Dólar: comprar ou vender?

Com cotação abaixo dos R$ 5, vale investir agora? Pode dar lucro, mas sempre há riscos

Raphael Coraccini Colaboração para o UOL, em São Paulo

O dólar tem registrado quedas consideráveis nesses primeiros meses de 2022, com aumento de juros no Brasil (o que atrai investidores de fora e ajuda a reduzir a cotação).

Num cenário internacional incerto, que inclui a guerra da Rússia contra a Ucrânia, surgem dúvidas se é uma boa ideia investir na moeda americana. Pode dar lucro, mas sempre há riscos.

Especialistas ouvidos pelo UOL divergem sobre qual deve ser o balanço do dólar contra o real ao longo do ano. Enquanto algumas vozes afirmam que o cenário eleitoral brasileiro e fatores econômicos internos e externos devem dar novo ânimo à moeda, há quem defenda a possibilidade de ela seguir se desvalorizando.

No centro dessa questão, estão também os juros americanos, que podem tanto impulsionar a moeda quanto derrubá-la. Mas eles não são as únicas variáveis dessa equação.

Veja o que dizem os especialistas e saiba quais fatores devem ser observados pelos investidores para tomar a melhor decisão.

Câmbio como uma boa opção de compra

Com a queda inesperada do dólar, que no início de 2022 estava em R$ 5,57 e está abaixo dos R$ 5, o momento é de oportunidade para aquisição da moeda, diz Vanei Nagem, responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos. Para o especialista, o dólar, que parecia estabilizado, encontrou espaço para valorização.

O dólar teve uma grande queda para níveis que quase ninguém previa. Isso foi uma boa surpresa e deu oportunidade para arriscar.
Vanei Nagem, responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos

O desempenho fraco da economia brasileira, segundo Nagem, não justificaria uma valorização duradoura do real perante o dólar. "Num segundo momento, esse dólar tende a se recuperar um pouco'', disse o especialista, que indica comprar dólar neste momento de baixa, segurar para pegar a turbulência do meio do ano, que deve impulsionar a moeda, e vender em seguida.

Para Evandro Bertho, fundador da Nau Capital, sempre é uma boa opção manter parte do investimento em dólar, independentemente das oscilações, mas o investidor brasileiro tem mais motivos para tentar ganhos robustos comprando dólar neste momento por conta de fatores locais e externos.

Fatores que devem incidir sobre a variação do dólar

Um dos fatores que podem valorizar o dólar frente ao real é o aumento dos juros nos Estados Unidos, diz Bertho, mas ele ressalta que, olhar apenas para a subida dos juros pode não ser suficiente para entender o comportamento da moeda americana. Outro fator preponderante é a análise que o capital internacional fará sobre o cenário eleitoral brasileiro.

Analisando exclusivamente a taxa de juros dos EUA, é de se esperar um dólar valorizado e um real desvalorizado, mas essa não é a única variável na equação. Importante sublinhar isso: a relação de causalidade [entre juros americanos e câmbio] não é tão direta. A dinâmica tende a ser muito complexa.
Evandro Bertho, fundador da Nau Capital

Para os especialistas, também é de se esperar uma valorização do câmbio por causa das incertezas relacionadas às eleições nacionais. Isso deve acontecer a partir do meio do ano, segundo Nagem.

Quando começar uma diferenciação mais clara de candidatos, com certeza esse dólar vai beneficiar a ponta comprada [quem investiu na moeda]. Com as incertezas políticas, vão surgir especulações, e quem está comprado em dólar vai ter grandes chances de vender depois com bons preços.

Vanei Nagem, responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos

Desvalorização do dólar pode continuar

Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, vê um cenário mais incerto para o dólar. Ele diz que o que se viu nos últimos anos foi o investimento em dólar dando retornos positivos por causa da persistente crise brasileira e um crescimento acelerado dos Estados Unidos, mas esse quadro pode estar mudando, em especial, o de alta da economia americana.

O encarecimento do crédito nos Estados Unidos e a redução do consumo que devem suceder o aumento de juros poderiam desmobilizar o capital internacional, desconfiado da capacidade de o país sustentar a retomada econômica e o bom desempenho de suas empresas, especialmente as de tecnologia.

Num cenário de esfriamento da economia americana, o real poderia seguir se valorizando em relação ao dólar, diz o especialista.

Caso ganhe força a visão de que o Fed terá que apertar a política monetária muito mais do que o esperado nos mercados hoje, talvez tenhamos alguma reversão dos fluxos para países emergentes [como o Brasil].

Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset

E o euro, é uma boa opção?

Para Nagem, da Terra Investimentos, o euro manterá sua força como bom investimento e deve seguir a mesma lógica do dólar. Mesmo a guerra entre Rússia e Ucrânia não afeta de maneira relevante o euro em comparação a outras moedas, segundo Nagem, porque o conflito não é apenas local, mas global.

"A crise da Ucrânia envolve também países de todo o mundo, como os Estados Unidos, não só países da zona do euro. Isso mexe em todas as moedas."

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