Invista para ter renda

Khosrork/Istock

O que é renda passiva

A renda passiva é a remuneração que não está vinculada a qualquer trabalho, atividade profissional ou prestação de serviço. É um dinheiro que você ganha sem precisar trabalhar.

Na prática, a renda passiva pode ser obtida de duas maneiras:

  • Sem capital financeiro: ocorre quando a pessoa recebe pensão, royalties ou direitos autorais por determinada obra, por exemplo.
  • Com capital financeiro: nesse caso, você investe dinheiro para ter ganhos periódicos a partir dos rendimentos.

Que investimentos pagam renda passiva?

As principais alternativas são os dividendos de ações, os fundos imobiliários e aplicações em determinados títulos do Tesouro. Com esses investimentos, a pessoa pode ter dinheiro caindo na conta com certa frequência. Há diferenças na remuneração e no nível de risco de cada um.

Mas, em última análise, todos os investimentos geram renda passiva, já que você não trabalha para ver os rendimentos.

Como me organizar para investir com esse objetivo?

A primeira providência é colocar as contas em dia, pagar eventuais dívidas e separar parte dos ganhos para investir. É o que recomenda João Daronco, analista da Suno Research.

Outro caminho é aplicar um eventual "dinheiro extra" que apareça, como no caso de uma indenização ou prêmio de loteria.

Para saber onde investir, você precisa saber qual é o objetivo do investimento (complemento dos ganhos, independência financeira ou aposentadoria), nível de tolerância a risco, valor e qual a frequência dos recebimentos desejados - a cada 30, 90 ou 180 dias, normalmente.

Como as ações podem ser uma fonte de renda passiva?

Essa remuneração pode vir dos dividendos pagos pelas ações. O valor representa uma fatia do lucro líquido da companhia.

Outra maneira de remunerar o acionista é por meio dos chamados "juros sobre capital próprio (JCP)". A diferença dos dividendos é, basicamente, o tratamento fiscal.

Como selecionar as melhores ações para investir com esse objetivo?

Ações de empresas líderes e consolidadas costumam pagar melhor. "Idealmente, um investidor focado em proventos deve buscar por empresas já consolidadas em seus setores, bem administradas e com geração de caixa resiliente e sustentável", afirma Gabriela Joubert, analista-chefe do Inter. De maneira geral, essas companhias apresentam também baixo endividamento e pouca necessidade de investir, o que faz com que consigam pagar mais ao acionista.

Alguns setores também costumam concentrar boas ações para dividendos. No Brasil, tais companhias são encontradas normalmente em setores ligados a serviços de utilidade pública, como energia elétrica e saneamento, diz Gabriela. Outros segmentos lembrados com frequência são bancos e seguradoras.

Kirill Smyslov/iStock

Como ver se uma ação paga bons dividendos

Existem algumas contas que você pode fazer para comparar as ações em relação aos dividendos pagos:
  • Dividendo por ação: é obtido a partir da divisão do valor dos proventos pelo total de ações da empresa. Exemplo: uma distribuição de R$ 300 milhões pode ser equivalente a R$ 0,15 por ação. Esse valor proporcional é o que realmente importa ao acionista. A interpretação é de que quanto maior, melhor.
  • Dividend yield: o termo em inglês é o mais usado no mercado para indicar o retorno de uma ação via dividendos. Representa quanto do rendimento daquele papel, em determinado período, pode ser atribuído à distribuição de lucros. É um cálculo de proporção e expresso em percentual.
  • Payout: representa a fatia do lucro líquido da empresa que é destinada ao pagamento de proventos. Exemplo: se uma companhia tem lucro de R$ 500 milhões e distribui R$ 150 milhões, significa que o payout foi de 30%. Quanto maior esse percentual, maior será o potencial de pagamento de dividendos.

Como saber se o retorno com dividendos será alto ou baixo antes de investir?

