UOL - O que a reforma tributária deve contemplar?
Georgios Frangulis - Acredito que o principal é conseguir desvincular o consumo da cobrança de imposto, porque é isso que acaba fazendo o mais pobre pagar mais imposto. Pagamos imposto quando compramos água, supermercado, combustível.
O imposto deve ser cobrado em cima do teu rendimento efetivo porque hoje, na verdade, não pagamos Imposto de Renda. Pagamos imposto de faturamento. Independente de quanto você ganhe e de quanto você gaste, você paga pelo que você ganha, com descontos que são irrisórios.
Se conseguirmos desvincular o consumo de ser o maior gerador de imposto no Brasil, aí sim a desigualdade começa a baixar de uma forma automática, porque quem ganha mais e lucra mais paga mais.
Se houvesse uma diminuição da carga tributária, o cliente da OakBerry pagaria menos pelo produto?
Pagaria. Nós colocamos todos os impostos que todo mundo pagou nessa cadeia. O primeiro o fornecedor comprou do ribeirinho. Ele vendeu para alguém que vai trazer isso para outro Estado e vai processar. Pagou imposto de novo. Eu, quando comprar, vou pagar imposto de novo, eu ou meu franqueado. E o consumidor mais uma vez, justamente porque está baseado no consumo.
Então, a carga tributária em cima do faturamento da empresa é de 15%, mas a margem de lucro seria quase 50% maior, se tivéssemos o imposto só na última linha.
Como é que a política interfere nos negócios?
Diretamente. A política interfere no psicológico de todo mundo. Às vezes, por achar que o negócio não está tão bom, a pessoa deixa de sair de casa para ir ao shopping, prefere cozinhar a sair para comer.
Acredito que o Estado deve se concentrar no que ele precisa fazer em segurança pública, em saneamento básico, em educação, e o resto deixa que a gente se vira.
Acredito muito na boa vontade das pessoas para fazer o mercado se autorregular, se autocontrolar. Quanto mais a política estiver caminhando para esse lado, melhor vai ser para o empreendedor e, consequentemente, para o empregado e para o Estado, que vai acabar recebendo mais impostos.
Quais são as vantagens e desvantagens do mercado brasileiro em relação a outros países?
Os Estados Unidos são um país pró-business, ultraliberal no sentido de empurrar o empreendedor abrir empresa e começar a trabalhar de forma rápida, mas ao mesmo tempo é um país que tem uma concorrência muito forte, muito acirrada.
No Brasil, o inverso é verdadeiro. Temos muita coisa melhorando. O poder público começou a dar um pouco mais de valor para a pequena e microempresa. As relações trabalhistas estão um pouco mais flexíveis.
Mas, de outro lado, temos uma insegurança jurídica fiscal muito grande. Você não sabe efetivamente quanto você deve, quanto você paga e quanto é o imposto para cada etapa. Ninguém sabe isso no Brasil. Por isso, a figura do contador aqui é algo tão necessária, nem ele sabe direito o que ele está te mandando pagar.
Outra desvantagem que temos é justamente a quantidade de fornecedores, quase que oligopólio na grande maioria dos mercados de commodities, e você acaba ficando refém de preços que são controlados por poucas empresas.
Algum país novo para expansão do negócio?
Estamos nos Estados Unidos, na Europa (Espanha e Portugal), na Austrália e nos Emirados Árabes -em Dubai temos duas lojas e mais duas para inaugurar. Devemos inaugurar Arábia Saudita e no Peru temos uma loja também. Tudo indica que chegaremos à Ásia no final do ano também.
O que vocês esperam do mercado asiático?
Espero muito da China. É um país talvez um pouco como o mundo árabe. Está pronto para receber os players ocidentais de uma forma mais fácil, mais prática. Esse trabalho já foi feito pelas grandes redes americanas nos últimos 10, 15 anos, na China. Starbucks, por exemplo, que sofreu para entrar, conseguiu agora e está "sitiando" o país de café, e o chinês não tomava café.
O chinês é um povo que toma chá, e eles conseguiram converter. E conseguiram converter cobrando caro, servindo um produto que talvez não seja o melhor que está disponível no mercado. Eles conseguiram passar o que é a marca, o que é a experiência Starbucks.
Sua ascendência é de gregos, judeus, austríacos. Existe muita polarização política?
Legal essa relação. Na verdade, as pessoas são muito próximas, e elas se amam, mas se você não parar para pensar pode deixar a política, por exemplo, se tornar um problema.
Minha avó era uma soldado nazista, forçada a ser soldado porque mataram o pai e falaram: "Você tem 16 anos, ou você vem com a gente ou você vai com ele. O que você prefere?".
E meu avô era soldado grego aliado. Foi preso na Áustria e conheceu minha avó quando estava preso na Áustria. Loucura. Fugiu com US$ 5 no bolso e um filho recém-nascido para o Rio de Janeiro.
Eu pelo menos faço esse exercício para não me deixar levar por nenhum tipo de furor político em nenhum momento.