mesma coisa lá fora. Por exemplo, a exportação Gênova-Miami custa um quarto da de Itajaí-Miami.
Tudo o que ganho na minha eficiência interna eu perco dentro de um sistema do Brasil que não é eficiente.
Outro aspecto é o custo de importação de um produto acabado. Aqui no Brasil estou produzindo cinco ou seis modelos, mas o Grupo Azimut lá fora tem mais de 40 modelos. Os tributos de importação, algo em torno de 65%, 70%, inibem um cliente ter um barco Azimut importado no Brasil.
Como o senhor explica essas questões para a matriz italiana?
Eu confesso que tem coisas que nem conseguimos mais explicar.
Sendo italiano, quais foram as dificuldades que teve para se adaptar ao Brasil?
Inicialmente a minha percepção foi a de que aqui é tudo fácil. Logo em seguida, chega a frustração de que tudo que parece fácil, mas não é.
Se é verdade que a covid definiu que estamos na era da imprevisibilidade, o Brasil já era imprevisível nos últimos dez anos. O Brasil é uma grande arena complexa, turbulenta, mas fascinante, porque tem oportunidades.
O senhor gosta de navegar? Tem um barco?
Não tenho o meu barco, mas tenho o sonho dele, isso sim.