Criptos: Fugir ou investir?

Cotações das criptomoedas desabam e deixam investidores com medo; o que fazer nessa hora?

Fernando Barbosa Colaboração para o UOL, em São Paulo

Após vencer o receio de entrar no mercado de criptoativos, os investidores agora enfrentam uma turbulência na cotação destas moedas virtuais. É o "inverno cripto", também conhecido como bear market — quando ocorre a desvalorização dos ativos por um período prolongado.

Em meio a este cenário, especialistas dão dicas para quem já investe nas criptomoedas e para quem busca entrar neste mercado.

Para se dar bem, a mudança no cenário macroeconômico global e a falta de liquidez nos mercados exigem alguns cuidados, sobretudo quando se trata da aplicação de capital em moedas que ainda buscam completar duas décadas de existência.

Por que os ativos caíram tanto?

Desde novembro do ano passado, o bitcoin acumula retração de 71%, passando de US$ 69 mil para US$ 19 mil. O Ethereum, segunda moeda digital mais procurada por investidores, recuou 76,3%, indo de US$ 4.620 para US$ 1.091.

A derrocada de projetos importantes, como da stablecoin Luna, da blockchain Terra, tem o efeito de aprofundar o pessimismo no setor.

Em um contexto mais abrangente, os analistas também relacionam os entraves aos aumentos dos preços e reajustes dos juros no mundo — ainda mais nos Estados Unidos, que tendem a influenciar para a retirada de capital de países emergentes, caso do Brasil.

Os criptoativos são mais voláteis. Em qualquer cenário recessivo, pandêmico ou de guerra, os preços tendem a se movimentar mais. As falhas e contaminação de alguns projetos cripto também desencadearam um sentimento pessimista"

Hugo Trombini, head de criptomoedas da Hurst Capital

Do lado macro, o Fed sobe os juros, encarecendo o custo do dinheiro e do crédito, sugando a liquidez dos mercados. Do lado micro, a implosão do protocolo Terra (Luna) reforçou a aversão ao risco já sentida pelo mercado"

Valter Rebelo, analista de criptoativos da Empiricus

Diante do 'inverno cripto', o que fazer?

Essa é uma dúvida recorrente em momentos de pressão e volatilidade. Para os especialistas, muitos investidores cometem um erro básico: vendem um ativo comprado por um preço elevado no primeiro sinal de ruído econômico. Mas no mercado de renda variável, a principal dica é ter paciência. A segunda, adotar uma estratégia visando o longo prazo.

Para quem tem dinheiro em caixa, a desvalorização acentuada nos últimos meses oferece oportunidades. Para o head de cripto da Levante Ideias de Investimentos, Pedro De Luca, o investidor de alta renda (com R$ 100 mil ou mais aplicados) que ainda não possui exposição em cripto pode começar com uma fatia pequena, e, de forma gradativa, aumentar os valores. Isso porque as criptos possuem alta volatilidade. Na dúvida, é melhor investir em bitcoin e ethereum — que são moedas de maior solidez se comparadas a outras criptos, afirma.

"Mas isso depende do perfil do investidor. Quem está começando precisa ter estômago e acreditar no mercado. Eu consigo aguentar uma queda de 40%. Mas para um investidor que está dando os primeiros passos, isso pode ser arriscado", diz De Luca.

O CTO da plataforma Parfin, Alex Buelau, indica inclusive aumentar os investimentos. "É claro que isso está dentro de um contexto de cenário econômico. Se a pessoa vai precisar do dinheiro esse ano, aí pode ser melhor vender", diz.

A decisão depende da perspectiva do investidor. Se ele acredita ou não nos criptoativos. Os fundamentos não mudaram nada. O bitcoin é o mesmo do que era há seis meses. Se nada mudou, ele não deveria exercer a perda e até acrescentar algo"

Alex Buelau, CTO da Parfin

Sempre indico ter até 5% [da carteira] em cripto, que é o máximo que um iniciante pode alocar. Mais do que isso, se torna arriscado. Então, é interessante posicionar uma parcela pequena do capital e aumentar esse montante de forma periódica, aos poucos.

Luiz Pedro Andrade, analista de criptoativos da casa de análises Nord Research

Os ativos estão bem desvalorizados, e são nesses momentos em que é possível comprar barato para vender mais caro e fazer um bom lucro para deixar a carteira em alta.

Raquel Vieira, especialista em criptomoedas da Top Gain

É possível esperar uma retomada?

Como todo o mercado de renda variável, os criptoativos funcionam de forma cíclica. Assim, após um momento de valorização expressiva, é comum — e até esperado — que as novas moedas sejam depreciadas. Dessa maneira, os analistas afirmam que haverá uma volta por cima.

A incerteza se deve sobre quando isso deve ocorrer de fato.

É que tal movimento depende da combinação de alguns fatores, a exemplo da estabilização das grandes economias. Como resultado, os bancos centrais podem baixar os juros, o que incentiva uma nova onda de liquidez no mercado.

Ao que tudo indica, essa volatilidade intensa deve continuar. Segundo a pesquisa MLIV Pulse, da Bloomberg, realizada com 950 investidores, 60% deles acreditam ser mais provável que o bitcoin possa bater os US$ 10 mil antes de voltar para os US$ 30 mil.

Mas o head de cripto da Levante, Pedro De Luca, acha isso improvável, considerando o comportamento das criptos nos últimos 12 anos. "Há muita resistência para atingir os US$ 10 mil. Eu ficaria muito surpreso", afirma.

O especialista em renda variável da Renova Invest, Nicola Farto, acredita em uma retomada, especialmente da bitcoin, mas não no curto ou médio prazo. Neste sentido, a tese é que a evolução de maturidade dos investidores seja determinante para a escolha.

Houve outras quedas, como em 2014 e 2017. É bem comum, esse processo se repete. Na medida em que a economia estiver mais estável e as coisas se recuperando, o investidor tende a querer especular outra vez com essa categoria de ativos.

Nicola Farto, especialista em renda variável da Renova Invest

O segmento [de criptos] possui ótimos projetos de tecnologia especiais descentralizados. Há milhares de empresas e desenvolvedores trabalhando para o crescimento tecnológico mundial. O tempo [de retomada das criptos] depende da recuperação econômica mundial.

Hugo Trombini, head de criptomoedas da Hurst Capital

Acho que o principal ponto é a estabilização da inflação e dos juros nos Estados Unidos. Isso vai aquecer o mercado acionário americano e, com ele, o de criptomoedas.

Luiz Pedro Andrade, analista de criptoativos da Nord Research

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