Fundos multimercados

A partir de R$ 100, é possível aplicar em diferentes modalidades: renda fixa, variável, ações e metais

Paula Pacheco Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images

Os fundos multimercados são uma espécie de 1.001 utilidades. Atendem a todos os perfis de investidores: conservadores, moderados e arrojados. Permitem escolher os mais diversos tipos de ativos, de renda fixa a variável, de ações a metais, entre outros.

Como define o Banco Central, essa classe de ativos, apesar de envolver vários fatores de risco, não tem "o compromisso de concentração em nenhum fator em especial".

A modalidade, que agrega aportes de diferentes pessoas e segue o que estiver predeterminado em regulamento, permite investir em ativos com diferentes características, como renda fixa e câmbio, no Brasil ou no exterior, e ainda usar derivativos para a alavancagem ou para a proteção de carteira.

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Conheça o gestor antes, porque ele tem muito poder

Diferentemente de alternativas mais conservadoras, os fundos multimercados são caracterizados por uma autonomia maior nas mãos do gestor, que pode se arriscar na busca por rendimentos maiores. Por isso, é a dica mais citada pelos cinco especialistas em finanças ouvidos pelo UOL: conheça muito bem quem vai cuidar do seu dinheiro antes de bater o martelo.

Os conteúdos online podem facilitar a vida do investidor que quer conhecer melhor a cabeça dos gestores e encontrar pontos de afinidade.

Com a comunicação pela internet cada vez maior, hoje é muito fácil conhecer o gestor. Dá para acompanhar o que esse profissional pensa pelas lives, cartas mensais das gestoras e redes sociais. É a forma de saber como ele pensa, como enxerga o mundo, onde vê oportunidades, e assim alinhar interesses para não se frustrar.

Camilo Cavalcanti, superintendente de investimentos da Infinity Asset

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Começar aos poucos ajuda investidor

Uma forma de se familiarizar com os fundos multimercados é começar a investir somas pequenas. Hoje, com R$ 100 já é possível aderir ao produto, conforme a gestora. "Coloque um valor que, se as coisas derem errado, você não vai perder uma parte relevante do patrimônio. Isso tem um caráter educacional, porque pelo menos você faz a sua poupança e vê o dinheiro se mexer", disse Camilo Cavalcanti, superintendente da Infinity Asset.

A variedade de fundos multimercados é grande —cerca de 10 mil. O patrimônio também confirma a sua atratividade. Em 30 de novembro, segundo a consultoria Economatica e a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a captação dessa classe de ativos atingiu R$ 1,3 bilhão, chegando ao sétimo mês consecutivo de crescimento.

No caso do investidor mais conservador, essa pode ser a uma alternativa para quem busca diversificar e ter contato com novas oportunidades de aumentar os ganhos em tempos de taxa básica de juros (Selic) na mínima história, de 2% ao ano. Antes de escolher, no entanto, é preciso ficar atento a algumas informações.

O histórico do desempenho do fundo multimercado é muito importante. O ideal é olhar o comportamento nos últimos três anos. Se for um fundo novo, é preciso saber qual é o perfil e o histórico do gestor e da casa onde ele trabalhava, se o retorno esteve alinhado com o objetivo proposto para aquele produto.

Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama Investimentos

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Nada de pressa

Outro alerta dos especialistas é quanto ao prazo mínimo de permanência em um fundo multimercado —não menos que um ano e pelo menos três anos como prazo ideal. Como explica Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama Investimentos, esse não é o tipo de classe de ativos que apresenta resultados recorrentes, de forma consistente. Por isso, é preciso ter paciência e planejamento.

"A estratégia do gestor é muito flexível, por isso é preciso esperar. Numa semana, o gestor pode estar comprado em dólar e na outra vendido, o que torna muito difícil para quem não é especialista acompanhar cada movimento", disse a estrategista-chefe.

Ficar mais tempo com o patrimônio imobilizado naquele produto aumenta a chance de aproveitar o potencial do gestor. Alguns produtos de fundos multimercados apresentam liquidez diária e outros de 30 dias.

