Urna eletrônica segura

Todos deveriam entender mais o processo eleitoral para saber se é seguro, diz chefe da Positivo

Beth Matias Colaboração para o UOL, em São Paulo Divulgação e Arte/UOL
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Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Tecnologia, diz em entrevista exclusiva na série UOL Líderes que deveríamos ter muito orgulho do sistema eleitoral brasileiro. "Todos deveriam entender um pouco mais do processo para saber o quanto seguro ou não ele é, mas deveríamos nos orgulhar dele", afirma. A empresa irá fornecer 225 mil urnas para a eleição de 2022 e mais 176 mil urnas para a eleição de 2024, em dois processos licitatórios.

Rotenberg fala também de como participou da informatização da classe média no Brasil nos anos 2000, oferecendo computadores mais baratos, defende a simplificação do sistema tributário brasileiro e acredita que a situação da falta de semicondutores deverá melhorar neste ano.

A segurança da urna eletrônica

Ouça a íntegra da entrevista com Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Tecnologia, no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler os destaques da conversa.

Urna eletrônica é "extremamente segura" e não pode ser invadida

UOL - A Positivo Tecnologia irá fornecer as urnas eletrônicas para as próximas eleições. Diante da discussão sobre as urnas eletrônicas, é possível dizer que elas são confiáveis?

Hélio Rotenberg - O processo eleitoral brasileiro é bastante arrojado, há muitos anos temos uma eleição eletrônica. É um processo que foi sendo aperfeiçoado com o tempo e sempre pode ser mais aperfeiçoado, nada é perfeito e tudo é evolutivo.

Mas temos um sistema único, muito bacana, deveríamos ter muito orgulho do sistema eleitoral brasileiro. Todos deveriam entender um pouco mais do processo para saber o quão seguro ou não ele é, mas deveríamos nos orgulhar dele.

A Positivo Tecnologia é mera partícipe desse processo. O TSE [Tribunal Superior Eleitoral] nos encomendou a urna e simplesmente executamos uma especificação. Julgamos que a urna é extremamente segura. É isolada e não está ligada à internet, por isso, não pode ser invadida. Há processos de segurança enormes.

Estamos fornecendo 225 mil urnas para a eleição de 2022 e mais 176 mil urnas para a eleição de 2024, em dois processos licitatórios.

Os sistemas de informação no Brasil brasileiro ainda são muito vulneráveis aos ciberataques?

Ciberataque é uma realidade. Sempre existirão os criminosos que querem ter alguma vantagem invadindo os seus sistemas, e você terá que se proteger. Toda a empresa está sujeita a um ataque, não há muito mais a dizer. Teremos que conviver com isso.

O que esperar com a chegada do 5G?

O 5G trará uma grande oportunidade de negócio. Acreditamos que em julho as primeiras capitais já estarão com algumas antenas 5G.

A Positivo Tecnologia é assim:

  • Fundação

    1989

  • Sede da empresa

    Curitiba (PR)

  • Funcionários

    Mais de 2.000

  • Indústrias

    5 (Brasil)

  • Escolas com tecnologia Positivo

    Mais de 14 mil em 40 países

  • Dispositivos fabricados

    37 milhões, desde 1989

  • Receita líquida (2020)

    R$ 2,2 bilhões

  • Lucro líquido (2020)

    R$ 196 milhões

  • Posição no mercado (Brasil)

    Líder em computadores com valor até R$ 2.500

  • Principais concorrentes

    Multilaser, Lenovo, Dell, Motorola e Samsung

Sistema tributário confuso

UOL - Qual a sua opinião a respeito das reformas que estão no Congresso?

Hélio Rotenberg - O sistema tributário brasileiro é muito confuso, mas isso não é privilégio deste governo. Ao longo da história, isso vem acontecendo. É importante que uma reforma tributária contemple clareza de regras e simplificação do sistema.

A reforma trabalhista é mais complexa porque mexe com interesses e direitos adquiridos. A carga tributária é pesada quando comparamos com outros países. Se pudéssemos diminuir essa carga tributária, seria muito bom, mas, por outro lado, há o sistema de saúde e o previdenciário que dependem desse dinheiro. Como fazer isso? Não sei.

Com a reforma administrativa é a mesma coisa: mexe com direitos adquiridos. É uma pena que não consigamos dar profundidade a essas discussões. Precisamos colocar as melhores cabeças para discutir essas reformas de maneira isenta, sem o político imediatista.

A Positivo Tecnologia tem 32 anos. Como vocês cresceram em meio aos altos e baixos da economia brasileira?

Há um ideograma chinês e japonês que diz que a oportunidade está dentro da crise, e ele me persegue nesses 32 anos. O nosso mercado foi de 16 milhões de computadores em 2011/2012 para 4,5 milhões em 2015. Naquele momento, decidimos nos reinventar e começamos a produzir smartphone, tablets.

Em 2017, reestruturamos a empresa em três grandes divisões: consumidor, corporativo e instituições públicas.

