À procura do fundo perfeito

Saiba encontrar os fundos de investimento que combinam melhor com seu perfil e objetivos

Colaboração para o UOL, em São Paulo

Qual é o melhor fundo de investimento? A resposta vai depender do perfil de quem faz a pergunta e também do momento do mercado.

Se o fundo assume riscos intoleráveis a quem não suporta o sobe e desce da Bolsa, o retorno entregue aos investidores, por melhor que seja, não deve ser o principal critério. Já pela perspectiva de quem busca ganhar dinheiro rápido, ainda que tenha que correr mais riscos, fundos com sucesso recente nem sempre são os mais bem posicionados para aproveitar as próximas ondas do mercado.

Não há, portanto, resposta fácil. O acerto na escolha depende da atenção do investidor a sinais, alguns claros e outros nem tanto, que revelam se o fundo se encaixa bem em seus planos financeiros. Comece a descobrir a partir de agora qual é o fundo perfeito para você.

Bons para uns, nem tanto para outros

Existem fundos que investem em ativos de renda fixa, como títulos que financiam governo, bancos e empresas, e existem fundos que investem em ativos de renda variável, como ações, moedas e imóveis.

Há também os multimercados — fundos que, por fazerem investimentos nesses dois universos de ativos financeiros, representam muitas vezes um meio termo entre a segurança da renda fixa e o maior risco da renda variável.

Nenhum deles é contraindicado, e, pensando em diversificação, é até saudável carregar diferentes tipos de ativos na carteira.

Porém, o investidor mais conservador, aquele que tem dificuldade em lidar com os altos e baixos da Bolsa, deve entrar com cuidado nos fundos de renda variável para não colocar uma parcela importante de seu patrimônio em risco.

Assim, o fundo ideal a quem prioriza segurança, mesmo que isso signifique retornos menores, não é o mesmo que serve aos que topam assumir risco em busca de resultados mais rápidos a seus investimentos. Ou, pelo menos, não tem o mesmo peso.

A escolha vai depender, portanto, do objetivo de cada um. Para entender qual é a melhor opção, o investidor não deve observar apenas o desempenho dos fundos no passado, mas, sim, como eles chegam aos resultados e quais as perspectivas de continuarem a oferecer bom desempenho no futuro.

O investidor deve entender se ele é mais conservador, moderado ou agressivo em relação à tomada de risco. Ou seja, o quanto ele está disposto a tomar risco para obter o retorno desejado. Quanto maior o risco, maior a possibilidade de retorno, mas é preciso ter consciência de que os ativos vão oscilar.

Arthur Mesnik, sócio e diretor de operações da gestora Trígono Capital

Para alguém que está começando agora a descobrir o universo dos investimentos, os fundos multimercado podem funcionar como um 'pezinho na água' para sentirem como é o mercado -- mas desde que tenham baixa volatilidade. Ou seja, vale entrar naqueles que 'chacoalham' menos com o passar do tempo e são mais consistentes.

Alexandre Alvarenga, analista de investimentos da Empiricus

Desempenho passado não garante nada, mas é bom ponto de partida

Para evitar frustrações, é fundamental o investidor ter plena consciência de que o desempenho passado de um fundo não é garantia de que os resultados vão se repetir no futuro. Mesmo assim, a análise do histórico é um ótimo ponto de partida no processo de seleção para escolha de fundos de investimento mais promissores.

O importante aqui é o investidor não ser seduzido apenas pelo retorno do último ano ou o acumulado desde o lançamento do fundo. A atenção deve ser direcionada aos indicadores que revelam o risco que os cotistas do fundo correram até colher os bons resultados, assim como a consistência do fundo em diferentes ciclos econômicos.

A volatilidade é, nessa análise, um dos principais indicadores por mostrar quanto um fundo costuma oscilar. Assim, mesmo apresentando ótimos resultados, fundos com percentuais altos de volatilidade podem assustar quem perde noites de sono ao ver o investimento ficar no vermelho e não tem sangue frio para esperar a recuperação.

Descobrir qual foi o maior tombo sofrido pelo fundo, e quanto tempo ele levou para se reerguer — o chamado "drawdown" — ajuda também o investidor a refletir sobre como agiria se algo parecido voltasse a acontecer em um momento de crise.

Outra boa forma de avaliar um fundo é prestando atenção em como ele se comportou em diferentes períodos. Aqui a dica é avaliar diversas "janelas" de tempo, como de 12, 24 ou até 60 meses, a depender do risco do fundo. A intenção é identificar se o resultado do fundo é fruto de um momento atípico ou se ele realmente cumpre com o retorno prometido na maioria das vezes.

Quanto mais longo o histórico, melhor. Olhar apenas a rentabilidade dos últimos 12 meses é um erro comum do investidor iniciante. Muitas vezes, uma 'tese' [aposta] do fundo pode demorar a se concretizar, ou as posições anteriores talvez não sejam as melhores para o futuro.
Marina Renosto, investor na Blackbird Investimentos

Em mar calmo, todos navegam bem. A diferença está em quando o mar está revolto. O bom gestor é aquele que, na tempestade, mostra toda a sua habilidade, navega bem e sai melhor.
Arthur Mesnik, sócio e diretor de operações da gestora Trígono Capital

É preciso avaliar ainda se, no fim das contas, vale a pena encarar a volatilidade do fundo. Ou seja, se o fundo geralmente entrega um prêmio que recompensa o investidor pelos seus riscos. Nesse caso, a resposta vem do índice de Sharpe, que compara o retorno do fundo com o rendimento de títulos de renda fixa livres de risco. Quanto maior for a pontuação do Sharpe, maior é o retorno obtido pelo risco assumido.

