Ciência e pesquisa

Brasil precisa investir mais em ciência e indústria para depender menos do exterior, diz chefe do Grupo Sabin

Beth Matias Colaboração para o UOL, em São Paulo Divulgação e Arte/UOL
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Lídia Abdalla, presidente do Grupo Sabin, que atua em medicina diagnóstica e saúde no Brasil, diz em entrevista exclusiva na série UOL Líderes que é preciso incentivar e estimular a indústria brasileira a produzir insumos e, assim, ter mais independência em relação aos produtos que vêm de fora.

Segundo ela, durante a pandemia, "corremos o risco de ter desabastecimentos de equipamentos de proteção, como máscaras, luvas, insumos, que poderiam ter sido fabricados no Brasil".

A chefe do Grupo Sabin falou sobre a necessidade de integração do sistema de saúde, de como o envelhecimento dos segurados em planos de saúde tornam os produtos caros e o futuro do atendimento híbrido na saúde.

Menos dependência

Ouça a íntegra da entrevista com Lídia Abdalla, presidente do Grupo Sabin, no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler os destaques da conversa.

Estímulo à pesquisa

UOL - Nos últimos anos, o governo federal tirou recursos de áreas importantes de pesquisa e desenvolvimento. Para os próximos anos, quais deveriam ser os investimentos neste setor?

Lídia Abdalla - É preciso seguir investindo, direcionando mais recursos para ciência e pesquisa. Na pandemia, vimos o quanto isso foi importante, corremos o risco de desabastecimento de EPIs, máscaras, luvas, insumos. São produtos que podem ser fabricados no Brasil.

Incentivar e estimular essa indústria brasileira nos dará mais independência, fará girar a economia, criará mais empregos. A saúde depende muito disso, passa pelo investimento em ciência e pesquisa, sim, e na educação. Ciência e pesquisa também dependem muito dos investimentos na educação.

Muitos empresários reclamam da falta de avanço das reformas. Qual a sua opinião sobre isso?

Tivemos poucos avanços e teríamos que ter tido mais velocidade. Claro que ninguém imaginava que teríamos de enfrentar a pandemia, mas é um sinal de alerta importante para esse próximo governo: ter mais celeridade também nas reformas.

Qual seria a reforma hoje mais importante para a saúde?

Talvez a reforma tributária seja a mais importante. São todas áreas muito sensíveis e que têm impacto muito grande no nosso setor.

O ano eleitoral assusta os empresários?

É um ano de cautela. Não assusta, mas temos que ter cautela sempre como empresa e como negócio.

O Grupo Sabin é assim:

  • Fundação

    1984

  • Sede

    Brasília

  • Funcionários

    6.300

  • Clientes

    Mais de 6 milhões

  • Unidades

    318

  • Faturamento (2020)

    R$ 1,2 bilhão

  • Investimentos em expansão (2012-2021)

    Mais de R$ 400 milhões

  • Principais concorrentes

    Grupo Dasa e Grupo Fleury

Conexão de dados

UOL - Os médicos no Brasil exageram no pedido de exames?

Lídia Abdalla - Há desafios no nosso setor de saúde, gargalos e problemas muito difíceis. Muitas vezes, não há um histórico, uma integração de prontuário do paciente. Isso faz com que você tenha que refazer exames.

Muitas dessas ineficiências ainda acontecem pelos desafios no setor de saúde, sobretudo na integração da informação, dos dados, com um desafio ainda maior que é integrar o serviço público ao privado.

Qual a sua opinião a respeito da liderança do Ministério da Saúde em relação a essa integração? Não caberia ao governo esse papel?

O grande desafio é a complexidade do nosso país. O Ministério da Saúde tem que liderar e trabalhar nisso cada vez mais. Acredito que a pandemia, de uma certa forma, deu uma mexida nisso, como a rede nacional de dados de saúde, o Conect SUS.

Claro que estamos falando especificamente dos exames e vacinação de covid, mas avançamos, e daqui para frente tenho certeza de que o Ministério da Saúde terá como objetivo ampliar o que fizemos para a covid.

Falta mais vontade política ou recursos financeiros para que isso aconteça?

Recurso financeiro tem. É mais alinhamento de gestão para que as coisas funcionem com integração. E não só no serviço público. Até mesmo dentro do serviço privado não há integração.

