Crença na economia

Se sai uma empresa do país, como Ford, entram outras; a coisa não está tão feia, diz chefe da manteiga Aviação

Beth Matias Colaboração para o UOL, em São Paulo Divulgação e Arte/UOL
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O empresário Geraldo Alvarenga Resende Filho, diretor-presidente da Laticínios Aviação, dona da famosa manteiga, integra a terceira geração da família na centenária empresa. Em entrevista exclusiva na série UOL Líderes, diz não ver problemas na saída de empresas do Brasil, como a Ford, porque, assim com uma sai, outras entram.

Ele fala sobre a importância das reformas tributária e administrativa e diz que espera ver o estado menos "obeso" e a iniciativa privada mais ativa. Para ele, os impostos são tão complicados no Brasil, que é preciso ter mais funcionários para cuidar disso do que da produção.

Ouça trechos da entrevista com Geraldo Alvarenga Resende Filho, diretor-presidente da Laticínios Aviação, no podcast UOL Líderes. Também pode assistir à entrevista em vídeo com o executivo no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler o texto dos destaques da conversa.

Sai uma empresa do país, entram outras

UOL - Qual a sua opinião a respeito da saída das multinacionais do país?

Geraldo Alvarenga Resende Filho - Saem muitas, mas chegam outras tantas, principalmente no agronegócio. O Brasil será o grande produtor de alimentos do mundo. A nossa vocação é a agropecuária.

Temos uma indústria automobilística que saiu [Ford anunciou em janeiro o fechamento de suas fábricas no Brasil], mas quantas outras empresas chegaram? Quais países do mundo tiveram 8, 10, 15 empresas que se estabeleceram neles?

Se pensarmos no agronegócio, a demanda por máquinas agrícolas é impressionante. Temos uma transportadora coligada à empresa. Ela só tem caminhões para entregar a partir de abril, então a coisa não está tão feia assim.

Como equalizar a questão do agronegócio e a preservação do meio ambiente?

Há muita discussão política nisso. No ano passado fui à região do Cerrado do Triângulo Mineiro. Lá eu vi plantar soja, tirar soja, plantar milho, tirar milho, plantar trigo. Em um ano, três safras. Isso quer dizer que estamos incomodando muito o mundo, e o pessoal lá fora sabe disso. Acho que a exploração disso é mais política.

A Aviação é assim

  • Fundação

    1920

  • Funcionários

    300

  • Unidades

    1 (Minas Gerais)

  • Faturamento previsto (2021)

    Crescimento de 15%

  • Produção de manteiga

    30 toneladas/dia

Impostos são complicados e exigem muitos funcionários

UOL- Qual a dificuldade de empreender no Brasil?

Geraldo Alvarenga Resende Filho - O que facilitaria empreender no Brasil são as reformas administrativa e tributária. A reforma previdenciária ajudou, e a trabalhista solucionou alguns pontos críticos também. Acredito que, se houver menos interferência do Estado, vamos avançar ainda mais.

O que a reforma tributária pode melhorar para o segmento de lácteos?

Ouço falar em reforma tributária nos últimos 20 ou 30 anos e não aconteceu. Durante a pandemia, as áreas fiscal e tributária da empresa foram as que mais precisaram de funcionários, mais do que a própria área comercial. O setor industrial precisa ficar mais preocupado com a produção e menos com a tributação.

Tudo na vida tem que ter dono

UOL - A política interfere nos negócios?

Geraldo Alvarenga Resende Filho - Nos negócios não, mas interfere na estrutura do Estado. Há interesses de grupos que impedem que as reformas evoluam. Acredito que o próprio mercado irá forçar de alguma maneira para que isso aconteça. Estamos chegando ao limite.

As pessoas sentem necessidade de desenvolver o país, mas temos amarras. O empresariado força de um lado, mas temos um Estado pesado que segura de outro. Eu espero ver esse Estado menos obeso e a iniciativa privada mais proativa para fazer esse país realmente acontecer.

O senhor acredita que as privatizações vão melhorar as questões administrativas do país?

Eu particularmente acho que tudo na vida tem que ter dono. O órgão mais sensível do corpo humano chama-se bolso. Quando dói o bolso você dá um jeito de consertar. Temos uma quantidade enorme de empresas estatais que realmente não são nada eficientes.

O Estado tem que se preocupar com saúde, educação, infraestrutura e não mais do que isso. Se der conta disso, já está bom demais.

Manteiga é saudável?

UOL - O que mudou nos hábitos alimentares dos brasileiros nos últimos anos?

Geraldo Alvarenga Resende Filho - A manteiga por muitos anos foi vilã. Muita gente associava o consumo de manteiga a problemas cardiovasculares e o tempo mostrou que não é bem essa situação. A manteiga hoje está colocada como um alimento extremamente saudável porque é um produto natural do leite, diferente da margarina, que é um subproduto de óleos vegetais.

Pesquisas divergem sobre os efeitos do consumo de manteiga, e as recomendações de especialistas são para uso moderado.

A manteiga Aviação está menos salgada. É uma determinação das autoridades para cortar o sódio?

Sim, é uma exigência do Ministério da Agricultura baixarmos o teor de sal na manteiga. Como há a determinação, nós nos adequamos a ela.

Realmente aqueles que consomem há muitos anos a manteiga perceberam isso: que a manteiga Aviação com sal diminuiu um pouco o teor de sal.

Como a Aviação vem se adaptando à questão da alimentação saudável?

A Aviação sempre acompanhou o tempo. Temos uma linha de produtos light, de produtos de zero lactose. No caso do doce de leite, por exemplo, o teor de açúcar está dentro do tolerável, nada exagerado. Embora a empresa seja centenária, estamos sempre conectados com que o mundo está pedindo.

Como a Aviação atravessou 2020 com a pandemia? Houve crescimento do consumo?

No encerramento do ano de 2020, a produção se manteve praticamente nos volumes de 2019, era previsto um crescimento para 2020 da ordem de 8% ou 10% e isso acabou não acontecendo. Os volumes se mantiveram como em 2019.

No final de 2020, vocês incrementaram o e-commerce da Aviação. Como está sendo a experiência?

Há uma demanda pelo e-commerce porque, embora estejamos em todo o Brasil, existem localidades que não conseguimos atingir. Está funcionando de maneira satisfatória. A questão é que grande parte de nossos produtos são refrigerados, e para levar esses produtos a locais mais distantes ainda não temos infraestrutura.

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