Computador para a classe C

UOL - Na pandemia houve um aumento do consumo de computadores, mas pessoas de baixa renda ainda estão de fora deste mercado. Como usar a tecnologia para produzir impactos sociais relevantes?

Hélio Rotenberg - O consumo de computadores na pandemia aumentou muito. Voltamos a níveis de 2011. Infelizmente, nas classes D ou E, o problema é outro. É a moradia, a comida. Não chega a ser o computador.

Tenho muito orgulho de ter participado da informatização da classe C brasileira. Essa classe, até 2004, era alijada de computador. Fomos líderes, passando de 30% de vendas para quase 70% na classe média.

Somos também partícipes desse movimento dos smartphones mais baratos, inclusive com os feature phones, que só ligam e trocam mensagens.

A Positivo começou em uma garagem em Curitiba em 1989. Como foi esse início?

Tinha 26 anos, acabado de voltar do mestrado e comecei a dirigir a Faculdade Positivo. Discutia muito com os professores sobre o que fazer com a tecnologia. Aprendi com um professor a fabricar um computador.

No começo, éramos todos professores do Positivo. Vendemos os primeiros 50 computadores a um colégio em São Paulo. Logo tivemos que nos mudar da faculdade.

Alugamos uma casa e usamos o quintal para a produção. No final de 2006, teríamos sido considerados unicórnios, se houvesse essa terminologia na época, porque valíamos na abertura de capital mais de US$ 1 bilhão.

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Tenho muito orgulho de ter participado da informatização da classe C brasileira. Essa classe, até 2004, era alijada de computador.

Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Tecnologia

Computador como item de decoração

UOL - Como o computador mais popular evoluiu ao longo desses anos?

Hélio Rotenberg - Somos especializados no consumidor brasileiro, nos seus gostos, na sua maneira de ser. A palavra mais importante para nós é affordability, o produto certo no preço certo.

No começo, o consumidor deixava o computador na sala de estar. Era importante principalmente para a classe média, que tinha dificuldade de pagar. A pessoa tinha orgulho de comprar, levar para a casa e mostrar aos vizinhos.

Quando lançamos o primeiro computador para o varejo, ele estava pronto para a internet, com a placa de fax modem e com a conexão já embutida. Foi nesse ponto que nós crescemos enormemente no mercado, entendendo que o consumidor brasileiro buscava uma solução e não um computador.

Que outras características são próprias do consumidor brasileiro?

A nossa principal metodologia é entender o consumidor. Colocamos uma tecla Netflix porque percebemos que a classe média cada vez mais usa Netflix, mas muitos têm dificuldade de instalar o aplicativo. O mesmo ocorre quando colocamos números no touch pad [no notebook] porque essas famílias usam o computador tanto para a lição do filho quanto para fazer uma contabilidade, um currículo.

Lançamos há três meses o primeiro computador com Alexa no Brasil, pois a tendência é falar com o computador. O brasileiro também não gosta de cores que chamam atenção em um notebook. Ele gosta de sobriedade.

Computador para todos os alunos

UOL - A população de baixa renda não deveria ter acesso à internet gratuita?

Hélio Rotenberg - Se conseguíssemos levar um bom computador ou um bom tablet para todos os alunos brasileiros, com conectividade, seria uma grande revolução no país. A divisão digital acabaria.

Com a pandemia, os governos compraram muitos computadores, até por uma questão legal: os governos têm que investir 25% de sua arrecadação em educação e, como gastaram menos com as crianças em casa, saíram comprando tablets e computadores. Nunca vimos tantas licitações para compras de computador. E ainda há muitas licitações por vir.

Países como o Uruguai, que é muito menor e talvez por isso mais fácil de resolver, têm um programa há dez anos que leva computador a todos os alunos. Dá muita inveja.

Como funciona atualmente essa relação entre empresa privada e empresa pública?

Vendemos para o governo há 30 anos, com total compliance. É só querer fazer direito. Hoje, todas as compras são feitas por pregões. É o menor preço que ganha. Pode haver alguém que queira que você faça uma especificação para beneficiar ou dar vantagem a alguém, mas é só você fugir disso.

Como vocês lidam com a concorrência das multinacionais?

Lutamos com as nossas armas, que são o entendimento do consumidor, nacionalização e conhecimento das regras brasileiras. Essas são as nossas fortalezas.

Falta de componente: trancos e barrancos

UOL - Como a falta de componentes no mundo todo está afetando o negócio da Positivo?

Hélio Rotenberg - O mercado estava preparado para fazer 250 milhões de computadores, e de repente a demanda é de 350 milhões.

As empresas não têm capacidade para produzir mais, pois são fábricas que dependem de maquinário muito sofisticado, que demora dois anos para ser produzido.

De setembro de 2020 a agosto de 2021, foi muito difícil. Faltou tudo. Foi aos trancos e barrancos, atrasando projetos, negociando com clientes para explicar a falta de componentes.

A partir de agosto e setembro, começou a melhorar um pouco. Acredito que nos próximos meses vai equilibrar. O pior já passou.

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