População envelheceu e plano ficou caro

UOL - Com tantos planos de saúde, laboratórios e redes particulares de clínicas, por que a saúde privada ainda é tão cara no Brasil?

Lídia Abdalla - Acredito que ainda seja caro porque as pessoas estão envelhecendo, utilizam mais o plano de saúde, e nós não conseguimos desenvolver programas de prevenção na velocidade necessária.

Em muitos desses processos precisamos avançar, e a tecnologia irá nos permitir isso. Muitos projetos-piloto de integração de informação vão desenvolver programas de saúde preventiva, por exemplo.

Como funciona a plataforma digital que vocês desenvolveram, o Rita Saúde?

Acredito que será o futuro da saúde, sobretudo para termos mais acesso e capilaridade. A vantagem do digital é essa: romper barreiras geográficas e dar escalabilidade. As pessoas querem usar o digital pela facilidade, velocidade de atendimento e acesso, mas também querem continuar usando o serviço presencialmente pelo acolhimento e pela humanização.

O modelo é híbrido. O Rita Saúde não é simplesmente um marketplace. É uma plataforma de cuidado coordenado da saúde, onde o paciente encontra procedimentos individuais ou um pacote de serviços para acompanhar a saúde dele ao longo do ano com consultas de médicos de família. Há a opção de ter especialistas, procedimentos mais complexos.

É facilitar o acesso à saúde sobretudo para a população que não tem plano de saúde, que hoje são 75% dos brasileiros.

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Acredito que [a saúde privada] ainda seja cara porque as pessoas estão envelhecendo, utilizam mais o plano de saúde, e nós não conseguimos desenvolver programas de prevenção na velocidade necessária.

Lídia Abdalla, presidente do Grupo Sabin

Telemedicina, drive-thru e atendimento em casa

UOL - Quais os aprendizados da pandemia que devem permanecer?

Lídia Abdalla - A pandemia nos trouxe grandes desafios desde o início. Tivemos equipes empenhadas nesse atendimento. Passamos a implementar muitos projetos de transformação digital que estavam em teste, atendemos pacientes em unidades drive-thru, ampliamos o atendimento domiciliar, usamos os canais digitais.

Aprendemos alguns costumes que, independentemente de ser lei ou não, são boas práticas de higiene e de saúde. Esses são aprendizados que vieram para nós, enquanto negócio, e para nós enquanto pessoas.

Qual a sua opinião a respeito do crescimento das clínicas populares nos últimos anos? É um mercado que continuará crescendo?

O importante é olhar a qualidade dos serviços oferecidos. O Brasil tem 210 milhões de habitantes e não haverá um modelo único para atender a todos em um país continental como o nosso. Será a grande complementação de todos os modelos.

Uma empresa de mulheres

UOL - No Sabin, 77% do quadro de colaboradores é feminino e 74% das mulheres estão em cargos de liderança. Qual a sua opinião sobre o sistema de cotas para aumentar a participação da mulher nas empresas?

Lídia Abdalla - O Sabin é uma empresa de alma feminina. O que nós observamos, sobretudo no segmento de saúde, é que o próprio setor tem em média 60% ou 70% de mulheres. Mas, quando vamos para a liderança, sobretudo alta liderança, é onde começamos a ver maior desigualdade.

A inclusão é importante não só para termos uma sociedade mais justa, mais igualitária, inclusive para ajudar no desenvolvimento econômico do país, mas principalmente para deixar os nossos negócios mais competitivos.

O que é ser uma empresa feminina?

No Sabin, os clientes percebem, quando entram, que é uma empresa de mulheres, desde a decoração com flores, balões e quadros em todas as nossas unidades. A preocupação com uniforme, um sorriso no rosto, a importância da humanização do atendimento são nossas características.

A maternidade é sempre um grande dilema na vida das mulheres. No Sabin, a mulher não precisa escolher entre a carreira e os filhos. Pode ter as duas coisas.

Quais são os planos do Sabin?

Em 2022, vamos completar dez anos do nosso primeiro ciclo de expansão com a compra de outros laboratórios. Estamos presentes em todas as regiões do país, em 68 cidades em 13 estados, 318 unidades de atendimento ao cliente, 6.300 colaboradores. O projeto para o futuro é seguir crescendo com expansão orgânica.

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