Assim, ter um retorno alto e Sharpe baixo significa que o investidor correu muito risco para conseguir o rendimento do fundo. Quando o Sharpe é zero, a indicação é de que o fundo normalmente dá o mesmo retorno dos títulos seguros de renda fixa. Ou seja, o investidor não precisa passar por nenhum estresse para chegar ao mesmo resultado. Se o Sharpe for negativo, fique atento. Isso é um aviso de que o rendimento do fundo é ainda menor do que os de investimentos sem risco. Assim, não faz sentido entrar nele.

Apesar da máxima de que rentabilidade passada não garante rentabilidade futura, é necessário olhar para o passado para entender minimamente como o fundo se comportou historicamente e quais foram os acontecimentos que fizeram ele ter melhor ou pior performance.

Loni Batist, diretora da Guide Life

Quer saber como o fundo vai usar o seu dinheiro? Leia o regulamento

O investidor não precisa se preocupar em aprender a fazer contas na hora de pesquisar onde estão as melhores relações de risco versus retorno do mercado. Tanto a volatilidade quanto o "drawdown" e o índice de Sharpe, bem como a quantidade de meses positivos e negativos, são facilmente encontrados em relatórios dos fundos ou nos sites que fazem comparação entre eles.

Tais indicadores oferecem bons sinais sobre como o fundo se comporta em vários cenários, e eventualmente nas mãos de diferentes gestores. Ainda assim, são dados relativos ao passado, que, como observado antes, não necessariamente se repetirão depois de o investidor ingressar no fundo.

Para um investimento que trouxe bons resultados nos últimos anos seguir dando certo nos próximos, é preciso observar onde o fundo aplica o dinheiro, seus mercados de atuação e quais estratégias adota. Tudo isso é fundamental para o investidor ter uma melhor noção das chances de o fundo continuar entregando bons resultados.

Se, por exemplo, o investidor se preocupa com o risco de uma onda de calotes, cabe conferir se o gestor do fundo está autorizado a aplicar apenas em títulos de dívida com as melhores classificações de crédito.

Ao investir em ações, confira se o gestor está liberado a comprar apenas ações de companhias brasileiras ou se pode diversificar, aproveitando oportunidades da Bolsa de Nova York. Observe também se ele só compra ações ou se tem autorização para adotar estratégias de proteção contra um eventual colapso do mercado. Outro ponto é saber se o gestor tem carta-branca para realizar operações de alto risco e acelerar os retornos do fundo e, se sim, qual seria o limite dessas operações.

Respostas a dúvidas do tipo são encontradas no regulamento do fundo, onde é apresentada a política de investimento seguida pelos gestores. A pessoa interessada em saber se terá o dinheiro direcionado a investimentos compatíveis com as suas expectativas precisa dedicar, assim, algum tempo à leitura dessas regras do fundo.

É importante conhecer a filosofia de investimento da gestora. Algumas são mais especializadas em empresas de alto crescimento, outras são voltadas ao investimento em empresas negociadas com desconto em relação a seu valor justo.

Alexandre Brito, sócio e head de gestão patrimonial da Finacap Investimentos

Ao analisar os currículos dos gestores, merecem atenção pontos como o tempo de experiência em gestão de recursos dentro da estratégia proposta, a qualidade da formação acadêmica, os trabalhos e cargos ocupados em casas anteriores e as certificações de investimentos.

Flávio de Lima, gestor da estratégia de FoF (Fundos de Fundos) da Somma Investimentos

Como saber se o dinheiro está em boas mãos

O investidor também deve se preocupar em conhecer os gestores que decidem, dentro dos limites da política de investimento, como os recursos do fundo são aplicados.

Nesse caso, cabe conferir a formação e experiência profissional dos gestores, sobretudo na aplicação na estratégia adotada pelo fundo, bem como saber o máximo possível da visão deles sobre as tendências de mercado e seus métodos de selecionar investimentos.

Outra preocupação é se a casa tem boas condições financeiras de reter talentos do mercado. Por isso, taxas de administração baixas podem até ser um critério de desempate, mas nunca um fator único e decisivo na escolha de um fundo. Afinal, a gestora pode perder bons profissionais para concorrentes que conseguem remunerar melhor.

Diferente das etapas anteriores de análise, nem sempre o investidor vai encontrar essas respostas no material de divulgação e documentação publicados pelos gestores e administradores do fundo — entre eles, os relatórios, o regulamento e a lâmina, uma espécie de folheto no qual são resumidas as principais informações do fundo.

A boa notícia, no entanto, é que cada vez mais gestoras têm departamentos de relações com investidores. É um ótimo canal para esclarecer dúvidas. Muitas delas também passaram a transmitir semanalmente entrevistas, como podcasts e lives, nas quais o gestor faz a sua análise do mercado.

Ao acompanhar essas apresentações, junto com a carta escrita mensalmente pelo gestor aos cotistas, o investidor fica por dentro das teses por trás dos investimentos do fundo e das apostas de seus gestores. Consequentemente, compreende como ele pensa e conduz o fundo.

Atualmente, a maioria dos gestores de fundos tem uma relação mais aberta com o público. Através das interações, é possível entender a perspectiva do time de gestão, além das decisões de alocação da carteira do fundo.

Alexandre Brito, sócio e head de gestão patrimonial da Finacap Investimentos

É importante o investidor conhecer quem é o gestor e a sua equipe, onde eles atuaram antes e há quanto tempo trabalham juntos.

Marina Renosto, investor na Blackbird Investimentos

Lives, podcasts e webinars sempre trazem informações relevantes e atualizadas sobre a gestão e a estratégia do fundo. Já na avaliação dos currículos, um histórico de 20 anos no mercado financeiro, principalmente se for em instituições renomadas, com certeza é um ponto a favor dos gestores.

Alexandre Alvarenga, analista de investimentos da Empiricus

Topo