UOL - Que propostas são importantes para o Brasil?
Luiz Eduardo Falco - Sou um cara um pouco minimalista com as questões de governo. A minha formação é de engenharia, então acho que receita é receita, custo é custo, e que a receita tem que ser maior que o custo. E ponto. Tenho complicações para entender qualquer coisa que seja diferente disso.
Claro que há o social, que é um pouco diferente, mas o conjunto da obra não pode dar prejuízo, se não você não sustenta isso ao longo do tempo. Tem que colocar os programas sociais, mas tem que fazer o negócio dar lucro.
Nós temos um governo que é gigante, temos estatais que estão em caminhos que não interessam em nada. Para que interessa ter uma estatal construindo um submarino nuclear? A mim, como cidadão, não interessa em nada.
O governo ficou grande demais por razões que, na época, poderiam justificar. Hoje em dia, num mundo que quer mais eficiência, não faz nenhum sentido. Pega uma Eletrobras: gigante. Pega a Telebras --eu trabalhei no sistema [Telebras]. Quando era estatal, não havia telefone; hoje em dia, você nem sabe onde colocar tanto telefone que você tem. E os preços caíram.
Então o senhor é a favor das privatizações?
Sou a favor da diminuição do governo, das privatizações e da eficiência.
Você não pode ter um país em que faz 30 anos que a produtividade do seu trabalhador não muda. É inaceitável.
Não muda porque você não investe e não tem dinheiro para investir. E não tem dinheiro para investir porque gasta com coisas com as quais não deveria gastar. Então, pare de gastar com as coisas com que não deveria gastar, coloque o dinheiro no investimento e ganhe produtividade. E aí vai competir no mundo.
Como a reforma trabalhista impactou a CVC, que hoje tem 3.000 funcionários?
Como qualquer brasileiro, [acredito que] temos que andar para a frente. Não podemos ficar presos ao passado. A CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] foi uma boa lei para a época dela, e agora estamos em outra época. Hoje, decidimos se o cara pode trabalhar de bermuda e se pode fazer home-office para ser mais produtivo.
Não dá para pegar uma lei de 1940 e tentar adaptar porque não funciona. Eu acho que o Brasil tem de evoluir. O passo que foi dado na reforma trabalhista é bom porque move, e é preciso dar muitos outros. Assim como adaptamos produtos para o consumidor, nós temos que colocar as nossas regulações como o mercado quer.
Conheço muita gente que produz mais trabalhando em casa. Sou da tese de que o mundo não pode parar, de que quem muda o mundo são os jovens. "Jovem" não quer dizer quem tem 20 anos, mas quem é jovem de cabeça. Você pode ter 80 anos e ser jovem. Você tem que querer mudar, não pode ficar parado.
E a Previdência?
Com relação às reformas estruturantes da Previdência, precisamos andar. Temos um desequilíbrio fiscal. Ninguém pode gastar mais do que ganha nem na sua casa, nem na padaria da esquina, nem no governo federal. Isso não existe. As previsões da Previdência daqui para a frente são ruins, não são boas.
Lembrando que o governo não produz nada. O governo só tira da sociedade para pagar contas que cada vez menos as pessoas concordam em pagar. As pessoas começam a se questionar por que estão pagando essas contas.
Então você vê um governo federal que tem R$ 1,3 trilhão de Orçamento e investe R$ 95 bilhões. É uma piada, porque o que restou é custeio. [Tem de] cortar pela metade, como qualquer empresa faria, qualquer pai de família faria, ou como qualquer padaria faria. É por aí que toca a banda.
O que espera de um novo ministro do Turismo?
O que eu espero de qualquer ministro nessa área específica é que, dada a natureza do serviço, só tente facilitar. Não precisa fazer nenhuma grande política nacional, mas facilite para que o turismo vá [para a frente]. Porque, se facilitar, o turismo vai cumprir o seu papel. Teremos cidades inteiras que vão viver de turismo. O turismo é um grande indutor de emprego.
Seria bom que ele fosse do ramo?
Não necessariamente, mas precisaria entender o poder de indução. Ele tem de entender que o turismo cria e distribui riqueza. O melhor Bolsa Família que existe é o turismo. Se você pegar todos aqueles caras que têm Bolsa Família e der um emprego no turismo, está resolvido o problema. É inacreditável o que o Brasil tem de destinos.
Que dicas daria para alguém que vai começar a construir uma carreira?
Uma dica importante e muito simples é escutar mais do que falar, porque você está aprendendo. A segunda dica é não se prender à sua opinião. A melhor opinião é a melhor opinião. Se ela é sua, boa. Se ela não é sua, inteligente é você segui-la.
Como é a sua relação com as companhias aéreas? Como avalia o serviço delas?
Eu já estive por 20 anos do lado de lá [trabalhando em companhia aérea]. É uma indústria bastante complexa, primeiro pela volumetria [quantidade de produtos oferecidos]. Segundo, o Brasil não é um país que possa se gabar de ter boa infraestrutura. Não temos aqui nenhum aeroporto com oito pistas, não há nenhum em que se encoste um avião e haja "finger" [ponte de embarque/desembarque] disponível e onde a bagagem consiga chegar rapidamente.
Depois, como qualquer empresa do Brasil, elas têm uma carga tributária louca. O Brasil é o único país que eu conheço que coloca imposto no combustível. Você não taxa logística por definição, porque logística é meio, e não fim.
Como é que resolve? Começando a fazer investimento em infraestrutura, tirando impostos de onde não fazem sentido.
Ainda assim, se você olhar o país [comparando] com o mundo, o Brasil é bem razoável no que ele presta. O brasileiro é crítico, mas isso é um pouco [característica] do brasileiro.