Sobre os fundos multimercados prevalece a tabela regressiva do Imposto de Renda, que começa em 22,5% de taxação para até seis meses de permanência, e cai conforme o tempo avança para o mínimo de 15%.

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Saiba como comparar os rendimentos

São muitas as classificações dos multimercados, mas de uma forma geral eles estão em duas categorias —ou estão baseados em um tipo de ativo (como renda fixa, commodities, ações) ou podem ter como meta acompanhar o comportamento de um índice específico, o que é chamado de benchmark.

Esse é o termo que designa uma referência de mercado para que o investidor possa acompanhar o comportamento do ativo. O CDI, por exemplo, é o benchmark da maior parte dos LCIs, CDBs, fundos de renda fixa e multimercados.

Nesse caso, o objetivo do gestor, conforme prospecto sobre o produto financeiro, é buscar o ganho do CDI (indicador atrelado à renda fixa, com variação muito próxima à Selic) mais um percentual adicional —por exemplo, CDI + 5%. O que ficar acima do combinado vai para o gestor a título de remuneração por seu desempenho.

Quando o desempenho dos fundos é comparado, já é o resultado final, descontada a taxa de administração e de performance. A maior parte dos gestores trabalha com 2% de taxa de administração. A taxa de performance costuma ser de 20% sobre o ganho em relação ao benchmark.

Para Mauro Rached, head da área de Produtos da Integral Investimentos, esse percentual deve ser compatível com o objetivo do fundo. Do contrário, uma taxa elevada sobre uma expectativa de ganho baixa pode não fazer diferença na rentabilização do patrimônio.

Quanto maior o objetivo do fundo multimercado, mais aceitável seria que a taxa de administração fosse aumentando. Mas nem sempre acontece. Há casos em que a volatilidade é diferente entre os fundos, mas a taxa é a mesma.

Mauro Rached, head da área de Produtos da Integral Investimentos

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Escolha produtos com perfis diferentes

Outra cautela necessária para quem busca essa classe de ativo é procurar fazer combinações entre os fundos e não colocar os recursos em apenas um ou em vários que tenham as mesmas características.

O principal não é escolher o melhor fundo multimercado, mas investir em alguns fundos com baixa correlação entre si. Se um vai mal, os outros vão bem.
Ítalo Palácio, assessor e integrante do comitê de investimentos da Aplix

Para explicar a necessidade de investir em fundos multimercados não relacionados, Ítalo Palácio, assessor e integrante do comitê de investimentos da Aplix, lembra o chamado "Joesley Day" (em 17 de maio de 2017, depois do vazamento de gravações entre Joesley Batista, da JBS, e o então presidente da República, Michel Temer, que derrubou a Bolsa brasileira em cerca de 9%).

"Numa ocasião como aquela, os gestores mais posicionados no exterior conseguiram resultados melhores do que aqueles atrelados ao mercado brasileiro", afirmou o assessor da Aplix.

Conservador, moderado e agressivo

A recomendação de Palácio é começar aos poucos nos fundos multimercados. Se o investidor tiver um perfil conservador, deve chegar a até 15% do patrimônio. O moderado pode aumentar essa participação para 30%, e aqueles com perfil mais agressivo têm condições de elevar essa fatia a 50%, sempre de forma progressiva.

No meio de tantas recomendações, ainda prevalece a primeira delas: a análise cuidadosa sobre o que pensa o gestor. Esse cuidado pode evitar a dor de cabeça diária que muitos investidores têm ao tentar acompanhar o comportamento de seus ativos no mercado a todo instante.

Nos fundos multimercados, alinhar as expectativas entre o que você espera e o que o gestor planeja entregar é fundamental. É uma classe de ativo que corre risco de mercado, a volatilidade existe, por isso é importante esperar, dar tempo para que as coisas aconteçam e conseguir rentabilizar o dinheiro.

Mário Kepler, sócio da Portofino Multi Family Office

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