UOL - Como o senhor vê a questão dos tributos na área das telecomunicações?
Eduardo Ricotta - Temos uma cadeia de impostos muito alta, é um dos tributos mais altos do mundo. Há cidades extremamente pobres que pagam a mesma taxa de imposto do que paga uma cidade grande. Temos de encontrar arcabouços regulatórios para diminuir essa desigualdade.
É preciso também fazer políticas públicas olhando para fora do Brasil. Hoje fazemos olhando para dentro, e eu gostaria que olhássemos para fora. O Brasil precisa ser competitivo na Índia, no Japão, na Europa, nos Estados Unidos. Como fomentar esse mercado para ter mais exportação?
25% da economia do mundo é exportação. No Brasil, é apenas 12%. Grande parte desses 12% são produtos agrícolas. Eu acho superimportante fazermos uma política pública forte para melhorar a exportação no Brasil. Olhando para fora e com uma carga tributária menor, com certeza conseguimos mudar esse cenário.
A reforma tributária vai ajudar nessa questão?
Não tenho dúvida. Nós vamos melhorar o ambiente interno e melhorar a exportação. É assim que vamos conseguir fazer o Brasil crescer.
De quem é a responsabilidade pela ampliação da cobertura de dados no país: do poder público ou das empresas concessionárias?
No Amazonas, a cada R$ 15 de conta que o consumidor paga, quase R$ 5 são impostos. Em lugares que são carentes --cidades onde não há cobertura ou ela é muito ruim--, deveríamos pensar de forma diferente.
Será que não deveríamos cobrar menos impostos nesses lugares para ter uma cobertura melhor para a população? A questão é que o dinheiro para fazer investimento é limitado e temos que usar da melhor forma possível para beneficiar a população.
Como é a relação da Ericsson com as empresas que distribuem essas redes de dados? E quais são essas responsabilidades?
É uma relação de muita confiança. Prestamos serviços para todas as operadoras no Brasil hoje em dia. Começamos aqui no Brasil a implementar a rede móvel 2G, depois o 3G, 4G e esperamos ser um fornecedor forte no 5G também.
Temos muito orgulho porque possuímos uma operação que está há 95 anos no Brasil funcionando. Temos fábrica em São José dos Campos [SP], de alta tecnologia, que está funcionando há 60 anos, e temos um centro de pesquisa e desenvolvimento há mais de 48 anos. Possuímos mais de 108 patentes criadas aqui no Brasil, que usamos em todo o mundo.
O mercado de tecnologia móvel no Brasil cresce no mesmo ritmo do mercado mundial?
No Brasil, crescemos numa velocidade maior que o mercado mundial. Temos alguns estudos dentro da Ericsson que mostram, por exemplo, que no mundo o tráfego de dados, entre 2019 e 2025, vai crescer em média 40% ao ano.
No Brasil crescemos mais de 100% ao ano. O brasileiro tem uma dependência do celular muito maior do que em países na Europa ou nos Estados Unidos porque lá há menos conexões de fibra. O brasileiro é muito dependente do telefone móvel.
E existe uma explicação para essa dependência?
É a própria falta de infraestrutura básica. Temos de lembrar também que o brasileiro gosta de internet, gosta de redes sociais. O Brasil é onde os consumidores estão mais conectados.
Se você compara o número de horas por dia, estamos em níveis do Japão. São várias horas por dia na média, então isso também ajuda.
No passado, a Ericsson foi percursora dos celulares. Existe alguma possibilidade de a empresa voltar para o mundo dos celulares?
Acho que não. A Ericsson é uma empresa superfocada, e acredito que o mercado de celulares é muito diferente do nosso "core business". Pelo menos nos próximos anos eu não vejo que a empresa tenha uma estratégia para voltar a fazer celulares.
Como se manter em uma empresa durante muitos anos, como é o seu caso, trabalhando com tecnologia?
Estou na Ericsson há 25 anos, mas passei por muitas áreas. Sempre foi muito dinâmico, trabalhei fora do Brasil, morei fora, trabalhei com quase todos os países da América Latina, trabalhei em diversas áreas, com diversos clientes.
Como é uma empresa muito grande, apesar de estar na mesma empresa, a cada dois anos eu estava fazendo algo diferente. Isso que me ajudou a ficar na empresa até hoje.
Que dicas o senhor daria para construir uma carreira de sucesso?
Fazer o que você gosta, esse é o ponto principal. Independentemente da profissão que você escolha. Quando você faz as coisas com vontade, com amor, com garra, você consegue ir muito mais longe e você trabalha feliz, que é o mais importante.
Obviamente você tem de ir se aperfeiçoando. Eu sempre estudei muito, sempre tive curiosidade e vontade de morar fora, o que te dá uma experiência não só profissional, mas pessoal, muito importante.
O convívio com outras culturas, entender a cultura da empresa em que você está trabalhando, essa é a dica que eu deixo para as pessoas.