Respeito pelo país

Brasil é hoje um país muito respeitado e seguro para investidores estrangeiros, diz chefe da Dotz

Beth Matias Colaboração para o UOL, em São Paulo Divulgação e Arte/UOL
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Roberto Chade, co-fundador e CEO da Dotz, diz, em entrevista exclusiva na série UOL Líderes, que o Brasil hoje é um país muito respeitado e seguro para os investidores estrangeiros, apesar de eventuais soluços polêmicos.

Em 2021, a Dotz, empresa pioneira no mercado de fidelidade de cliente, abriu capital na Bolsa de Valores (B3) e tornou-se parceira da gigante chinesa Ant Financial, o braço financeiro da plataforma Alibaba.

Para o chefe da Dotz, os dois últimos anos foram muito desafiadores, e os empresários aprenderam a lidar com a imprevisibilidade. Chade fala também sobre a preferência do brasileiro por recompensas e como a inflação alta faz o consumidor buscar produtos mais baratos para manter a cesta de produtos.

Ouça a íntegra da entrevista com Roberto Chade, co-fundador e CEO da Dotz, no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube. Continue nesta página para ler os destaques da conversa.

Brasil é seguro e respeitado

UOL - Muitos investidores estão saindo do Brasil. É arriscado para o estrangeiro aplicar no país?

Roberto Chade - O Brasil tem muitas oportunidades para o investidor de fora. Enxergamos um crescimento ano a ano dos investimentos estrangeiros no país, mas, às vezes, temos alguns soluços, que acabam sendo muito ruins, mas são pontuais.

Da forma como o país vem performando, tanto do lado das empresas como da possibilidade de negócios, hoje o Brasil é um país muito respeitado e seguro.

Em alguns momentos o soluço é um pouco maior. Algumas declarações causam um pouco mais de tensão, mas eu não vejo uma corda esticada ao extremo.

É uma corda que estica e depois desestica. Se esticar ao extremo, todo mundo perde muito.

O ano de 2021 foi de muitos soluços?

Eu diria que 2020 e 2021 foram anos de desafios extremos, divertidos e desafiadores, que fizeram com que os sobreviventes -infelizmente não foram todos- saíssem fortes ca crise.

Todos estamos mais fortes em todos os sentidos. Eu preferiria uma pista limpa, mas não moro na Suíça. Sei que aqui não vai ter pista limpa.

Não caberia também aos empresários atitudes para melhorar esse cenário de imprevisibilidade?

Não coloco isso só na conta dos empresários. Coloco na conta da sociedade brasileira. Se perguntarmos para as pessoas em quem votaram há dois anos para deputado e senador, a maioria nem se lembra.

No fim, este é o país que nós temos. Essa responsabilidade é de todos.

A Dotz é assim:

  • Fundação

    2000

  • Funcionários

    450

  • Usuários

    50 milhões

  • Mercados em que atua

    Fidelidade, marketplace, conta digital e serviços financeiros

  • Participação no mercado

    31,6% (fidelidade)

  • Principais concorrentes

    Smiles e Latam (fidelização); Cuponomia, Cuponeria, Tecmundo Cupons (cupons de desconto e cashback); Banco Santander (Brasil), Sempre Presente, do Itaú, Livelo Banco Inter (fidelização instituições financeiras); Paypal, Mercado Pago, Pag Seguro (instituições de pagamento)

Relação com os chineses donos do Alibaba

UOL - E quais são os desafios da Dotz em 2022?

Roberto Chade - Neste momento, pós-IPO [abertura de capital], iniciamos o terceiro nascimento da Dotz, com capacidade de investimento de R$ 400 milhões, com mais ativos, mais de 50 milhões de usuários, muitos dados, uma presença omnichannel [em várias plataformas], tanto no varejo físico como no digital, uma moeda para engajamento e uma presença muito forte no mercado.

Vemos 2022 como um ano que começa a materializar de uma forma muito relevante essa nova etapa da Dotz, com um crescimento importante, com produtos e experiência cada vez melhores.

Quais foram as mudanças provocadas com a entrada da chinesa Ant Group na Dotz?

Em relação a Ant Group, é um orgulho e uma responsabilidade enormes porque é a maior empresa de tecnologia em serviços financeiros do mundo.

Óbvio que há alguns desafios, como fuso horário, cultura, mas o valor agregado vem sendo muito relevante no direcionamento de produto, de experiências já realizadas, e, sem dúvida, a Dotz hoje é uma empresa melhor também em consequência da entrada da Ant como acionista.

O objetivo da Dotz é ser um Alibaba na América Latina?

Mais até do que o Alibaba, que é um marketplace. O Ant Group, que é braço de serviços financeiros deles na China, fez toda a disrupção de pagamentos e inclusão financeira.

Sem dúvida nenhuma que uma das grandes obsessões da Dotz é conquistar esse espaço.