Não existe um patamar considerado "ótimo" de dividend yield. A lógica sempre vai ser: quanto maior, melhor. Os analistas realizam vários cálculos e projeções para chegar àa uma estimativa de resultado líquido de uma companhia e, se a indicação for de lucro, podem também apontar qual o retorno esperado com proventos.

Dessa forma, uma das alternativas mais acessíveis ao investidor é conferir as carteiras de ações de dividendos recomendadas por bancos e corretoras. Além de um recorte de empresas com esse perfil, é possível comparar os yields projetados.

Vale destacar, no entanto, que se trata de uma estimativa, sujeita a variáveis que podem não se confirmar.

Na prática, como os dividendos são pagos?

A distribuição de dividendos não é obrigatória e só acontece quando a empresa tem lucro. Neste caso, as companhias abertas devem realizar o pagamento ao fim do resultado anual.

Não existe uma regra quanto à periodicidade. As distribuições podem ocorrer todos os meses ou a cada três, seis ou 12 meses, por exemplo.

Existe um prazo para investir e receber dividendos. Quando uma empresa anuncia dividendos, informa também a data de corte para quem irá receber. Exemplo: quem for acionista até o dia 10 de determinado mês estará dentro da distribuição, ou seja, esta é a data "com" direito. Já no dia seguinte (11, no caso), a ação se torna "ex" dividendos, ou seja, quem comprar nessa data não receberá aquele provento que foi anunciado - só no próximo pagamento.

Valor da ação muda. Sempre que uma companhia paga dividendos, o valor correspondente é descontado do preço da ação no pregão seguinte da B3. Exemplo: se a cotação na véspera do pagamento era de R$ 5,10 e o dividendo foi de R$ 0,10 por papel, no dia seguinte a ação começa valendo R$ 5,00 na Bolsa.

Quais os custos? Pago IR?

Existem as taxas de corretagem e custódia, cobradas pelas corretoras. Os valores mudam de uma instituição para outra e vale o investidor pesquisar antes de escolher.

A B3 também cobra tarifas de negociação. Tais valores são tabelados e estão disponíveis no site da Bolsa.

A regra de tributação depende do tipo de provento. Os dividendos recebidos pelo investidor pessoa física, atualmente, são isentos de Imposto de Renda (IR). Mas, se a empresa pagar os proventos na forma de "juros sobre capital", haverá cobrança de 15% de IR na fonte.

Quais são os riscos de investir em ações?

O investidor corre o risco de perder parte ou até mesmo todo o dinheiro aplicado. Além disso, em nenhuma hipótese, haverá garantia de rendimento futuro.

No dia a dia, os preços das ações variam com muita frequência. Podem ocorrer fortes oscilações, que podem fazer a ação se valorizar ou perder valor. Isso é chamado de risco de mercado.

O capital investido acompanha esses movimentos, podendo indicar lucro ou prejuízo. Isso só irá se concretizar se o ativo for vendido naquele momento. Segundo especialistas, o investidor precisa compreender essa dinâmica e refletir sobre seu grau de tolerância a essas flutuações, para evitar decisões precipitadas.

Existem também riscos ligados ao próprio negócio da companhia. Para distribuir dividendos, a empresa precisa ter lucro, e seus resultados dependem de uma série de fatores.

ArLawKa AungTun/iStock

O que são fundos imobiliários

Trata-se de um fundo de investimento cuja carteira está alocada em ativos imobiliários. Isso pode incluir desde imóveis prontos ou em construção até títulos de dívida desse setor. A lista engloba empreendimentos como edifícios comerciais, shoppings, galpões etc.

Conhecidos como FIIs, tais produtos têm cotas negociadas na B3. A compra e venda é igual a de uma ação. Os FIIs atraem principalmente investidores em busca da renda gerada pelo aluguel dos imóveis.

