3 Poderes em paz

Dólar cai quando Bolsonaro, STF e Congresso estiverem em harmonia, diz chefe da corretora Necton

Beth Matias Colaboração para o UOL, em São Paulo Divulgação/Arte UOL
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Marcos Azer Maluf, CEO e fundador da Necton Investimentos, diz, em entrevista exclusiva na série UOL Líderes, que, para o dólar cair, depende de o país passar uma boa imagem para o exterior. Isso pode acontecer quando o presidente da República, Jair Bolsonaro, o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso estiverem em harmonia. Assim, o investidor estrangeiro traria mais dólares para o país e baixaria o valor da moeda.

Ele diz acreditar que só a meritocracia não resolva a desigualdade. Ela funciona mais no serviço privado e na Faria Lima (corredor empresarial em São Paulo). Segundo o executivo, é preciso focar na educação.

Para dar mais previsibilidade ao país, Maluf defende a autonomia do Banco Central e diz que o governo deve priorizar a agenda ambiental porque é para onde todos os investidores estão olhando.

Ouça a íntegra da entrevista com Marcos Azer Maluf, CEO da Necton Investimentos, no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler os destaques da conversa.

Precisa de harmonia em Brasília para atrair investidores

UOL - Quando chegaremos a um valor de dólar aceitável no Brasil?

Marcos Azer Maluf - Espero que logo. O dólar é o único ativo que está um pouco fora de compasso. Deveria estar mais próximo de R$ 4,80, mas, para isso, temos que passar mais confiança internacional aos investidores.

É importante que politicamente tenhamos meses mais calmos, maturidade entre os Poderes. Tanto o Senado quanto a Câmara, o STF [Supremo Tribunal Federal] e o presidente da República precisam trabalhar em harmonia, e quando o investidor estrangeiro entender que essa harmonia é para valer certamente entrarão mais dólares no país, e o valor vai cair.

Na sua opinião, o discurso político do governo atrapalha o investimento internacional?

O discurso político tem um peso importante e reflete no nosso cenário internacional. Sem necessariamente indicar culpados ou inocentes, mas, quando se está investindo em um país em que os Poderes estão alinhados politicamente, é possível ter uma visão de mais longo prazo, e isso ajuda o investidor.

Quais as suas expectativas para 2022? Teremos um país mais estável?

Muito melhor, sem dúvida. Teremos uma oportunidade única, de escolher democraticamente um presidente da República que irá nos governar pelos próximos quatro anos.

Vamos torcer muito para que o próximo presidente, qualquer que seja ele, faça um bom governo. Quando torcemos contra um presidente ou um governo, estamos torcendo contra nós mesmos.

A Necton Investimentos é assim:

  • Fundação

    2018

  • Funcionários

    350

  • Unidades

    3 (São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina)

  • Faturamento (2020)

    R$ 156 milhões

  • Diversidade

    40% dos funcionários são mulheres

Meritocracia só não resolve, tem de focar na educação

UOL - Como desenvolver a meritocracia em um país com oportunidades desiguais?

Marcos Azer Maluf - Acredito que só a meritocracia não resolva. A meritocracia funciona no serviço privado, funciona mais na Faria Lima [corredor empresarial de São Paulo].

Precisamos focar em educação porque é ela quem vai trazer oportunidades. Tive muita sorte de estudar. Apesar de não ter dinheiro, eu já tinha tudo.

Quando comecei a trabalhar, havia onde procurar. Todo mundo deve ter o direito de ter onde procurar. Para isso, a função social do Estado deve ser melhor e mais importante do que vem acontecendo nos últimos anos.

As altas taxas de administração nas corretoras e o risco afastam o investidor. Investir é para todo mundo?

Tem um mito de que é preciso ter bastante dinheiro para investir. Um título do Tesouro Direto rende mais do que a poupança, é seguro e você pode começar a investir com R$ 30.

Acredito que devamos democratizar o investimento para que as pessoas não fiquem dependentes nem do governo nem eventualmente dos seus filhos ou dos seus pais. A independência financeira traz liberdade para você ser dono do seu tempo.

E como economizar ganhando um salário mínimo?

Minha sugestão é que a pessoa invista nela. Se não posso economizar em dinheiro, posso economizar em uma hora do meu dia para estudar um conteúdo gratuito na internet, conseguir me profissionalizar para ganhar dois salários e aí economizar um pouquinho.

Autonomia do Banco Central ajuda o país

UOL - O Banco Central ganhou autonomia. Qual é a importância disso para o desenvolvimento do país?

Marcos Azer Maluf - A importância do Banco Central independente não é só para o mercado de investimento, é para os brasileiros.

O Banco Central independente dá previsibilidade. Qualquer que seja o presidente, é preciso pensar na continuidade.

Se o mandato do presidente do BC continuar, é muito positivo para o investidor estrangeiro entender que, quando muda um governo, não necessariamente muda tudo.

O senhor acredita que os desassistidos sejam uma preocupação do Banco Central?

Acho que deveria ser. Acredito que o Banco Central é suficientemente independente para trazer a inflação para dentro da meta. Espero que, de fato, o Banco Central faça a lição de casa corretamente para podemos ter, no ano que vem, uma inflação mais próxima da meta.

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Acredito que só a meritocracia não resolva. A meritocracia funciona no serviço privado, funciona mais na Faria Lima. Precisamos focar em educação porque é ela quem vai trazer oportunidades.

Marcos Azer Maluf, CEO da Necton Investimentos

Agenda ambiental deve ser prioridade deste governo

UOL - A questão ambiental do Brasil pode afastar o investidor internacional?

Marcos Azer Maluf - Não há espaço para outro tipo de desenvolvimento que não seja o sustentável. As mudanças no Ministério do Meio Ambiente foram positivas, mas precisamos de mais calma para mostrar o que está sendo feito, sem discussão e atrito.

A agenda ambiental deve ser prioridade deste governo porque é para onde todos os investidores estão olhando. Ela combina com desenvolvimento, não com desleixo e desmatamento de áreas de preservação.

Qual a sua opinião sobre desenvolvimento de pecuária e agricultura na Amazônia?

Somos a principal corretora agro na B3. Sobre a pecuária no Brasil, temos de lembrar que praticamente alimentamos o mundo por meio dos frigoríficos e, principalmente, por soja, trigo, grãos.

O Brasil tem essa vocação internacional, mas é preciso colocar as práticas sustentáveis, e há tecnologia suficiente para isso.

Mas o governo vem tirando recursos exatamente dos órgãos ambientais de fiscalização. Como coibir?

Os recursos não têm que obrigatoriamente vir só do governo. Acredito nas parcerias internacionais, e há fundos dedicados no mundo que podem ajudar na nossa preservação.

O Brasil é um país conhecido por ser simpático internacionalmente, por não estar metido em polêmica e brigando com todos. Devemos usar isso a nosso favor para conseguir os recursos internacionais.

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