UOL - O que se pode esperar em termos de inovação dos carros da marca?
Johannes Roscheck - Há vários aspectos e vários pontos de inovação que vão mudar a nossa forma de dirigir e também de nos mover de um lugar para outro. Primeira coisa é a redução de consumo. Isso é uma coisa bem óbvia. Queremos reduzir o consumo de CO2 mundialmente, então estamos trabalhando cada vez com muito mais impacto na parte de redução de consumo de combustível.
Todos os nossos novos carros são mais híbridos. Isso significa uma redução de consumo de combustível entre 10% e 15%, porque o carro pode andar e usar energia elétrica que ele automaticamente gera nos freios. Essa energia acumulada na frenagem é usada onde você mais gasta combustível, como por exemplo, na saída do semáforo ou também acelerando na estrada.
Mas acoplado a isso, há várias tecnologias que talvez não sejam tão óbvias e tão evidentes para o consumidor. Atrás de tudo isso você precisa ter uma conectividade dos veículos. O carro precisa ficar cada vez mais inteligente. Isso não é porque nós queremos, mas atrás disso há uma certa lógica.
Vamos supor que você ande com o seu carro, e ele sabe que daqui a 300, 400 metros vem uma curva onde você precisa frear. Ou ele o avisa, como nossos carros da última geração já fazem isso, ou, quando você vai com o piloto automático, ele mesmo reduz a velocidade antes da curva, mas faz isso de uma forma inteligente sem frear, ele simplesmente corta o combustível. Sem a pessoa precisar pensar, sem precisar atuar de uma forma diferente do que faz hoje.
Além disso, a conectividade entre os carros vai aumentar dramaticamente a nossa segurança. Sabemos que a maioria dos acidentes acontece pelo uso do celular; hoje 60% de todos os acidentes mundialmente acontecem pelo uso do celular ao volante. E não por outros fatores como era alguns anos atrás.
O carro vai ajudar o piloto quando ele não está muito atento, poderá tirar um pouco da responsabilidade do piloto. Isso tudo acontece em passos pequenos. São desenvolvimentos muito importantes para chegar a uma mobilidade do futuro que funcionará muito melhor.
Quando os carros elétricos vão se tornar uma realidade no Brasil?
Acho que já em 2019 vamos ter vários veículos e modelos pelas ruas. Planejamos trazer o novo "E-Tron" [que estará no mais recente filme da série Vingadores], em 2019. Ainda não é 100% confirmado. A ideia é começar com os clientes mais exigentes.
O carro elétrico é ainda na verdade um carro caro. A tecnologia sobretudo das baterias é cara. Precisamos começar a distribuir esses veículos também para ter essas experiências necessárias. Como o mercado vai reagir, vai ser algo que o brasileiro aceita rápido ou vai demorar? Hoje ninguém pode dizer isso com segurança.
Pessoalmente, acho que nos segmentos de "premium" e até de luxo a aceitação vai ser relativamente alta, até mais alta que nos outros países. Para produzir em massa vai demorar.
O Brasil tem hoje uma vantagem gigantesca que praticamente o mundo inteiro vê com bastante inveja: o etanol. Um carro que anda com etanol é 60% mais econômico em termos de CO2 que qualquer outro carro no mundo.
Isso significa que o Brasil tem essa vantagem e, sendo um país com tantos recursos naturais, pode ser um potencial para o futuro como uma alternativa ao carro elétrico. É uma opção importante para muitas regiões do mundo que não vão ter acesso ao carro elétrico tão rapidamente.
Em quanto tempo vamos alcançar a nova mobilidade?
Isso vai depender de região para região. Porque não é só o carro que precisa ter todas estas funcionalidades. Precisamos também de uma infraestrutura que permita isso. Por exemplo, uma rede de informação de quinta geração. O 5G começa a ser uma realidade na Europa, aqui tem discussões se há tecnologia 5G, mas não sabemos ainda quando vai existir.
É preciso ter outras coisas nas estradas. Por exemplo, o carro precisa ter a chance de ler a estrada, e como um carro lê as estradas? Ele tem vários tipos de sensores, são câmeras que funcionam como os nossos olhos, então as faixas nas estradas, por exemplo, são uma indicação importantíssima para o carro saber onde ele está.
Só que muitas vezes aqui em São Paulo ou falta faixa ou começa uma faixa e depois não é mais a mesma faixa, porque ela está a dois, três metros de um lado. Isso tudo confunde porque o carro ainda não aprendeu todas estas circunstâncias, que cria necessidade de uma atenção bem maior. Para nós, é normal. Sabemos disso. O carro precisa aprender tudo isso para não causar problemas no futuro.
Com o envelhecimento da população, o que a indústria automobilística está pensando para os mais velhos?
Há algumas tendências. Por exemplo, o carro começa a ajudar a enxergar coisas que hoje as pessoas não enxergam. Usamos, por exemplo, câmeras infravermelhas para ver animais ou até pessoas na pista.
Pessoas de idade, em sua maioria, têm problemas de visão, sobretudo de noite. Criamos essas câmeras infravermelhas para ajudar a enxergar também durante a noite, quando normalmente a visão já está um pouco mais complicada.
As startups de mobilidade podem afetar a indústria automobilística?
Já estão afetando. Isso já é uma realidade e vai ser cada vez mais uma realidade. É uma tendência. Vemos em vários mercados do mundo e também aqui no Brasil que os jovens não têm mais tanto desejo de comprar um carro. Eles preferem ter uma outra experiência em vez de ter um carro 24 horas, sete dias por semana.
Estamos começando em alguns lugares com outros conceitos. Por exemplo, você participa de um tipo de clube exclusivo e tem acesso aos nossos veículos. Pode escolher se vai com a família com um carro grande para quatro ou cinco pessoas e usar AQ7, por exemplo. Pode ir com outra pessoa para praia e você quer usar um carro esportivo.
Em vez de alugar um carro normal em uma locadora, você faz parte de uma coisa mais sofisticada e mais premium ou muito mais premium dependendo do setor. Você paga uma mensalidade e tem acesso a cinco, seis ou sete tipos de veículo exclusivos só para você e sua família.
Vamos ter casos em que a pessoa vai querer ser dona do veículo, vamos ter outras pessoas que simplesmente querem usar quando precisar. Não necessariamente vai haver um impacto negativo na indústria automobilística.
Isso não reduz o volume de vendas, não tem nada negativo, até é positivo para que uma pessoa tenha acesso a vários tipos de veículo e conheça toda a gama da nossa marca, em vez de conhecer um carro, usar por um, dois ou três anos e vender. É uma mudança nos paradigmas, mas é uma mudança superinteressante porque vai trazer benefícios para todo mundo.