    Quais são os tipos de FIIs disponíveis no mercado

    Em linhas gerais, os fundos imobiliários se dividem em três grandes categorias:

    • Fundos de tijolo: investem acima de dois terços do patrimônio em empreendimentos imobiliários voltados para a locação ou arrendamento.
    • Fundos de papel: ao invés de imóveis propriamente ditos, concentram aplicações em títulos ligados a esse mercado, como letras de crédito imobiliário (LCIs), certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e outros, o que pode incluir cotas de outros FIIs.
    • Fundos híbridos: reúnem na carteira tanto investimentos diretos em imóveis quanto em papéis do segmento.

    Como os FIIs geram renda passiva?

    É como se você tivesse um imóvel alugado. Nos fundos de tijolo, essa renda vem exatamente do valor pago pelo inquilino. Já nos fundos de papel, o gestor do fundo ganha com os juros das dívidas pagos pelas empresas e repassa uma parte para os cotistas.

    O valor da distribuição depende do lucro do fundo.

    Os fundos distribuem todo o lucro? Qual a frequência de pagamentos?

    Por lei, os fundos imobiliários são obrigados a distribuir 95% do lucro apurado a cada semestre. Na prática, porém, a maioria dos gestores opta por pagamentos mensais.

    Quais os custos envolvidos? Como funciona a tributação?

    Para negociar cotas de FIIs, o investidor terá os mesmos custos envolvidos na compra e venda de ações.

    Os cotistas pagam também, anualmente, uma taxa de administração. Ela é expressa como um percentual do patrimônio líquido do fundo.

    Alguns produtos cobram ainda pela performance. Trata-se de um percentual extra que pode ser descontado apenas quando o FII apresenta um desempenho superior ao referencial estabelecido.

    O que levar em conta na hora de escolher um FII?

    Um dos principais pontos é analisar o histórico do fundo. "É importante saber se o produto apresenta consistência e boa previsibilidade de pagamentos", diz Marcos Baroni, analista-chefe de FIIs da Suno Research. É possível analisar também o dividend yield, como acontece com as ações, diz Gabriela, do Inter.

    Analistas declaram, no entanto, que o investidor não deve olhar somente esses indicadores. É preciso levar em conta também quantos imóveis o fundo tem em carteira, onde estão localizados, qual o nível de vacância de cada empreendimento, qual o prazo médio dos contratos e se existem episódios de inadimplência, por exemplo. Outros pontos que devem ser considerados na hora de escolher é a experiência do gestor do fundo e os custos envolvidos, que variam de um produto para outro.

    Tais informações estão disponíveis nos sites de relações com investidores dos FIIs. Lá é possível encontrar informações detalhadas dos imóveis alugados e comunicados sobre rendimentos ou fatos relevantes.

    Quais são os riscos de investir em FIIs?

    As cotas desses fundos são negociadas na Bolsa. Portanto, as oscilações constantes de preços podem trazer ganhos ou perdas de capital.

    Além disso, em alguns casos, o investidor pode demorar para conseguir vender suas cotas e ter o dinheiro na mão. Isso porque existem produtos muito negociados e outros nem tanto.

    Existem ainda riscos como desvalorização do imóvel, vacância, inadimplência do aluguel etc.

    Vergani_Fotografia/iStock

    O que é o Tesouro Direto e como funciona

    Trata-se de um programa que permite ao investidor emprestar dinheiro ao governo em troca de um rendimento. Na prática, ele compra diretamente um título público e recebe juros de acordo com o papel escolhido.

    As transações ocorrem, normalmente, via corretora. É possível também negociar os títulos a partir de um cadastro simplificado no site do Tesouro ().

    Quais títulos do Tesouro proporcionam renda passiva?

    O investidor encontra hoje quatro tipos de papéis à disposição. São o Tesouro Selic, Tesouro Prefixado, Tesouro IPCA e o Renda+.

    Dois deles, Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA +, têm títulos que pagam juros semestrais. A diferença é que o primeiro tem um rendimento já conhecido, enquanto a remuneração do segundo está atrelada à variação da inflação, mais uma taxa de juros.

