UOL - O que é a revolução 4.0 da saúde?
Patrick Eckert - Nessa nova era, é preciso providenciar uma solução integral. A indústria tem uma responsabilidade do início ao fim da jornada do paciente. Não é só providenciar o remédio.
Cada vez mais estamos procurando soluções personalizadas para os pacientes. Por isso, a solução oferecida precisa levar em conta o diagnóstico precoce, para que o paciente tenha mais chances de ter uma resposta positiva.
É preciso que a jornada seja controlada para garantir que ele, não só esteja tomando o remédio, mas que esteja ainda respondendo ao medicamento. Se ele não responde mais a esse remédio, como encaminhar esse paciente para uma nova fase do tratamento.
É possível ter um tratamento personalizado em um país que tem um Sistema Único de Saúde como o Brasil?
Talvez o caminho no início pareça mais difícil, mas há uma grande vantagem: se você (laboratório) consegue estabelecer um diálogo com um parceiro único (SUS), é possível expandir para 210 milhões de pacientes. Em outros países, isso não acontece. É preciso ir por províncias ou por regiões, fazendo negociações para depois conseguir ampliar o acesso.
No Brasil, acredito que o primeiro passo dessa jornada é mais demorado porque é preciso convencer as pessoas que tomam decisões a entrarem em um piloto e testar um novo modelo. Mas, uma vez que isso funcione, no dia seguinte pode ampliar para uma população completa.
O que o senhor acha do SUS?
Hoje em dia é um sistema que ainda é muito caro para o governo. Vejo uma abertura do SUS em querer ter uma melhor gestão de seus gastos para poder ser sustentável e de alguma forma entrar em números permanentes.
Não estou falando em números controlados, porque as doenças vão evoluindo, mas fazer cada vez mais uma previsibilidade de quanto ele pode gastar em cada um dos âmbitos.
O SUS deveria ser privatizado?
Não sei se é a solução única, mas acredito que uma parceria seria uma grande oportunidade para ter um SUS mais aberto ao diálogo. Mas é bom que o SUS continue sendo do governo. Mas não descarto a oportunidade de que a iniciativa privada possa ajudar nessa construção.
Como podemos diminuir hoje as filas do SUS e melhorar a gestão da saúde pública?
Participamos de um projeto muito bacana no interior de São Paulo. Ajudamos uma unidade de atenção básica a organizar de uma melhor forma seus atendimentos. De ter um sistema que permite às pessoas pré-agendar a consulta e ver no aplicativo quais os melhores horários.
Para o médico, é possível ele se organizar e saber quanto tempo vai dedicar a cada consulta. São pequenas coisas como essas que mostram que uma parceria entre o sistema público e a iniciativa privada pode ajudar a garantir um melhor atendimento no SUS.
O que o senhor acha da atuação do Ministério da Saúde?
Temos um maior diálogo com o Ministério da Saúde, procurando soluções a longo prazo para poder incorporar, por exemplo, novas tecnologias no sistema, pensando em modelos bem disruptivos que antigamente não eram aceitos dentro do sistema público.
Isso para mim demonstra que o próprio ministério está querendo se reinventar. Está aberto a ver modelos que têm funcionado lá fora e isso vai nos levar a soluções que vão beneficiar um maior número de pacientes no futuro.
E como a situação política interfere nos negócios?
Honestamente a solução política interfere pouco porque, de uma forma ou de outra, por exemplo na saúde, as necessidades permanecem as mesmas. Mesmo que exista uma interferência direta da política na saúde, que não estou vendo neste momento, não vejo como isso vai influenciar negativamente o acesso.
Ao contrário, cada nova onda política é uma oportunidade para abrir o diálogo em cima de temas que talvez, na gestão passada, não conseguiríamos colocar para debate.
E o que o senhor pensa sobre a lei de patentes?
Ela é muito importante na indústria farmacêutica como em qualquer outra indústria. Se não existisse a patente, a inovação iria desaparecer, e não haveria nenhuma garantia de que esse investimento feito ao longo de muitos anos teria uma retribuição. A patente é necessária porque permite permanentemente o reinvestimento em inovações.
O senhor é contra a quebra de patente?
Sou totalmente contra a quebra de patente, com o intuito de manter a inovação permanentemente presente. É um dos motivadores para as empresas continuarem investindo, sabendo que terão um tempo para vender o produto. Se tirarmos a patente, provavelmente haverá uma queda significativa de empresas interessadas em investir em inovação.
Mas mesmo em medicamentos mais simples, em países mais pobres?
Esse é um bom exemplo. No Brasil, a transferência de tecnologia, que é uma das frentes que o governo tem iniciado lá atrás, permite justamente evitar isso. Não é preciso esperar esses 10 anos. Depois de algum tempo, dois ou três anos, é possível ao laboratório trazer essa tecnologia ao país.
E isso vai permitir que o laboratório nacional amplie o acesso a esse remédio a um custo muito menor. Eu iria mais por esse âmbito do que pensar em quebrar patentes.
Em vez da quebra de patente, uma parceria entre laboratórios para fazer com que esse remédio chegue mais barato para a população, é isso?
Exatamente, além de trazer essa tecnologia e habilitar esses laboratórios nacionais a cada vez mais poderem produzir esses remédios no futuro.
Isso existe no Brasil?
Sim. Há alguns exemplos que funcionaram muito bem e outros que justamente agora o Ministério da Saúde está revendo as regras para dar mais transparência, garantir no final o benefício de um maior número de pacientes a um custo menor.
Os medicamentos vendidos no exterior são mais eficientes no combate às doenças do que no Brasil?
Tenha certeza de que isso não ocorre. São exatamente os mesmos remédios, as substâncias são exatamente as mesmas na produção aqui e lá fora.
Qual a sua opinião a respeito do lobby da indústria farmacêutica no Congresso Nacional?
A indústria farmacêutica, como qualquer outra, tenta levar as informações necessárias para os diferentes públicos. Para mim, esse é um público-alvo que precisa saber as deficiências ou as oportunidades do setor de saúde porque eles representam a população.
É importantíssimo esse diálogo e penso que isso vai nos ajudar a encurtar caminhos e tempos para resolver questões importantes da saúde do Brasil.