UOL - Na questão do derramamento de óleo na costa brasileira, qual a sua opinião a respeito da fiscalização?
Luiz Sabatino - É preciso haver segurança. Como é que um navio entra em águas brasileiras, faz o derramamento de óleo e não temos a menor noção de quem foi? Estamos demorando a responsabilizar esse navio, essa empresa, essa pessoa.
Fazendo uma analogia com a segurança do dia a dia: se um petroleiro, entra em águas internacionais, o que deve estar acontecendo perto da costa brasileira, com droga, com armas, com um monte de coisa? Isso é segurança, é um dos pilares que precisam ser levados a sério.
É muito triste ver tudo isso porque o brasileiro tem a cultura de ser reativo, tudo é reativo. Para consertar o buraco na rua da sua casa, tem que ser uma cratera. Precisamos parar de ser reativos e passar a ser proativos.
A mesma coisa com o desmatamento da Amazônia. Não adianta esperar acontecer para fazer. Temos essa cultura, o povo latino-americano tem muito isso. Não é só no Brasil. Talvez essa seja a maior diferença entre público e privado.
O privado tem no DNA a necessidade de enxergar onde vai chegar, como vai chegar, de que forma vai chegar. Isso é ser proativo. O público é um pouco mais complacente com algumas coisas.
O que mudou no mercado de lubrificantes nos últimos anos?
Eu diria que são duas grandes mudanças: primeiro, a tecnologia, que tem avançado muito, principalmente com as questões ambientais. Hoje 75% do orçamento de pesquisa e desenvolvimento da Petronas tem que ter necessariamente como principal mote a redução de CO2.
A segunda é a forma de distribuir o lubrificante. A distribuição está um pouco mais concentrada. Estamos mudando o modelo de negócios, deixando de vender para todo mundo para abastecer uma rede de distribuidores autorizados no Brasil, que terá a capacidade de cobrir todo o território nacional.
Uma venda mais focada e consultiva. Estamos falando de mais ou menos 25 distribuidores.
O lubrificante polui?
O lubrificante, sem dúvida nenhuma, impacta o meio ambiente porque não é solúvel na água. O que tem que ser feito é a prevenção. A Petronas participa de um programa chamado Jogue Limpo.
É um programa de recolhimento desse lubrificante, da embalagem plástica. Incentivamos a discussão e é uma preocupação também com os nossos funcionários.
O grande fato da redução do CO2 se dá também por questões de tecnologia. Recentemente a Petronas lançou o primeiro lubrificante na América Latina para carros híbridos, que são uma realidade.
O carro elétrico é um caminho sem volta e estamos participando ativamente. Lançamos esse lubrificante para carros híbridos, e, na Europa, a Petronas foi a empresa que lançou um lubrificante exclusivo para carro elétrico.
Existe uma possibilidade de não precisar mais de lubrificantes no futuro?
Eu li um texto recentemente de um profissional da concorrência que faz uma analogia com o case Kodak. Para mim, a grande diferença é que a Kodak era 100% dependente daquele modelo.
Acredito que o tempo para essa migração, [combustível/elétrico] na sua integralidade, é muito mais longo do que foi no período da Kodak. Até chegar em uma modelagem técnica, onde a bateria dê conforto [tenha mais tempo de carga] para a indústria e para os consumidores, vai levar mais tempo.
Também estamos falando basicamente neste momento de carros e alguns fabricantes de moto. Só que há toda a parte industrial que ainda consome lubrificante.
Por exemplo, a indústria de mineração, siderurgia, que ainda vai usar durante muito tempo os lubrificantes. O modelo tem um tom transitório mais suave do que o modelo da Kodak. Mas, sem dúvida, quando essa tecnologia estiver absolutamente dominada, o modelo de negócio muda. Não tem como fugir disso.
Por que vocês investem na Fórmula 1?
A parceria da Mercedes [equipe alemã de automobilismo] com a Petronas não é uma parceria somente de patrocínio. É uma parceria de desenvolvimento tecnológico. Estamos dentro da Mercedes.
Toda arquitetura dos motores 2020/2021 passa por uma conversa com a Petronas. Todo esse ciclo vitorioso da Mercedes dos últimos seis anos tem a mão da Petronas nessa questão de lubrificantes.
A tecnologia que desenvolvemos com a Mercedes, colocamos também nos carros de rua porque os motores estão ficando cada vez menores. O que aprendemos e desenvolvemos lá, trazemos para cá.
E o futuro da Fórmula 1 vai ser a forma a Fórmula E (carros elétricos)?
A Fórmula 1 tem toda uma magia, uma história, um histórico, tem ídolos formados e cultuados por essa história. A Fórmula E é uma realidade. Se vai substituir a Fórmula 1, só o tempo dirá. Em princípio, pela lógica que está se instalando e pelos caminhos que estão sendo desenhados de a matriz elétrica ser o futuro, talvez a própria Fórmula 1 irá desaparecer ao longo do tempo.
Mas hoje eu diria que a continua muito forte, com os novos acionistas tentando fazer que o show aconteça de uma maneira diferenciada, integrando mais o público, tentando equalizar um pouco mais a questão de orçamento entre as equipes, tentando diminuir a distância que existe entre elas. Acredito que por um tempo ainda a Fórmula 1 continuará sendo o grande evento de automobilismo mundial.