Brasileiro gosta de ser recompensado

UOL - É possível fazer um retrospecto desse mercado de fidelidade nos últimos cinco anos? Cresceu ou encolheu?

Roberto Chade - Estamos em três mercados: o de fidelidade, o de marketplace [shopping digital] e o de serviços financeiros.

Especificamente falando de fidelidade, há um potencial de crescimento ainda muito grande. Antigamente, era muito restrito à alta renda e a gastos com cartões de crédito e companhias aéreas.

Nos últimos dez anos, estamos atuando na democratização da fidelidade de pessoas físicas. Hoje já existem mais de 200 milhões de cadastros nos programas de fidelidade —dado oficial da Abenf [Associação Brasileira das Empresas de Fidelização], e esse número está crescendo.

Há vantagem no sistema da troca de pontos? Por que o produto sai mais caro na troca?

Anos atrás, ouvia as pessoas dizerem que os programas de fidelidade no Brasil não dariam certo porque o brasileiro não tem essa cultura.

Eu respondia que, se fizesse direito, daria certo. Hoje temos mais de 200 milhões de cadastros em programas. É óbvio que já deu certo.

Vemos as diferentes formas com as quais o brasileiro gosta de ser recompensado: as filas em shoppings, no final do ano, para entregar um cupom e concorrer a algum brinde, sorteios, programas. O brasileiro talvez seja um dos povos que mais se engajam em iniciativas nesse sentido.

Sobre ter vantagem ou não, os programas acabam dando para o consumidor final um benefício que ele não teria.

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Anos atrás, ouvia as pessoas dizerem que os programas de fidelidade no Brasil não dariam certo porque o brasileiro não tem essa cultura. Eu respondia que, se fizesse direito, daria certo. Hoje temos mais de 200 milhões de cadastros em programas. É óbvio que já deu certo.

Roberto Chade, co-fundador e CEO da Dotz

Ainda se usa muito o dinheiro de papel

UOL - Cada vez mais o dinheiro virtual está circulando pelo país. No futuro, ainda haverá espaço para os cartões físicos e até mesmo o dinheiro em cédula?

Roberto Chade - O brasileiro ainda usa muito o dinheiro. O próprio Pix vem sendo um enorme sucesso, mas ele roubou apenas 10% da circulação de dinheiro. Acredito que irá diminuir cada vez mais porque hoje as próprias contas digitais deram um salto enorme, pois as pessoas podem fazer tudo de uma forma mais simples e mais segura.

Não tenho dúvida de que vem diminuindo o uso do papel-moeda, mas ainda é muito relevante. Hoje 65% das transações são feitas em papel-moeda. A tendência é ir diminuindo cada vez mais.

Por que vocês chamam as vantagens acumuladas de moeda Dotz? Isso não confunde?

Hoje alguns milhões de pessoas usam essa moeda, em várias regiões do Brasil, e você já pode pagar o supermercado em dotz, as contas de consumo. Queremos que o dotz seja uma moeda que auxilie a vida das pessoas.

A nossa visão foi essa desde sempre, por isso nunca chamamos de ponto, mas sim de moeda, porque moeda é algo desejado, valorizado pelas pessoas.

Agora você pode comprar bitcoin em dotz, pode colocar como garantia para fazer empréstimo a taxas mais baixas.

Os programas de milhagem das companhias aéreas estão acabando?

Não, esse mercado vem crescendo porque viagem é sempre um atrativo importante.

Cesta de produtos tem itens mais baratos

UOL - Percebemos na pandemia que os produtos com marcas consolidadas saíram em vantagem. Você acha que o consumidor é mais fiel a marcas ou a preço?

Roberto Chade - Percebemos que o consumidor brasileiro é muito exigente. Um colega me disse até que ele é cruel, pois quer a maior qualidade e quer pagar o mínimo possível.

Temos na Dotz quase 8 bilhões de SKUs, que é item a item o que o consumidor final compra. Conseguimos ver muito essas variações da cesta de consumo ao longo das diferentes etapas da vida da pessoa.

Mais recentemente vimos uma migração. O consumidor gastando os mesmos R$ 1.000, por exemplo, que ele gasta sempre, buscando produtos mais baratos para que a cesta continue completa. Isso acontece como consequência de uma situação econômica.

Você também considera o consumidor brasileiro cruel?

Ele é cruel no que é correto, está fazendo o correto: querer o melhor ao menor preço. Não é simples conseguir fazer essas duas coisas. Esse é o grande ponto, como encontrar esse equilíbrio.

Se você hoje tivesse um cargo relevante no governo e um orçamento bastante poderoso para investir, onde você investiria?

Educação, e esquece o resto. A educação básica é a que vai resolver o problema no longo prazo, mas as pessoas têm que chegar lá.

Enquanto as pessoas não chegam lá, você tem que resolver o problema da educação agora. Os tais cursos técnicos, que lá nos EUA foram uma grande forma de geração de renda, são o único caminho.

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