    O Tesouro RendA+ foi lançado para ajudar na aposentadoria. O produto prevê um período de acumulação e outro de resgate do investimento em 240 parcelas mensais - ou seja, com recebimentos durante 20 anos.

    O que levar em conta na hora de escolher?

    O investidor deve avaliar se o prazo de vencimento do título atende a seus objetivos.

    O investidor também deve comparar a taxa de remuneração com outros investimentos de mesmo perfil de risco. É o que diz Erick Scott Hood, head de portfólios da Inter Invest.

    E quando escolher entre o Tesouro Prefixado ou IPCA? Em linhas gerais, recomenda-se o Tesouro Prefixado quando existe uma expectativa de queda da Selic, para travar um rendimento mais alto ao longo de determinado período.

    No caso do Tesouro IPCA+ e do Tesouro RendA+, a rentabilidade final depende do comportamento da inflação. Assim, o investimento mantêm o poder de compra no decorrer do tempo. "Normalmente, os títulos atrelados ao IPCA tendem a ser mais vantajosos no longo prazo em relação aos prefixados. No entanto, cada situação é específica e deve ser analisada com cautela", diz Vinicius Romano, analista de renda fixa da Suno.

    Quais os custos envolvidos? Como funciona a tributação?

    Os custos incluem taxas de custódia e de administração. A primeira é cobrada semestralmente pela B3 e corresponde, atualmente, a 0,20% ao ano sobre o valor aplicado. No caso do Tesouro RendA+, para quem mantiver o título até vencimento, existe o benefício de isenção dessa taxa nos pagamentos mensais futuros de até seis salários mínimos. Em caso de regaste antecipado, no entanto, a cobrança pode variar de 0,50% a 0,10%, dependendo do prazo.

    O Tesouro Selic também tem uma particularidade: a isenção da taxa de custódia é o limite de R$ 10 mil no estoque de aplicação. Com isso, a cobrança só passa a existir sobre o montante que exceder esse valor.

    Quanto à taxa de administração, devida para a corretora, os valores podem variar bastante.

    Os títulos estão sujeitos à cobrança de imposto sobre operações financeiras (IOF), se houver resgate em menos de 30 dias.

    Já o IR será descontado com base no tempo pelo qual o dinheiro ficou aplicado, seguindo uma alíquota regressiva. A tabela parte de 22,5%, para aplicações com prazo de até 180 dias; cai para 20%, no intervalo de 181 a 360 dias; e depois para 17,5%, no período de 361 dias a 720 dias. Após dois anos, o imposto passa ser de 15%.

    Quais são os riscos de investir em títulos públicos?

    O principal risco é o de mercado. Isso significa que os preços dos títulos podem oscilar, de acordo com as condições macroeconômicas ou expectativas dos investidores.

    Nesse ponto, vale lembrar que papéis com prazos mais longos tendem a ser mais arriscados. Normalmente, também têm uma remuneração melhor por conta disso. Você só terá prejuízo, no entanto, se vender o título antes do vencimento.

    Existe também o risco de o governo brasileiro não honrar os pagamentos, mas este é considerado hoje praticamente zero.

    Esse especial faz parte de um aulão sobre investimentos inteligentes para quem está começando.

    Em quatro lives, falamos sobre tudo o que você precisa saber para conseguir viver com uma renda dos seus investimentos e ter sempre um dinheiro pingando na sua conta. Falamos sobre ações que pagam dividendos, fundos imobiliários, títulos de renda fixa e fundos de investimentos.

    As três primeiras aulas já estão no ar. A primeira aula, sobre o que é renda passiva, pode ser assistida aqui. A segunda aula é sobre FIIs e ações e pode ser assistida na íntegra aqui. Já a terceira é sobre como usar a Renda Fixa para ganhar mais com seus investimentos e pode ser vista neste link.

    Topo